*com Daniel Sousa
O Jovens Talentos viaja este mês até ao Norte, mais concretamente à quadra do Pavilhão Desportivo da Universidade do Minho. Ali mora a equipa do SC Braga/AAUM e, por consequência, um jovem guarda-redes que está a dar os primeiros passos na elite do futsal português: Leandro Costa.
Numa altura em que o mundo atravessa a pandemia da COVID-19, o jovem de 20 anos abriu o baú e partilhou com o zerozero as histórias de uma carreira que cedo atingiu o topo, com a chegada ao primeiro escalão.
A história de Leandro Costa começa em Coimbra, de onde é natural. De resto, foi sempre naquela cidade que atuou – ao serviço da ADC Vila Verde e, mais tarde, do CS São João - até decidir mudar-se para a cidade minhota esta temporada. Tudo começou... por influência de um familiar.
«Sempre joguei futsal. Tinha um clube aqui perto de casa e um familiar meu decidiu experimentar. Como me era muito próximo, então fomos os dois e fizemos uns treinos. Gostámos daquilo, o clube também gostou de nós e ficámos. Se não me falha a memória, estávamos naquela fase de transição entre os traquinas e os benjamins. Depois começámos nos benjamins e foi assim até agora, até chegar a senior», recordou.
O sonho de uma profissão ligada à bola está presente na mente de muitos jovens, que habitualmente preferem o futebol. Leandro ainda chegou a experimentar, mas rapidamente percebeu que o seu amor residia na quadra e não no relvado. «Todos pensamos que queremos ser jogadores de futebol. Houve aquela fase de querer experimentar, ali entre os 15 e os 16 anos, mas fui a um treino e não gostei. Não senti a mesma dinâmica e o mesmo gosto em comparação com o futsal», explicou.
A história que liga Leandro Costa às balizas é caricata, ao ponto de quase se poder dizer que o atual guardião do SC Braga/AAUM só o é... por culpa do treinador. «Quando cheguei ao meu clube, um dos treinadores perguntou se queria ir para a baliza ou para a frente. Eu perguntei-lhe qual era a posição dele e ele disse que era guarda-redes. Então, naquela de iniciativa, disse-lhe “olha, se tu és guarda-redes, eu também vou”. Faz falta [um guarda-redes], vamos embora. E a partir daí ficou.»
Existe um certo mito urbano em relação aos guarda-redes. É frequente ouvir-se dizer que um bom guarda-redes tem que ter uma certa dose de “maluqueira”. Leandro concordou e reforçou que é uma posição onde é preciso ter coragem. «É uma posição um pouco do oito ao 80. [O guarda-redes] Tanto pode ser aquele que dá uma vitória, que segura um jogo, como aquele que pode complicar as coisas num momento menos feliz. É uma posição que exige uma tomada de decisão muito corajosa e impulsiva, porque somos apenas nós. Atrás de nós não há mais ninguém, não há um colega que possa corrigir o nosso erro. Todos podemos errar, mas o guarda-redes é aquele que está mais propenso ao erro ou a quem vão cobrar mais. Não é uma posição fácil, mas quem a ocupa fá-lo porque gosta», disse.
A vida do guarda-redes de 20 anos, internacional pelas camadas jovens de Portugal, construiu-se toda em Coimbra até ao início da temporada, quando assinou pelo SC Braga/AAUM. O que leva um jovem de 20 anos a “voar para fora do ninho” é a vontade de querer ser melhor e de não deixar fechar uma porta que talvez nunca mais se voltasse a abrir.
