Álvaro Pacheco: «O Vizela está mais do que preparado para abraçar este desafio»

Equipa com mais pontos conquistados em todo o Campeonato de Portugal, melhor ataque e uma das melhores defesas. É este o registo do Vizela à data da interrupção forçada da prova devido a uma pandemia que viria a culminar no encerramento antecipado do campeonato e consequente promoção de Vizela e Arouca, por indicação da FPF.

Álvaro Pacheco 2019/2020

29 Jogos
22 Vitórias
3 Empates
4 Derrotas

77 Golos
24 Golos sofridos

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Com um plantel recheado de grandes valores, uma direção administrativa e desportiva bastante capacitada, um staff técnico apaixonado pelo clube, a subida, ainda que não fosse pela forma desejada - o treinador assume que o sonho passava pelo Jamor - foi celebrada no passado dia 2 de maio. Um «reconhecimento» por tudo aquilo que foi feito pelo Vizela nas 25 jornadas realizadas até à data da interrupção.

Em entrevista ao zerozero, o treinador do ano do Campeonato de Portugal, distinção atribuída pelo Campeonato de Portugal - Campeonato das Oportunidades, em parceria com o nosso site, Álvaro Pacheco conta-nos, entre outras coisas, a forma como está a ser preparado o regresso do Vizela aos profissionais e a estreia do próprio, enquanto técnico principal, nas ligas profissionais.

©Futebol Clube de Vizela

«Já sentimos saudades da competição»

zerozero (ZZ): Como tem passado estes tempos de pandemia?

Álvaro Pacheco (AP): Em casa, juntamente com a mulher e os dois filhos, seguindo à risca as diretrizes da Direção Geral de Saúde. Já sentimos saudades, principalmente do treino, do jogo, da competição, de toda essa envolvência que há nas equipas. Mas sabemos que, devido a este desafio que não estávamos à espera, temos de ser pacientes e esperar que existam condições para voltarmos novamente a fazer aquilo que mais gostamos.

ZZ: Durante esta fase acaba por receber duas ótimas noticias: subida de divisão e a renovação do contrato. Comecemos pela primeira. Como foi viver a subida do Vizela nestas condições? 

AP: Não era a forma como nós gostávamos. Quem está neste campeonato, e o Vizela não foge à regra, tinha o sonho de estar no Jamor e celebrar no Jamor a conquista da subida, mas, infelizmente, pelas incidências, isso não sendo possível, ficamos felizes também. É o reconhecimento daquilo que foi o trabalho do Vizela ao longo da época.

ZZ: E a renovação…

AP: Era algo que já vinha a ser falado há muitos meses. Ainda estávamos na primeira volta e o Vizela já tinha feito proposta para a minha renovação. Fomos conversando ao longo do tempo e foram acontecendo coisas que me deixaram orgulhoso. Vi sempre da parte do Vizela um interesse muito grande na minha continuidade. Fizeram questão de mostrar-me o projeto e aquilo que, tanto a administração como o investidor, têm como visão e quais os patamares que pretendem alcançar. E revejo-me em tudo. Portanto, a minha continuidade foi muito fácil de acertar.

ZZ: É certo que ninguém estava à espera desta paragem forçada que determinou a subida por indicação da Federação. É um tema que tem suscitado muita discussão. Qual a visão do Álvaro?

AP: Eu não estou por dentro de todos os dados. O que posso dizer é que ninguém estava à espera desta pandemia. Mesmo as pessoas que estão na linha da frente ainda estão a aprender a lidar e a combater esta pandemia. Foi uma decisão da Federação e não quero estar a opinar muito sobre isso. Percebo todas as opiniões, de todos os meus colegas, de todos os clubes, de todos os dirigentes, mas foi uma decisão da Federação em função de elementos e conhecimentos que nós não temos neste momento. Mas, como disse, não queria estar a falar muito sobre isso.

ZZ: Como tem sido preparar este salto para as ligas profissionais nestas condições?

AP: O Vizela está mais do que preparado para abraçar este desafio. Não só a estrutura, como nós enquanto equipa técnica. Sabemos que é um patamar acima, em que a exigência vai ser maior, mas o que tem sido o nosso crescimento mostra que estamos preparados para esse crescimento. São desafios que nós gostamos. Temos preparado isso da forma possível. Temos reunido diariamente com diretor geral e diretor desportivo para delinear o que vai ser o nosso percurso. Também já tive algumas reuniões com a administração e com o investidor. Está tudo alinhavado. Antes de partirmos para qualquer contratação, queremos falar com os nossos jogadores, com os que contamos e com aqueles que infelizmente não. Queremos que saibam por nós. Queremos um plantel que dê garantias para os desafios que temos pela frente. 

