A jovem de 18 anos que trocou o Seixal pela Florida e sonha com a WNBA

O sonho de vingar no basquetebol norte-americano foi, em tempos, uma realidade longínqua - poucos para além de Ticha Penicheiro o conseguiram atingir -, mas é agora uma realidade cada vez mais próxima. O caso de Neemias Queta é talvez o mais flagrante, mas há mais exemplos, nomeadamente no basquetebol feminino.

Sara Guerreiro é um dos casos mais recentes. A jovem extremo que representou o Quinta dos Lombos nas últimas três temporadas vai agora juntar-se às South Florida Bulls - vai ser colega de Beatriz Jordão -  numa oportunidade que, como contou em entrevista ao zerozero, surgiu no último Campeonato da Europa de Sub-20 feminino.

©Quinta dos Lombos

«Falei com ela [Beatriz Jordão], mas já tinha escolhido. Eu já seguia esta faculdade há algum tempo, tinham jogadoras que eu admirava, por isso, quando recebi o convite aceitei logo. Acho que a Beatriz me vai ajudar muito no meu primeiro ano de adaptação, ainda por cima é uma pessoa que me é próxima», acrescentou.

Atualmente a estudar Engenharia Mecânica, Sara conseguiu manter o curso na Universidade de South Florida, algo que, garante, foi essencial para cumprir o objetivo que teve desde sempre, jogar nos Estado Unidos: «Eu sempre quis ir, mas também sempre quis ter um bom curso e se tivesse uma proposta para ir para uma faculdade que não me permitisse ter uma boa licenciatura, eu não iria».

«A WNBA é um sonho»

©USF W. Basketball

Fã dos Chicago Bulls por causa de Michael Jordan, como não podia deixar de ser, e com LeBron James como ídolo, a jovem de apenas 18 anos confessou que atingir a WNBA é um sonho, mas garantiu que também «há muito bom basquete na Europa», antes de contar como correu a visita à Universidade de South Florida, em fevereiro.

«É um sonho, mas eu tenho noção que é muito difícil. Se houver essa oportunidade, eu gostava muito de ir, mas se não conseguir, também gostava muito de jogar na EuroLiga Feminina», confessou, acrescentado ainda: «Gostava de jogar na Rússia, em Espanha, em Itália, Turquia… há muito bom basquete na Europa».

«A visita foi muito boa, acho que me acalmou um bocado, porque toda a gente quer ir para os Estado Unidos, mas quando chega à hora… é preciso coragem. Vamos para um sítio que não conhecemos, com pessoas que não conhecemos, do outro lado do oceano… Mas quando cheguei lá fui muito bem recebida e senti que o meu lugar era ali e que tinha de ir para lá», contou.

«O nosso basquetebol tem evoluído bastante ao longo do tempo, até porque há uns anos não era toda a gente que ia para os Estados Unidos. Agora cada vez há mais propostas e essa janela está aberta para outras pessoas, mas também temos de ter em atenção às ofertas que não são assim tão boas. Os jogadores que têm ido para lá são de qualidade e podem representar muito bem o nosso país lá fora, tanto rapazes como raparigas», acrescentou ainda.

«Foi a decisão correta, mas deixa um sabor amargo»

O Quinta dos Lombos encontrava-se na segunda posição da Liga Feminina aquando da paragem, depois de ter vencido a Taça de Portugal. O campeonato foi agora cancelado, decisão que, embora difícil, Sara reconhece ser a mais correta, antes de fazer um balanço daquilo que foi a evolução da Liga nos últimos anos.

«Para ser honesta, fiquei um bocado chateada porque não soube quando é que ia ser o meu último jogo pelo Quinta dos Lombos. Mas a decisão que foi tomada foi a que tinha de ser tomada, não havia outra hipótese. Regressar ia ser injusto porque há equipas que não têm todas as jogadoras, por isso acho que a decisão foi a correta, mas deixa um sabor amargo porque ainda tínhamos muito para dar», admitiu.

«Nos últimos tempos, do que eu analisei e dos três anos que passei na Liga, há clubes - principalmente os Lombos - que investem na formação e dão minutos às jogadoras mais novas. Dantes não acontecia tanto porque havia mais dinheiro para pagar a jogadoras estrangeiras e profissionais», explicou.

Também a seleção nacional foi tema de conversa, mais precisamente os dois Europeus em que Sara participou no último verão. A jovem extremo esteve presente, não só no Europeu de Sub-18 (Divisão B), como também no Europeu de Sub-20 (Divisão A), uma experiência que descreveu como «incrível».

«Foi incrível! Eu estava no Europeu de Sub-18 e o meu treinador veio falar comigo a perguntar se eu queria ir, porque tinha surgido interesse e para falar com os meus pais, mas eu  disse logo que queria ir porque não queria perder a oportunidade! Aliás, se eu não tivesse ido, não tinha conseguido esta bolsa para a Florida», começou por referir.

«Mas adorei mesmo! São uma equipa diferente do normal, são unidas, conhecem-se muito bem e o espírito… há ali jogadoras com que toda a gente devia jogar pelo menos uma vez, como a Jordão, a Carvalheira, a Luana… E mesmo o treinador, o Eugénio Rodrigues, foi uma experiência incrível e aprendi muito!», finalizou.

©FIBA