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    Rubrica 'O meu futebol em quarentena': Roménia

    David Caiado: «Se há uma paragem de um mês tem de haver uma preparação de um mês»

    2020/04/01 18:00
    E0

    O futebol parou por tudo mundo devido ao surto de coronavírus e por todo o mundo há portugueses à espera de ultrapassar esta situação para voltarem a fazer o que mais gostam: jogar futebol.

    David Caiado
    2019/2020
    15 Jogos  1123 Minutos
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    Neste tempo em que o exigido é «ficar em casa», o zerozero foi conversar com vários portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo para perceber como tem sido este período sem futebol e como têm acompanhado toda esta situação, lá fora e em Portugal. Sempre à distância, claro.

    Da vizinha Espanha à longíqua Indonésia, o mote passa por ficar em casa e ler os relatos da rubrica: «O meu futebol em quarentena».

    • David Caiado, jogador do Hermannstadt, Roménia

    zerozero (ZZ): Como tens ocupado o teu dia durante a quarentena?

    David Caiado (DC): Tento manter a rotina que tinha quando estava a competir, até para preparar um eventual regresso aos treinos. É tomar o pequeno almoço, ler, estudar bastante, estou a tirar uma pós-gradução em direção desportiva, treinar e a partir da tarde já tenho aqui um tempo para ver uma série ou ver um filme. Ao fim da tarde faço mais um treino, janto e depois estou tranquilo à noite.

    ZZ: Que indicações te deu o clube?

    DC: A competição parou há três semanas. As indicações que me deram foi fim de semana livre - treinámos sexta-feira e tínhamos o fim de semana livre - porque estavam à espera das medidas tomadas aqui na Roménia. A Liga decidiu que não haveria competição no fim de semana seguinte e a partir daí suspenderam os treinos. Foi elaborado um plano de treino da parte do preparador físico. Não temos tido acompanhamento individual, mas tenho estado em contacto com o meu treinador, que já me ligou duas vezes a perguntar, não tanto pelo treino, mas pela parte mental, para me manter focado para aquilo que poderá vir eventualmente. É difícil manter a parte física. Treinar em casa é diferente de treinar no campo e aqui o que ficou estipulado foi que em caso de haver liga voltaríamos a treinar a 16 de abril, mas havia sempre um mês de pré-época. Eles têm esse cuidado. Se há uma paragem de um mês tem de haver uma preparação de um mês, até para não estarmos a correr risco de haver competição, estarmos a jogar de três em três dias, mas não estamos preparados para a carga. É diferente, eles têm esse cuidado. É complicado por causa das datas, têm de encaixar datas e ver como é que isto pode acontecer, é completamente diferente. A parte do foco e da motivação também vai ser complicada. Acho que os clubes que forem mais profissionais e que tiverem maior capacidade de adaptação tanto mental como física vão estar em vantagem.

    ZZ: Como é ficar tanto tempo em casa?

    DC: Somos bastante caseiros. Estou com a minha mulher, somos bastante caseiros. A diferença é não haver uma rotina de treino. Nós gostamos bastante de caminhar, essa parte fica mais limitada nesta altura. É mais isso que temos sentido falta. É normal que havendo bom tempo podemos ir a uma esplanada, ir dar uma volta, jantar, mas essa parte agora também não existe. É tentar ver esta etapa como uma altura para ir crescendo noutras áreas de interesse, ter mais conversas entre nós que se calhar não teríamos se estivessemos a competir.

    ZZ: Que conselhos deixas (livros, filmes, séries...)?

    DC: Eu estou a ler «Os sete hábitos de pessoas extremamente eficazes». A nível de séries vimos o The English Game e o Sunderland Till I Die. Não sou muito de ver séries, mas vejo bastantes reportagens sobre clubes, gestão, comunicação, que é uma área que gosto bastante, em alemão e francês, que são línguas com que cresci, que domino e que quero manter o hábito de falar.

    ZZ: Tens mantido contacto com os teus colegas?

    DC: Nós, portugueses aqui, temos um grupo no whatsapp. Eu, Yazalde, [Afonso] Taira, Cristiano [Figueiredo], Emanuel [Novo] e temos o Tiago Almeida e mais dois brasileiros. Temos o nosso grupo, vamos trocando opiniões. Temos um colega nosso que tem uma namorada romena e já está há algum tempo aqui, por isso é mais fácil para ele saber a informação do que se passa e vai transmitindo o que se passa, mas tem havido pouca informação. Isto tem sido dia a dia e não há muito a falar.

    ZZ: Como tens acompanhado a situação em Portugal?

