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«Algumas pessoas acreditam que futebol é questão de vida ou morte. Fico muito decepcionado com essa atitude. Eu posso assegurar que futebol é muito, muito mais importante». Só um frasista louco por futebol, cujo nome ficou cravado nos pergaminhos do desporto-rei, compreendia realmente o significado. Mas Bill Shankly, o Senhor Liverpool, estava longe de imaginar as voltas da vida.
qPrecisamos que nos dês autorização para que estes dois homens, que vão ficar aqui no Paraguai, em Assunção, matarem esse gordo do Chilavert
Julio Ferro, braço direito de Pablo Escobar, a Faustino Asprilla
Corria o ano 1997. A 2 de abril, Paraguai e Colômbia defrontavam-se na jornada 10 do apuramento para o Mundial 1998 e o duelo, embora não decisivo, ganha precisamente esses contornos por todos os aspetos intrínsecos a um duelo sul-americano. Sangue quente, acima de tudo.
Que o digam duas personagens daquelas. José Luis Chilavert de um lado, Faustino Asprilla do outro. Mais sul-americano junto seria impossível, correto? Um jogo que por si só já deixa os nervos à flor da pele…
Foi perto fim, na fase derradeira da partida, que o verniz estalou. De uma confusão dentro de campo, a situação ganhou proporções gigantescas e, para todos os efeitos, inesperadas.
Asprilla, Chilavert. Temperamentos radicais. Pegaram-se no relvado, receberam ordem de expulsão e essa ordem levou tudo para o lado mais… físico. O mítico guarda-redes paraguaio dirigiu-se ao banco onde o colombiano estava sentado e disferiu-lhe um soco que instalou o caos. Jogadores, treinadores, dirigentes, adeptos. Toda a moldura humana presente no Defensores del Chaco, em Assunção, entrou em conflito e deu-se início a uma espécie de motim.
Até aqui nada de anormal, até porque a prova viva e está à distância de um clique, com as câmeras a captarem o momento na íntegra. Mas Asprilla sabia de algo que manteve no segredo dos deuses durante mais de 20 anos...
Asprilla, um futebolista peculiar @Getty / ROBERTO SCHMIDT
Em 2019, uma cadeia de televisão colombiana, aproveitando o 50º aniversário de El Tino, emitiu um documentário sobre a sua carreirae o próprio recordou os momentos posteriores ao desentendimento com Chilavert. Lembra-se de Andrés Escobar, futebolista assassinado três anos antes (1994) por ter marcado um autogolo frente aos Estados Unidos numa derrota (1x2) que acabou por ditar a eliminação cafetera no Mundial '94? O destino poderia ter sido o mesmo, ainda que por motivos diferentes. Esta história também não aconteceu com o famoso narcotraficante Pablo Escobar - morreu em 1993 -, mas sim com um dos seus sicários.
No final do encontro, Asprilla recebeu uma chamada de Julio Fierro, um dos braços direito do antigo capo, requisitando a sua presença e a do companheiro Victor Hugo Aristizábal, num hotel.
«Quando cheguei ao hotel, Julio Fierro estava com mais 10 pessoas, todas embriagadas, e disse-me: 'Precisamos que dês autorização para estes dois homens, que vão ficar aqui no Paraguai, em Assunção, matarem esse gordo do Chilavert'», revelou, recordando a sua reação.
«Mas vocês estão loucos!? Ainda vão acabar com o futebol colombiano. Não pode ser. Não, não, não. No futebol, o que acontece em campo, fica no campo. Chilavert deu-me um murro, discutimos, expulsaram-nos e terminou aí», referiu Asprilla, que reforçou a vontade dos mesmos em executar a tarefa: «Eles diziam 'Não patrão, dê-nos a ordem'».
2 de abril de 1997. O dia em que Faustino Asprilla salvou a vida de José Luis Chilavert das amarras do narcotráfico.