O futebol parou por tudo mundo devido ao surto de coronavírus e por todo o mundo há portugueses à espera de ultrapassar esta situação para voltarem a fazer o que mais gostam: jogar futebol.
Neste tempo em que o exigido é «ficar em casa», o zerozero foi conversar com vários portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo para perceber como tem sido este período sem futebol e como têm acompanhado toda esta situação, lá fora e em Portugal. Sempre à distância, claro.
Da vizinha Espanha à longíqua Indonésia, o mote passa por ficar em casa e ler os relatos da rubrica: «O meu futebol em quarentena».
zerozero (ZZ): Como tens ocupado o teu dia durante a quarentena?
Pedro Silva (PS): Felizmente na Dinamarca, ao contrário de Portugal, estamos em quarentena, mas não estamos em estado de emergência. Podemos sair à rua e ainda há alguns restaurantes abertos. Não há problemas. Tenho a sorte de ter aqui um campo sintético com boa qualidade ao pé de minha casa e todos os dias vou lá e faço qualquer coisa. Tendo em conta as circunstâncias no mundo, até estamos aqui com bastante liberdade.
ZZ: Que indicações te deu o clube?
PS: Foi-nos dado um plano, mas ainda não sabemos muito bem quando voltam os treinos. O que nos foi comunicado foi que temos de estar preparados todos os dias. Ainda ontem enviaram um e-mail a dizer que a federação dinamarquesa está a pensar regressar com os campeonatos em junho e os treinos lá para meio de maio.
ZZ: Como é ficar em casa tanto tempo?
PS: Muito sinceramente, quando não estamos no nosso país e não sabemos muito bem o que fazer e o que não fazer, principalmente na zona onde estou… Não estou em Copenhaga, estou numa vila pequenina. Não há muito para fazer. A minha vida antes não era muito diferente. Era um bocadinho aborrecida, agora a única coisa que muda é estar bastante aborrecida. [risos]
ZZ: Que conselhos deixas (livros, filmes, séries...)?
PS: Nunca fui grande adepto de filmes ou séries. Gosto de passar o tempo a ver futebol e aquilo que faço. Indo de encontro à forma que penso, aproveitem este tempo de paragem para algo útil, até para explorar e arranjar novas formas de melhorar e explorar a vossa profissão. Se virmos as coisas dessa maneira, os dias até passam mais rápido.
ZZ: Tens mantido contacto com os teus colegas e o que conversam?
PS: Temos um grupo de whatsapp. Ao pé de onde vivo estão três jogadores da equipa A. São três colegas que vão comigo para o campo e estou mais ou menos a par das coisas.
ZZ: Como tens acompanhado a situação em Portugal?
PS: Eu tenho televisão portuguesa, e de vez em quando aproveito para acompanhar a situação quando estou a jantar ou almoçar. Mas torna-se um bocadinho repetitivo… Neste momento, as coisas não vão melhorar, pelo contrário. Estar a ver todos os dias e as coisas a piorarem uma pessoa também dá em maluco. Em relação à minha família, falamos regularmente por chamada. Eu e os meus pais e a minha irmã. Temos uma boa ligação, o facto de estar aqui e eles estarem em Portugal também não é um problema tão grande. Eles sabem que isto é a minha vida. Tendo em conta este novo vírus fico aliviado pelos meus estarem bem.
ZZ: Como está a situação na Dinamarca?
PS: Não vou conseguir comunicar da melhor maneira a situação aqui na Dinamarca porque não tenho notícias. Conheço melhor os três colegas que falei há pouco e nenhum deles é dinamarquês. Eles estão há mais tempo e do que lhes é transmitido é que todos os dias os números de casos crescem, mas deduzo que não seja tão grave. Também já se notam alguns cuidados por parte das pessoas, com luvas e assim… As pessoas olham umas para as outras desconfiadas, mas é normal…
ZZ: Como contas regressar à competição? Tem sido fácil manter a forma?
PS: Muito sinceramente, sou extremamente perfeccionista e disciplinado. Gosto de fazer as coisas como deve ser. Em adição ao plano que foi dado pelo clube, fiz também um plano meu à parte, para ir para o campo e assegurar que estou a fazer bem as coisas. Estou a tentar capitalizar ao máximo esta situação. Não ver como uma coisa má, mas como uma coisa positiva. Está a dar tempo para trabalhar algumas coisas que não tinha se estivesse sempre a jogar. As rotinas são diferentes. Estando em equipa é melhor, mas a minha situação é extraordinária porque posso treinar aqui com dois colegas de equipa. É verdade que perco um bocadinho, mas não me estou a sentir mal.
ZZ: Quando isto acabar, qual é a primeira coisa que queres fazer?
PS: A única coisa que não faço agora é ir para o clube treinar, as outras coisas ainda consigo fazer. Portanto, a primeira coisa que quero fazer é isso.