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    Tracy McGrady: Uma carreira de «ses»

    Texto por Igor Gonçalves
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    Poucos jogadores na história do basquetebol foram tão abençoados com atributos técnicos e físicos como Tracy McGrady. Um marcador de pontos, dotado de uma capacidade física e de uma altura que lhe permitiam marcar sempre que queria. Ainda assim, quando falamos da carreira deste extremo, falamos de lesões, derrotas cedo nos playoff e muito azar...

    Acaba por ser estranho falar de McGrady e «vendê-lo» como um dos melhores jogadores da sua geração. Isto porque, friamente, se olharmos para a sua carreira vemos que não há títulos, não há MVP’s e nem há uma verdadeira história de brilho nos playoff. Por isso, os anos de jogador de T-Mac são um dos maiores «what if» da história da NBA. E se ele tivesse tido paciência em Toronto? E se ele e Yao Ming não tivessem tantas lesões em Houston? Etc etc

    Mas vamos começar pelo início. Nascido a 24 de maio de 1979, em Bartow, no estado da Florida, Tracy Lamar McGrady Jr. foi criado por uma mãe solteira e pela avó. O basquetebol começou cedo na vida de T-Mac. Seguindo os amigos e idolatrando Michael Jordan, o jovem pegou na bola cedo e no liceu transformou-se numa estrela. Passou os dois primeiros anos em  Auburndale, onde dividia o tempo entre o basquetebol e o beisebol, mas foi no verão de 1996 que tudo mudou para este já talentoso jogador.

    Apesar de já ter terminado o segundo ano de secundário com médias de 23,1 pontos, 12,2 ressaltos e 4 assistências, a fama de T-Mac era reduzida. Isso mudou quando participou na  Adidas ABCD Camp, um campo de treino para jovens patrocinado pela marca desportiva. McGrady foi tão impressionante que passou do número 175 do ranking de jovens jogadores nos EUA para 1º! Depois disso mudou de liceu e, no Mount Zion Christian Academy, na Carolina do Norte, fez uma época com médias de 27.5 pontos, 8.7 ressaltos, 7.7 assistências, 2.8 roubos e 2 blocos por jogo. Impressionou tudo e todos e, apesar de várias propostas de universidades de topo, decidiu saltar diretamente do liceu para a NBA, seguindo o que tinham feito Kevin Garnett, em 1995, e Kobe Bryant, em 1996.

    Saltar do liceu para a NBA

    Escolhido no draft de 1997 @Getty /
    McGrady declarou-se ao draft de 1997 e foi escolhido na 3ª posição pelos Toronto Raptors, uma equipa que ia entrar apenas na 3ª época de NBA e que, estando no Canadá, obrigou o jovem a mudar de país.

    Misturando essa realidade diferente, com o facto de ter passado grande parte da temporada no banco de suplentes, T-Mac passou por dificuldades no primeiro ano, admitindo mesmo ter entrado em depressão. Foi também nessa altura que o jogador formou uma amizade improvável com Kobe Bryant, outro jogador que passou do secundário para a NBA e que passou a primeira temporada no banco.

    Com a ajuda de Kobe, com o melhoramento do seu regime de treinos e com uma mudança de treinador nos Raptors, o jovem McGrady acabou por ter mais minutos na reta final da temporada.

    Dois anos de highlights com o primo, Vince Carter

    Em 97/98, os Raptors escolheram o primo de McGrady no draft, Vince Carter, e, em apenas dois anos, os dois conseguiram levar os Raptors à primeira participação nos playoff, sendo uma das duplas mais espetaculares da Liga. Em 99/00, já sendo titular ao lado do primo, T-Mac terminou com médias 15.4 pontos, 6.3 ressaltos, 3.3 assistências e 1.9 blocos por jogo. Os canadianos acabaram por perder na primeira ronda, contra os Knicks, mas tudo fazia prever que a dupla Carter/McGrady fosse criar muitos problemas à NBA nos anos futuros.

    Formou uma dupla espetacular com o primo Vince Carter @Getty /

    Estranhamente, essa dupla foi desfeita logo nesse verão de 2000. T-Mac era free agent e não aceitou ficar em Toronto, aceitando uma proposta dos Orlando Magic. Curiosamente, e apesar da relação de proximidade, o extremo não estava feliz com o tratamento secundário que estava a ter nos Raptors, que claramente acreditavam mais no talento de Vince Carter.