    DC:Tenho acompanhado com bastante tristeza a situação de Portugal. Tanto Portugal como Espanha, que a minha mulher é espanhola. Tentámos, nesta altura, evitar ler as notícias de manhã porque era algo que criava mágoa por estarmos longe nesta fase. Se durante o ano já temos saudades de casa, nesta altura ainda mais porque é uma altura difícil que todos estão a passar, tanto Espanha como Portugal, no nosso caso o coração fica mais apertado em muitos momentos e temos decidido, pelo menos de manhã, ter mais energia positiva e abstaímo-nos das notícias e mais à tarde informamo-nos e estamos com atenção. É com medo do presente e do futuro próximo de muitas famílias, também.

    ZZ: Como está a situação na Roménia?

    DC: Aqui foi decretado mais tarde, estamos como Portugal há cinco dias [n.d.r.nove no momento da publicação], um crescimento gradual das pessoas infetadas. Acho que o número vai aumentar. Estamos num país onde há muitos emigrantes a viver em Itália e Espanha, agora cortaram a circulação aérea, mas veio muita gente para cá. Sabe-se que muitos podem ter vindo de lá infetados ou de quarentena, mas vêm para o país e não avisam ninguém, como se nada fosse. Imagino que nos próximos dias haverá um aumento dos infetados, espero que mortos menos, mas creio que é inevitável. Portugal apercebeu-se cedo, mas também tivemos a vantagem de Itália, que nem assim levamos de uma forma tão séria, mas depois quando aconteceu em Espanha, que é mesmo ao lado, já tivemos aquele cuidado de ficar alerta. Há casos de pessoas, no início, que vão para a praia ou como aconteceu na Póvoa de Varzim, mas isso são exceções, não é a regra. Acredito que os portugueses têm cumprido bastante bem o que lhes foi pedido.

    ZZ: Como contas regressar à competição? Tem sido fácil manter a forma?

    DC: Acredito que vai ser difícil haver competição este ano, a não ser que haja um ajuste de calendário. É muito difícil decidir nesta altura, o regresso vai ser sempre prejudicado por termos estado tanto tempo parados e isso sente-se a nível físico e a nível mental, por não estarmos a treinar, não temos aquele foco e motivação, muito menos se tivermos estádios vazios. Estou a ver que nesta altura interessa que o campeonato acabe apenas pelo ponto de vista financeiro, se não fosse por isso tenho a certeza que a UEFA já tinha decidido a suspensão de todos os campeonatos e começar a organizar as coisas para que na próxima época tudo comece de forma normal. Por exemplo, no Campeonato de Portugal não há hipótese. Em Portugal, por esta altura, eventualmente podes competir em maio, nas melhores hipóteses, mas parece impossível competir em maio, mas imagina uma equipa do Campeonato Portugal - excluindo Vizela, Real SC, etc -, vamos pela média. Não podes pedir para estarem um mês e meio parados em casa e passado uma semana começarem a jogar. Não vão ter adaptação, não vão ter tempo e jogar domingo e quarta no Campeonato de Portugal é impensável, estamos a falar de equipas que não são profissionais, são pessoas que trabalham, que só podem jogar à noite e para mim vai ser o próximo campeonato a parar - infelizmente, porque houve equipas que investiram muito dinheiro que em caso de anularem o campeonato vão ter bastantes dificuldades. És investidor, investes numa época e vai tudo por água abaixo, como fazes na próxima época? Não vai haver dinheiro, vai ser muito complicado e há clubes que podem desaparecer, a não ser que haja uma ajuda real da Federação Portuguesa de Futebol. O calendário deles já é crítico, por isso até acho que há aqui uma oportunidade para mudar as coisas, dentro do mal é uma oportunidade para repensar o campeonato, se vale a pena subirem as quatro equipas que estão em primeiro subirem. Também tens equipas da distrital que querem subir. Tem muita coisa que pode ser alterada, é uma decisão difícil, não gostaria de estar na situação da Federação para tomar essas decisões porque vai haver prejudicados e beneficiados, é sempre assim

    ZZ: Quando isto acabar, qual é a primeira coisa que queres fazer?

    DC: Chegar a Portugal, juntar-me à minha família, abraçá-los e poder desfrutar de uma bela tarde numa esplanada cheia de gente à beira-mar. É o que idealizo, vivo perto da Figueira, queria chegar a casa, desfrutar dessa tarde e ver as esplanadas cheias. Aquilo que estamos habituados. Ver as pessoas contentes, mesmo numa fase difícil.

    • A mensagem de David Caiado:

    Portugal
    David Caiado
    NomeDavid Caiado Dias
    Nascimento/Idade1987-05-02(36 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    Dupla Nacionalidade
    Luxemburgo
    Luxemburgo
    PosiçãoMédio (Médio Centro) / Avançado (Extremo Direito)

    Fotografias(28)

    Liga 2 SABSEG: SL Benfica B x FC Penafiel
    Allianz Cup: Penafiel x Sporting

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