Eslovénia 2004. Terceiro Europeu seguido para Portugal e para Carlos Matos, convidado do zerozero para mais uma rubrica histórica. A Seleção ficaria alojada na capital Ljubljana, uma das quatro cidades-sede deste certame. O contexto português? «O pico de uma geração» sem «sorte nenhuma no sorteio».
«Estávamos no pico da geração de Carlos Resende, Carlos Ferreira, Eduardo Filipe e vínhamos de uma série de apuramentos consecutivos para Mundiais e Europeus. Eliminámos a República Checa na qualificação para o Euro'2004, onde não tivemos sorte nenhuma no sorteio», começa por nos contextualizar Carlos Matos, uma das referências portuguesas presentes nesse Euro'2004.
Dinamarca, Espanha e Croácia. Grupo de loucos, grupo de tubarões, grupo de pouca sorte para Portugal. Os dois primeiros jogos, contra dinamarqueses [36x32] e espanhóis [33x27] comprovaram isso mesmo.
«Estivemos a um nível muito alto e conseguimos fazer um jogo quase perfeito. Anulámos os pontos dos croatas, nomeadamente o motor e desequilibrador do jogo da Croácia: o Ivano Balic, uma referência para mim. Recordo-me que conseguimos defendê-lo tão bem que ele acabou por jogar apenas 20/25 minutos, fez uma série de asneiras e acabou por sair. (...) Foi um jogo bonito de se jogar. Estavam milhares de croatas malucos nas bancadas, que no final nos aplaudiram, reconhecendo o nosso bom andebol», recordou a lenda viva do ABC.
Portugal ficava, assim, fora do Europeu ainda na primeira fase de grupos, mas o desenrolar na competição viria a confirmar a análise de Carlos Matos aos adversários lusos: Croácia e Dinamarca chegaram às meias-finais daquele que viria a ser o primeiro triunfo alemão num Campeonato da Europa.
O Europeu não correu, de todo, bem a Portugal. Ainda assim, a Seleção das Quinas apresentou um andebol positivo, muito pela gestão feita pelo selecionador García Cuesta para ter «poder de remate na primeira linha» com uma base grande vinda do FC Porto.
«Era o meu segundo Europeu, depois do Euro'2002 e era o único central de raiz da equipa. Depois, o García Cuesta alternava-me (e muito bem) com Resende e Eduardo Filipe a central porque precisávamos de poder de remate na primeira linha. Tal como agora, o FC Porto era a base da Seleção e o García Cuesta, tal como o Paulo Pereira, aproveitava isso. Na altura, o Branislav Pokrajac também utilizava um sistema defensivo pouco usual em 4x2, replicado na Seleção, comigo e com o Ricardo Costa a defendermos em zonas mais avançadas (...)», analisando, partindo para a análise individual.
«O Europeu correu-me bem, apesar de não ter corrido bem a nível coletivo, mas sabíamos que era muito complicado. No entanto, dada a sequência de presenças em fases finais que conseguimos, as outras equipas começaram a olhar para nós de outra forma», admitiu.
«Estávamos no hotel quando soubemos a notícia. Quem é desportista com certeza que pensa muito nisto e ficámos a pensar que também nos poderia acontecer amanhã», lembrou o central antes de partir para a inevitável comparação entre as seleções de 2004 e de 2020.
«Éramos uma equipa muito unida, que remava para o mesmo lado, e, daquilo que conheço, temos esse ponto em comum com a atual Seleção. Notam-se também muitas semelhanças no espírito de equipa, na capacidade de superação e de dar o máximo. (...) As grandes diferenças estão na capacidade física, esta é mais forte e rápida (o 7x6 mudou a forma de abordar o jogo). No entanto, tínhamos alguns jogadores que estavam entre os melhores do mundo na sua posição: Carlos Resende, Ricardo Andorinho, Ricardo Costa e Rui Rocha. Esta Seleção não tem isso, mas tem muito mais equilíbrio, com o Paulo Pereira a tirar um bom proveito deles. (...) Sinto uma inveja saudável deles, porque disputar um Europeu é uma sensação única», atirou o atleta natural de Fafe.