    Mudança e afirmação como estrela em Orlando

    T-Mac foi então jogar para os Magic, uma equipa que tinha também conseguido garantir o all-star Grant Hill, dos Detroit Pistons, e tinha a primeira escolha do draft desse ano, Mike Miller. O impacto de McGrady foi imediato, mas a época ficou marcada pelo agravamento de um problema num tornozelo de Grant Hill. O extremo ex-Pistons fez apenas quatro jogos e T-Mac teve de carregar a equipa rumo aos playoff. Com médias de 26.8 pontos por jogo, recebeu o prémio de Most Improved Player, foi All-Star pela primeira vez e tornou-se uma das grandes estrelas da NBA. Apesar de terem sido eliminados logo na primeira ronda, perante os Bucks, os Magic eram vistos como uma equipa a ter em atenção, especialmente quando Grant Hill estivesse totalmente recuperado.

    Nos Orlando Magic tornou-se uma das estrelas da Liga @Getty /
    Infelizmente para a equipa do estado da Florida e para T-Mac, essa total recuperação de Hill nunca aconteceu e, nos quatros anos que os dois passaram juntos, apenas estiveram ao mesmo tempo a jogar em 44 jogos. Nesses quatro anos em Orlando, McGrady transformou-se num dos melhores marcadores de pontos e num candidato a MVP na NBA. Venceu mesmo o título de melhor marcador da competição dois anos seguidos, em 03 e 04, mas, apesar desse domínio individual, a equipa dos Magic foi eliminada três vezes seguidas na 1ª ronda dos playoff e, em 03/04, nem conseguiu estar presente na segunda fase da temporada.

    Cansado de esperar pela recuperação de Grant Hill e desconte com o rumo da equipa, T-Mac exigiu ser trocado de Orlando e essa troca chegou no verão de 2004.

    Houston: 13 pontos em 35 segundos e o calvário

    Numa troca de sete jogadores, o extremo acabou nos Houston Rockets, juntando-se a uma equipa que tinha outro all-star, o poste chinês Yao Ming. A primeira época em Houston começou mal, mudou para brilhante e acabou horrível.

    Dupla com Yao Ming ficou marcada pelas lesões de ambos @Getty /
    A equipa arrancou mal na fase regular, mas acabou por conseguir melhorar depois do jogo all-star, conseguindo apuramento para os playoff como a 3ª melhor equipa do Oeste. McGrady teve ainda o seu momento mais marcante da carreira nessa época. Num jogo da fase regular contra os San Antonio Spurs, a 9 de dezembro de 2004, T-Mac marcou 13 pontos nos últimos 35 segundos de um jogo que parecia perdido. Esses 13 pontos, compostos por  um triplo, uma jogada de quatro pontos, novo triplo e mais um triplo no último segundo do jogo, deram a vitória à equipa dos Rockets, naquele que ainda é um dos momentos mais incríveis da história da NBA.

    Os Rockets chegaram os playoff de 2005 como uma das equipas a ter em conta na corrida para o título, mas tudo correu mal na 1ª ronda. Contra os Dallas Mavericks e já depois de ter feito o lançamento da vitória no jogo 2, T-Mac cedeu à pressão e teve um jogo verdadeiramente terrível na 7ª e decisiva partida. Houston perdeu por 40 pontos e o extremo foi apontado como o principal culpado.

    Foi depois dessa eliminação que começaram a aparecer o problemas físicos. A temporada 05/06 foi marcada por problemas nas costas e os Rockets nem chegaram os playoff. Na seguinte, os problemas continuaram e McGrady estava mesmo a perder protagonismo para o outro all-star da equipa, Yao Ming. A equipa chegou aos playoff e até era vista como favorita na 1ª ronda, contra os Jazz. T-Mac voltou a falhar e os Rockets voltaram a perder na 1ª ronda, tal como viria a acontecer na temporada seguinte (07/08).

