O adversário do Benfica nos 16-avos de final da Liga Europa não é propriamente um desconhecido. O Shakhtar Donetsk, tal como os encarnados, caiu na fase de grupos da Liga dos Campeões e tem agora a oportunidade de conquistar uma prova teoricamente mais acessível - os ucranianos venceram a última edição da antiga Taça UEFA, em 2008/09.
Ainda sem um século de história, o Shakhtar assumiu o domínio do campeonato ucraniano nos duas últimas décadas, com 14 campeonatos conquistados desde o virar do milénio, mesmo com todos os conflitos extra-futebol que obrigaram o clube a deixar Donetsk, em 2014.
A guerra entre as forças militares da Ucrânia e grupos separatistas pró-russos foram o mote para a mudança drástica, mas necessária, tudo em prol da segurança de todos aqueles que representam o Shakhtar. Um duro golpe para os adeptos, que viram o clube mudar-se para Kiev, cidade do principal rival, jogando desde 2017 em Kharkiv, a mais de 300 km de Donetsk.
O Shakhtar tem sido o viveiro de algumas promessas brasileiras, entretanto transferidas para clubes europeus de nomeada (Willian, Fernandinho, Fred, Douglas Costa, entre outros) e o espaço onde outros encontraram estabilidade (Ismaily, Taison e Marlos, este último já com cidadania e internacional ucraniano).
Um modelo de negócio perfeitamente associado à equipa ucraniana que tem dado bons resultados nos últimos anos.
Luís Castro dispõe o seu tabuleiro numa estrutura de 4x1x4x1, com variações para o 4x2x3x1 e 4x3x3, que permite à sua equipa jogar aquele futebol de posse, associativo e paciente que tanto gosta, sem qualquer tipo de anarquia, tal e qual como vimos as suas equipas jogar em Portugal, com as devidas diferenças.
O Shakhtar gosta de assumir o risco e de instalar-se no meio campo contrário, onde é muito perigoso pelo corredor central, privilegiando as triangulações até encontrar o momento certo para fazer chegar a bola a zonas de finalização, onde tem jogadores de enorme qualidade para esse desequilíbrio.
Esse tal risco, perfeitamente assumido por esta forma arrojada de estar no futebol, cria algumas dificuldades do ponto de vista defensivo, sobretudo evidentes na Europa, onde os adversários colocam outros tipos de desafios ao Shakhtar. E encontrar esse ponto de equilíbrio, entre provas internas e europeias, não tem sido fácil.
A equipa de Luís Castro sofreu mais golos em seis jogos na fase de grupos da Liga dos Campeões do que em todas as 18 jornadas da liga ucraniana realizadas até ao momento. Isso diz muito da competitividade que existe a nível interno.
Sendo uma equipa declaradamente ofensiva, é nos momentos de transição defensiva que o Shakhtar pode sentir mais dificuldades frente ao Benfica, ainda mais se os encarnados explorarem o jogo exterior e apostarem nos cruzamentos. Essa é uma das fragilidades do guarda-redes Pyatov, que já mostrou ser capaz do melhor e do pior.
Há vários jogadores que jogam juntos há vários anos e todos estão perfeitamente identificados com o estilo e ideal de jogo do Shakhtar. Isso permite um nível de jogo de posse com critério, muito ao primeiro toque, e um conhecimento do posicionamento dos colegas acima da média, que permite aqueles rasgos muito difíceis de travar entrelinhas.
Sendo uma equipa manifestamente de cariz ofensivo, o Shakhtar concede algum espaço ao adversário quando é obrigado a recuar no terreno, sobretudo pelo lado esquerdo, onde tem mais dificuldades. A equipa de Luís Castro apresenta dificuldades com o jogo exterior contrário, não sendo forte no controlo de cruzamentos.
Numa equipa com forte ligação ao mercado brasileiro, há vários nomes que já fazem parte da mobília do Shakhtar, entre eles Taison. O atacante de 32 anos chegou a meio da temporada 2012/13 e é hoje uma das grandes bandeiras da equipa de Luís Castro, tanto por aquilo que representa dentro como fora de campo. É um jogador rápido e muito tecnicista.
Aos 58 anos, Luís Castro assumiu o primeiro desafio no estrangeiro ao serviço do Shakhtar Donetsk, com a difícil missão de substituir Paulo Fonseca no tricampeão ucraniano. Após vários anos na coordenação de formação do FC Porto e na equipa B dos dragões, Luís Castro mudou-se para o Rio Ave, passando depois por Chaves e Vitória SC, onde sempre se destacou pela sua ideia de futebol positivo.