A sua cidade natal é Mirandela, mas foi bem cedo para Espanha. Edu Sousa nunca jogou, de forma federada, em Portugal e por não ter o estatuto de formado-localmente não é considerado como atleta português se rumar ao nosso futsal.
Atualmente a brilhar a grande altura no Valdepeñas, surpresa do campeonato espanhol, Edu explica que não quer dar um passo maior que a perna e tem os olhos postos no Mundial da Lituânia, agendado para setembro.
Nesta segunda parte da entrevista que concedeu ao zerozero, o internacional português falou ainda das suas características específicas enquanto guarda-redes e analisou as grandes diferenças entre as Ligas de Portugal e Espanha. Sem esquecer Ricardinho...
ZZ: Assinaste por dois anos... Vais cumprir o segundo ano ou o salto para um gigante já está programado?
ES: Em princípio vou cumprir aqui o segundo ano. Estou muito bem, tenho confiança do mister, dos colegas, dos adeptos... Sinto-me confortável e acho que devo ficar com o Valdepeñas. E também não quero que esse salto seja assim tão rápido. Quero ganhar experiência, fazer mais nome e depois as coisas lá vão indo. Ainda sou jovem e as coisas vão chegar. Tive algumas ofertas depois da Copa, mas tenho mais um ano de contrato e é complicado. Para o ano logo se vê... Por agora prefiro ficar no Valdepeñas.
ZZ: Algum dos convites foi de Portugal?
ES: Não, não. Em Portugal já se sabe como é... Tem duas/três equipas um bocado mais fortes e acho que era a única maneira de ir para Portugal, nessas equipas. Não é que não gostasse de ir para outras, porque sempre disse que gostava de jogar em Portugal. Só que a diferença entre as Ligas é muito grande.
ZZ: Corrige-me se estiver enganado: se vieres para Portugal contas como estrangeiro, certo?
ES: Pois [suspiro]... Conto como não formado localmente porque nunca joguei em Portugal. E isso não ajuda muito a ir para Portugal. Sou português, jogo na Seleção... Não percebo o sentido de não contar como português em Portugal. Essa regra devia mudar, ser mais flexível... Ser português, jogar na Seleção e chegar a Portugal e contar como estrangeiro... Não acho muito correto.
ZZ: Viremos o disco para a seleção... Pegaste de estaca na convocatória e vem aí o Mundial. Esperas ser titular?
ES: Tenho de trabalhar para isso. Vamos fazer uma pré-época com a seleção e vou tentar ganhar o lugar com quem for. Quem ganhar o lugar, joga. E o outro vai ter de apoiar do banco. Lá somos todos família e temos de ajudar uns aos outros.
ZZ: Na Seleção encontraste um núcleo duro forte, com poucas mexidas em relação ao Europeu. É essa a grande valia?
ES: Sem dúvida. É um núcleo que se conhece na perfeição e isso vê-se nos treinos, com a cumplicidade uns com os outros. Isso ajuda muito. O ambiente familiar da seleção, com o mister, com os médicos, com todos... Já jogam juntos há muito tempo, nem precisam de olhar para saber onde o outro está. Ajuda muito numa equipa e é normal que não mexam tanto nas convocatórias. Esse núcleo ganhou o Europeu, não é fácil. E tem de se apostar nele.
ZZ: Como foi a tua adaptação nesse núcleo duro?
ES: No início não sabia como ia ser. Ninguém me conhecia, só o Ricardinho por jogar contra ele em Espanha. Mas fui acolhido muito bem e acho que sou mais um do grupo. E estou muito feliz por isso.
ZZ: Na Ronda de Elite da Póvoa de Varzim, jogaste os últimos minutos contra a Itália. Que achaste dessa atitude do selecionador?
ES: Foi uma coisa que não esperava, mas gostei muito porque diz muito do mister. Ele diz muito 'estamos aqui todos, vamos jogar todos'. E isso foi uma alegria para mim, por jogar com a minha família a ver e com a Quina ao peito... foi um orgulho imenso. E ainda por cima a conseguir o apuramento para o Mundial.
ZZ: Que aspirações podemos ter na Lituânia? Título mundial?