ZZ: Estamos a falar de um clube bastante profissional para a realidade em que se encontrava…

AP: É uma estrutura top. Já estive em bons clubes, de primeira divisão, casos de Boavista e Moreirense, e posso dizer que o Vizela não fica atrás, tendo em conta as realidades. É um clube todo ele profissionalizado e com um staff que dá garantias. O nosso diretor desportivo e diretor geral dão-nos todas as condições possíveis para fazermos aquilo que mais gostamos. É um clube que tem uma sensibilidade brutal. O mais importante nos clubes são os jogadores e eles no Vizela só têm de preocupar-se apenas em rendimento, em treinar. Depois existe um conjunto de pessoas à sua volta que lhes proporcionam tudo, mesmo para resolver qualquer problema deles ou da família. 

ZZ: …

AP: Temos um posto médico profissionalizado, disponível o dia todo. Treinamos de manhã, mas quem quiser ir de tarde ao clube temos sempre elementos para acompanhar o trabalho dos atletas no ginásio. Se tiverem algum problema em casa há uma pessoa que tem a função de resolver esses mesmos problemas. No fundo posso dizer que tenho a sorte de ter um staff que gosta e tem um amor muito grande ao Vizela e que se preocupa em ajudar o clube a crescer todos os dias.

©Vítor Parente / Kapta+

«O Vizela sabe o caminho que quer percorrer»

ZZ: Um clube que também conta com o apoio de uma forte massa adepta. Foi difícil não poder celebrar esta conquista com eles?

AP: Os adeptos fizeram parte muito importante do que foi esta conquista. São adeptos exigentes e que vivem muito a vida do clube. Sentimos a falta desse festejar… Quando se sobe o que fica na memória é a forma como nos envolvemos com a massa associativa. Não foi possível realizar este ano, mas sendo desta forma também ficámos felizes e festejámos em casa. No meu caso abraçado à minha mulher e aos meus filhos. 

ZZ: O que lhes pode prometer tendo em vista o próximo ano?

AP: Vamos manter a identidade. O Vizela é um clube que tem vindo a crescer e que sabe o caminho que quer percorrer. Claramente que vamos entrar num patamar profissional e temos a consciência de que na última vez que isso aconteceu o Vizela desceu no ano a seguir. Nesta fase temos de ter a noção de que o mais importante é a estabilidade, criar alicerces e ir percebendo ano após ano o que temos de melhorar, para a curto prazo estarmos na primeira divisão. Mas têm de ser dados passos seguros. Em suma, pensamos na manutenção, na estabilidade, no conhecimento e em perceber o que se tem de melhorar ano após ano.

ZZ: Esta será a primeira experiência do Álvaro numa liga profissional, enquanto treinador principal. Como está a ser assimilar isso também?

AP: É diferente. Já estive dois anos na segunda liga e quatro na primeira [como adjunto] e enriqueceu-me muito. Ao estarmos no topo cria-nos uma exigência muito grande. Agora é diferente, claro, pois é em função daquilo que são as minhas crenças e a minha ideia. Eu e a minha equipa técnica estamos a abraçar um desafio muito mais aliciante e gratificante e estamos preparados para ele.

ZZ: Vivem-se tempos de incerteza. Como é que o Álvaro perspetiva o futuro das competições em Portugal?

AP: É uma incógnita muito grande. Vai ser um ano de adaptação e superação, mas tenho a certeza que vamos voltar à normalidade. O povo português é um povo de luta, persistente e que não desiste. Vamos olhar para este desafio com uma vontade enorme de superá-lo. Agora, claro, também temos a consciência de que dependemos da criação de uma vacina.

ZZ: O Álvaro foi eleito o Treinador do Ano para o Campeonato de Portugal – Campeonato das Oportunidades, em parceria com o zerozero. Que comentário lhe merece?

AP: Fico muito feliz e agradeço. Não é um trabalho só meu, mas de toda uma equipa técnica, de todos os jogadores com quem tive a oportunidade de trabalhar e todo o staff que me permite ter as condições para ter sucesso. Fico ainda muito orgulhoso porque tem a ver com reconhecimento do nosso trabalho. Já o ano passado realizamos um trabalho muito bom no Fafe, em que levamos o Fafe à fase dos play-off’s, onde fomos eliminados, é verdade, mas onde fomos melhor nos dois jogos. E este ano pegámos no Vizela e fizemos 60 pontos, com melhor diferença de golos entre marcados e sofridos, sempre em primeiro até à data em que acabou. Isto tudo numa série muito competitiva com várias equipas com jogadores com muita qualidade. Além disso, também tivemos uma prestação muito boa na Taça de Portugal. Estou muito orgulhoso de todo esse reconhecimento.