    Duelos com o amigo Kobe eram intensos @Getty /

    Ainda assim, a temporada de 07/08 acabou por trazer mais um ponto alto da carreira de Tracy McGrady. Entre 29 de janeiro e 18 de março de 2008, os Rockets venceram 22 partidas seguidas, mesmo sem Yao Ming, que também começa a ter graves problemas físicos. Essa série de triunfos era na altura a 2ª maior da NBA, apenas atrás dos 33 jogos dos LA Lakers em 71/72. Entretanto, os Miami Heat (12/13), com 27, e os Golden State Warriors (14/15 e 15/16), com 28 vitórias seguidas, já ultrapassaram a série dos Rockets.

    Épocas perdidas e saída de Houston

    O verão de 2008 trouxe uma operação a um joelho e a época 08/09 trouxe imensos problemas físicos. Joelho, tornozelo e costas atiraram o extremo para fora da temporada. Curiosamente, mesmo sem T-Mac, mas com Yao Ming e Ron Artest, os Rockets até conseguiram ultrapassar a 1ª ronda dos playoff, levando os eventuais campeões LA Lakers a sete jogos na 2ª ronda.

    T-Mac voltou apenas à competição em dezembro de 2009, mas fez apenas seis jogos até os Rockets terem decidido tirá-lo da rotação, começando a explorar cenários de troca. Em fevereiro de 2010 foi trocado para os  Knicks, onde fez 24 jogos na reta final da temporada 09/10. Em 10/11 assinou pelos Detroit Pistons e em 11/12 jogou ao serviço dos Hawks. Nesses últimos dois anos e meio nunca fez mais de 10 pontos por jogo em média, tendo mesmo passado para um papel de suplente.

    Estrela na China e o tímido regresso, antes do adeus

    Muitos já davam a temporada 11/12 como a última da carreira de T-Mac, mas o extremo ainda viria a assinar pelos chineses Qingdao DoubleStar Eagles. Aproveitando a popularidade que tinha naquele país, devido a ter estado ao lado de Yao Ming nos Rockets, T-Mac viveu aquilo que o próprio assumiu como sendo «um ano inesquecível na China». A sua equipa terminou no último lugar, mas o extremo brilhou a grande altura com mais de 25 pontos por jogo, numa liga que ainda era maioritariamente amadora.

    últimos minutos de NBA vieram ao serviço dos Spurs @Getty /
    No final da Liga chinesa, T-Mac ainda teve uma nova passagem de meses pela NBA, curiosamente tendo sido a primeira vez que o jogador participou em jogos de playoff para lá da 1ª ronda. Foi contratado pelos San Antonio Spurs para participar apenas na segunda fase da temporada, tendo um papel muito reduzido na equipa do Texas que, porém, chegou à final da NBA.

    Em agosto de 2013, na ESPN, T-Mac anunciou a sua retirada do basquetebol. O último jogo em  que participou foi o jogo 3 das finais da NBA, contra os Heat, a 11 de junho de 2013. Jogou apenas seis minutos e não marcou qualquer ponto.

    Mais tarde, analistas e médicos chegaram à conclusão que os imensos problemas físicos de T-Mac se deveram às más rotinas de treino e às más rotinas de movimentação e das ações que tinha no campo. Isso, juntamente com o aumento drástico de massa muscular que teve no verão de 2004 (quando trocou Orlando por Houston), fizeram com que o corpo do jogador cedesse à pressão a que estava a ser sujeito e quebrasse em tantos sítios distintos.

    Em 2017 entrou no Hall of Fame @Getty /

    Mesmo sem ter passado uma única vez da 1ª ronda (tirando a última passagem pelos Spurs onde jogou residualmente), McGrady é visto como um dos grandes jogadores da sua geração. Kobe Bryant disse mesmo, já depois de se retirar, que T-Mac foi o seu adversário mais complicado. Uma opinião que é partilhada por grande parte dos contemporâneos do extremo. Foi escolhido para o Hall of Fame em 2017 e é nesta altura comentador da NBA na ESPN.

    É um dos grandes casos de uma carreira que não bate certa com o talento. Um dos grandes «ses». Se tivesse ficado em Toronto, podia ter feito uma das maiores duplas de sempre com Vince Carter. Se Grant Hill não tivesse atravessado um calvário de lesões em Orlando, teriam formado uma dupla terrível de travar e se tivesse estado saudável em Houston, teria feito um big-3 de respeito com Yao Ming e Ron Artest. Numa carreira de «ses», podemos ter certeza de uma coisa: Para marcar pontos, não havia muito melhor que T-Mac.

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