ES: Sem dúvida. Agora já olham de outra forma para nós porque ganhámos o Europeu, mas somos uma seleção forte, com muita qualidade. E vamos chegar longe, de certeza. Com a vontade de trazer o caneco para casa. Em primeiro lugar é chegar à final e depois é 50/50.
ZZ: Ainda sentes que muita gente não conhece o teu nome em Portugal por nunca teres jogado cá?
ES: Sim, sinto. Mas é normal, eu percebo. Muita gente que vê só futsal português, olha para a convocatória e vê 'Edu - Valdepeñas'. Ninguém conhece... Mas aos poucos vão conhecendo e há que dar tempo para conhecer. Em Espanha, depois da Copa, começou-se muito a falar de mim, mas não tinha noção de que em Portugal também e isso é bom.
ZZ: Há muita gente que te considera um típico guarda-redes espanhol, pelas tuas características. É dessa forma que te caracterizas?
ES: Sei que as características são muito diferentes. No português olhamos sempre para um Benedito, André Sousa, Bebé, guarda-redes mais baixos, mais rápidos, mais gatos. Aqui em Espanha é ao contrário. Gostam de um guarda-redes mais alto, mais bem posicionado, que faça manchas... Eu acho que também tenho essas características de espanhol porque toda a minha formação foi aqui e ensinaram-me a cultura daqui.
ZZ: Quais são os aspetos que podes melhorar?
ES: Ui, ainda faltam muitos! Tudo o que o meu treinador de guarda-redes me diz, em relação à rapidez da mancha, de estar mais fora da baliza, usar os pés... Treino para isso e vou melhorando aos poucos.
ZZ: Por falar em pés... É algo que usas pouco. É uma característica a melhorar?
ES: É uma coisa que pratico muito nos treinos, mas nos jogos... não queremos falhar. E na Liga Espanhola é muito mais difícil jogar com os pés do que na portuguesa. Aí deixam jogar logo de 5x4 + GR; aqui, quando o guarda-redes tem a bola nos pés já estão a subir linhas e é mais difícil. Aqui o futsal é mais tático e rápido, mais pressionante... Mas é uma característica que estou a tentar ter e o treinador já disse que qualquer dia podemos jogar assim.
ZZ: Qual é o guarda-redes que te enche as medidas?
ES: Sempre vi muitos vídeos do Benedito, gostava muito dele, mas o meu ídolo sempre foi o Paco Sedano, do Barcelona. É incrível! Parecia que defendia as bolas sem esforço, estava sempre sereno... Era incrível.
ZZ: És um português a jogar em Espanha: melhor do que ninguém consegues dizer-nos as grandes diferenças dos campeonatos.
ES: A Liga Espanhola é a melhor do mundo, sem dúvida. Os melhores jogadores estão aqui. É uma liga mais rápida, mais tática, com mais qualidade e as equipas estão cada vez melhores. Acho que isso faz com que o campeonato continue a subir. E as claques também ajudam muito porque hoje em dia todos os clubes têm uma grande claque. Seja em fora ou em casa tens sempre duas, três mil pessoas a ver... Os pavilhões estão quase sempre cheios. E acho que é isso que falta em Portugal. Num dérbi enche, mas outras vezes estão 100 ou 200 pessoas... Se calhar um bocado mais de publicidade, a Federação ajudar as equipas menos fortes em termos económicos, as empresas entrarem nos clubes e fazerem publicidade. Isso tem de mudar. Na Copa de España estava cheio, com 10 mil pessoas!
ZZ: Achas que a Liga Espanhola vai sentir o impacto da saída do Ricardinho?
ES: Sem dúvida que vai notar muito. O Ricardinho está aqui há muito tempo, fez e continua a fazer a diferença, porque para mim é o melhor jogador do mundo, e acho que a Liga Espanhola vai sentir. A Liga Francesa vai aproveitar muito do que é o Ricardinho. Não há nenhum jogador a fazer o que ele faz, a ter a publicidade que ele tem. O Ricardinho é o futsal. Toda a gente sabe quem ele é. E em Espanha, sempre que ele vai fora, é muito aplaudido porque sabem que é a última vez dele lá.