«O SC Braga/AAUM é um clube de primeira liga, é um clube com história no futsal português e quando surgiu a oportunidade eu pensei, falei com muitos colegas experientes, com muitos companheiros e pensei sempre que talvez o comboio só vá passar uma vez. Esta oportunidade que o SC Braga/AAUM me deu é uma demonstração que as coisas que fiz na formação, as coisas que fiz ao longo dos anos foram algo de bom. Sempre trabalhei para chegar ao mais alto patamar do futsal português. Ir para Braga deu-me a oportunidade de trabalhar mais e melhor, de conviver com pessoas com grande experiência, de poder entrar num ritmo e num patamar em que talvez muitos gostassem de estar. Foi com muita satisfação e alegria que recebi e aceitei o convite», afirmou o jovem.
Na hora de olhar para o que tem sido a sua carreira, Leandro Costa admitiu que está satisfeito com o patamar atingido. Mas, aos 20 anos, o guarda-redes minhoto ainda tem muito para alcançar. Os objetivos incluem a seleção A, mas para Leandro nada se faz sem humildade.
«Estou muito satisfeito [com o patamar atingido]. É algo que nunca tinha pensado em alcançar. Trabalhava muito, lutava muito, fazia esforços diários para poder treinar e conciliar os estudos. Chegar até aqui foi uma recompensa enorme por todos os anos de trabalho e dedicação. Acho que um dos passos muito importantes e que temos de ter sempre em mente é a humildade. Se continuarmos a trabalhar, a preocuparmo-nos em dar mais, a receber todas as dicas dos mais velhos e as usarmos nos treinos e até na nossa vida pessoal, podemos ser melhores e, passo a passo, podemos definir alguns objetivos», rematou.
Então e ídolos? Leandro foi incapaz de mencionar nomes, porque disse ter aprendido com todos aqueles com quem se cruzou. «Não posso dizer que é sequer só um. São muitos, tento olhar para vários guarda-redes e às vezes até comparar. Claro que cada um tem o seu estilo e a sua maneira de ser. Já partilhei a baliza com muitos guarda-redes e todos eles me ensinaram algo e me ajudaram a ser o que sou hoje. É muito difícil escolher um ídolo destacado. Todos os meus companheiros, sejam mais novos ou mais velhos, me ajudaram a ser melhor», atirou.
A vida do conimbricense não se resume à quadra. Fora dela, Leandro Costa é mais um dos muitos alunos da Universidade de Coimbra. A licenciar-se em Ciências do Desporto, o guarda-redes admitiu que é um desafio conciliar tudo, mas a ajuda do clube tem sido fundamental.
«É preciso muito esforço e dedicação. São muitas horas de viagem, já que costumo ir uma a duas vezes por semana às aulas. Não é fácil, mas o clube tem ajudado e apoiado bastante, o que é fundamental. É algo de que dificilmente vou prescindir porque, afinal de contas, o futsal é um gosto e é uma coisa que todos adoramos mas que tem um fim. E depois desse fim, há que pensar naquilo que podemos fazer e eu gostava de poder fazer aquilo que gosto e para que estudei», explicou.
Nem tudo é um mar de rosas na vida de um atleta e os maus momentos também já bateram à porta do guarda-redes. É nessas alturas que entra em ação o papel da família e, neste caso em concreto, de um grupo de jovens que Leandro treinava, cuja «sinceridade caraterística foi uma base de apoio e de força».
A família é o maior suporte para esses momentos, mas também os amigos de longa data continuam a acompanhar o desenrolar da carreira de Leandro de perto. «[A família] São as primeiras pessoas que dão uma palavra de apoio, que falam, que estão presentes. Nesses momentos têm um papel importantíssimo, além de nós próprios, que temos de confiar em nós e acreditar no que fazemos. Felizmente muitos amigos também me apoiam e acompanham, mesmo eu agora estando longe. São amigos que jogaram comigo 7, 8, 9 anos. Muitos deles são também uma parte fundamental», concluiu.
Sempre com os pés assentes na terra e a trabalhar diariamente em prol da vontade de querer subir todos os degraus da escadaria, Leandro Costa é um nome que promete ser falado ao longo dos próximos anos quando o tema envolver as balizas das quadras por esse país fora.