A expressão é muito mais «até à próxima» do que «adeus», num sentido literal, e surge porque o FC Porto voltará a estar nas lides europeias num futuro próximo, até num nível acima desta Liga Europa... mas a campanha deste ano chegou mesmo ao fim, com uma adequada derrota em casa por 1x3 a juntar ao desaire em Leverkusen.
Os dragões vinham já da derrota por 2x1 em solo alemão, voltaram a sofrer cedo um golo de Lucas Alario e não descobriram a cura para a dor de cabeça frente aos farmacêuticos, que ampliariam por Demirbay e Havertz no segundo tempo. Houve apenas golo de honra por Marega.
Eliminação contra o Krasnodar no caminho para a Champions, uma fase de grupos da Liga Europa de altos e baixos - com o FC Porto a arrancar na última o primeiro lugar do grupo - e uma eliminatória em que o Leverkusen deu lições de eficácia, vencendo no agregado por 5x2: assim se pode resumir o trajeto europeu do FC Porto nesta temporada, muito longe das melhores épocas azuis-e-brancas em provas continentais.
O FC Porto entrou com atitude, personalizado, a ganhar a maioria das bolas e a subir no terreno com convicção. O problema era que o sistema de três centrais dos alemães, com Jonathan Tah a juntar-se ao setor, demonstrava-se eficaz e os dragões não descobriam o caminho para o golo. À esquerda, Luis Díaz encontrava um excelente Lars Bender. À direita, Corona, como lateral, iniciava bem os ataques em parceria com um Otávio de olhos postos nos espaços lá à frente, mas Marega e Zé Luís não surgiam em situações que poderiam ter sido de golo com melhor posicionamento. O cabo-verdiano, novidade no onze, estava particularmente ausente nas dinâmicas da equipa e o público do Dragão não foi meigo com ele.
Ainda assim, foi demasiado duro o castigo aplicado pelo Leverkusen nessa fase do jogo. Íamos ainda nos dez minutos, era o FC Porto que segurava as rédeas, mas num lance construído do meio-campo ofensivo para o flanco esquerdo houve um golo que demonstrou a simplicidade eficaz de que a equipa alemã era capaz. Demirbay driblou Uribe e permitiu a Havertz descobrir Alario, num espaço que não estava a ser ocupado por Corona porque o mexicano estava próximo dos centrais. A abordagem defensiva não foi eficaz e Alario teve tempo e espaço para bater Marchesín num lance que foi invalidado num primeiro momento e acabou por valer com intervenção do VAR.
Tornava-se ainda mais importante visar a baliza adversária, mas não surgiam soluções, tanto que só aos 40 minutos surgiu uma situação clara de golo para os portistas, com Otávio a cabecear ao lado depois de um cruzamento de Corona. Até então faltavam linhas de passe, dinâmicas coletivas de ataque, havendo também momentos de alguma agressividade excessiva na recuperação de bola - três amarelos na primeira parte, em lances muito longe da baliza de Marchesín. Conceição viu-se ainda obrigado a tirar de campo Luis Díaz lá pela meia hora, com o colombiano a queixar-se de problemas físicos e a ser rendido por Nakajima, que passava a assumir o lado esquerdo do meio-campo no habitual 4x4x2 com variantes de 4x2x3x1.
Quiçá inspirado na eficácia do sistema germânico, Conceição também trouxe para a segunda parte um sistema de três centrais, surpreendendo com a troca de Uribe por Pepe, regressado após lesão. Foi pior a emenda que o soneto e voltaram a ver-se falhas que tínhamos visto quando o FC Porto levou esta disposição tática até Glasgow, ainda na fase de grupos.
Não foi preciso muito tempo nesse segundo tempo para a eliminatória ficar praticamente resolvida. Aos 50', jogada iniciada pelo centro por Tapsoba - um velho conhecido que deixou saudades em Portugal -, Diaby ainda a permitir a defesa a Marchesín mas depois, com a defesa portista a tentar limpar no meio da desorganização, Demirbay a desferir um remate que o guardião argentino não soube segurar. Mais sete minutos, mais um castigo, novamente com Marchesín a negar o golo a Diaby mas a não conseguir responder à recarga, que desta vez foi do já célebre Kai Havertz, autor de dois golos na eliminatória (como Lucas Alario). Já estava tudo complicado, passava a ser necessário um milagre.
Não houve milagre, só houve um ou outro momento de algum ânimo para um Dragão que nesta fase já ia perdendo muitos espectadores, que se dirigiam às portas de saída ainda com meia hora de jogo pela frente. Para recompensar quem ficou nos respetivos lugares houve um cabeceamento à ponta-de-lança de Marega, na resposta a um cruzamento de Otávio, uma bela jogada individual do inconformado Corona e uma bola para o então isolado Marega, que não a conseguiu segurar. Em sentido oposto, houve um amarelo para um exaltado Sérgio Conceição (a valer suspensão europeia) e um vermelho para o suplente utilizado Soares.
Até houve coração... faltou tudo o resto, que o Leverkusen teve na quantidade necessária para seguir para os oitavos-de-final da Liga Europa.
Nem foi preciso tirar grandes coelhos da cartola, porque a dinâmica coletiva dos homens mais adiantados do ataque dos alemães (mesmo sem o lesionado Volland) foi mortífera para a defesa portista. Também a solidez tática de um Leverkusen com uma defesa ora a três ora a cinco merece ser assinalada.
A perder ao intervalo, Sérgio Conceição decidiu juntar Pepe a Marcano e Mbemba e os dragões foram tão castigados como tinham sido frente ao Rangers fora de casa, com esta estratégia. Os segundo e terceiro golos do Leverkusen mostraram uma linha defesa sem coesão e permissiva.