Novamente com sofrimento e a correr atrás do prejuízo, mas novamente a festejar no fim. A poucos dias do dérbi, o Benfica não pode descansar e teve de correr muito para eliminar o Rio Ave, depois de um triunfo por 3x2 que coloca as águias nas meias-finais da Taça de Portugal. A situação estava apertada para os encarnados, mas a entrada de Seferovic na segunda parte resolveu os problemas de Bruno Lage, que elimina o amigo Carlos Carvalhal. Durante os 90 minutos, as amizades foram mesmo postas de lado.
Na antevisão escrevemos que apesar da amizade entre Bruno Lage e Carlos Carvalhal, ninguém ia dar nada a ninguém e que se esperava um jogo rasgadinho, entre duas equipas de qualidade e que iam fazer tudo para estar nas meias-finais da Taça de Portugal, independentemente do jogo que se seguisse. Os onzes escolhidos pelos dois treinadores mostraram isso mesmo. A rotação do costume na baliza e pouco mais. Eram duas equipas na máxima força, sem querer dar hipóteses ao adversário e prontas para explorar os seus pontos fracos.
Se os onzes escolhidos ajudavam a perceber a postura das duas equipas, o começo da partida mostrou que o Rio Ave tinha estudado a lição e que ia apostar tudo no ponto mais débil dos encarnados: a transição defensiva e a proteção da profundidade. Não tardou nada a acontecer e o zerozero até tinha avisado na antevisão. A equipa vilacondense é exímia neste aspeto e depois de ver o que o Desportivo das Aves tinha conseguido fazer na Liga não ficou à espera. Matheus Reis lançou Taremi, que só não chegou perto de Zlobin porque Rúben Dias fez falta junto à área. Na sequência, Piazón abriu o marcador. Pelo segundo jogo consecutivo, o Benfica tinha de ir atrás do prejuízo.
Não se pode dizer que a reação ao golo foi perfeita, mas a atitude esteve lá, ainda que a espaços. Os encarnados aproveitaram algum desacerto defensivo da equipa vilacondense para criarem algumas situações de desconforto junto à baliza de Paulo Vitor e o golo do empate demorou pouco a aparecer. Diogo Figueiras falhou a linha de fora de jogo e isso bastou para Cervi deixar tudo na mesma e descansar os adeptos benfiquistas, que tinham passado mais de 50 minutos em desvantagem na última partida.
A verdade é que não há jogos iguais, nem equipas iguais. No Benfica as dificuldades nas costas da defesa continuaram depois do golo e o Rio Ave nunca deixou de procurar esse meio para atingir o seu fim. Com Taremi sempre a tentar aparecer nas costas de Rúben Dias e Ferro, os vilacondenses não se limitavam a jogar direto e tinham períodos em que conseguiam construir atrás para que no outro lado do campo houvesse alguma falha de marcação. Não se estranhou, portanto, que a jogada do segundo golo fosse tirada a papel químico da que deu o livre para o primeiro. Matheus Reis voltou a lançar Taremi, que enganou Ferro e o fora de jogo e depois foi inteligente na hora de cabecear para nova vantagem.
Estava tudo bem estudado e Bruno Lage sabia. Tinha de saber, afinal de contas trabalhou com Carlos Carvalhal. Mas o treinador vilacondense sabe muito disto e também conhecia o seu adversário. Leu bem, colocou o Rio Ave com uma postura ativa e obrigou Lage a ser reativo. O treinador do Benfica foi com essa lição para o balneário depois de um final de primeira parte passado a discutir com o árbitro e com alguma polémica com o VAR à mistura, mas, noutros tempos, o jovem técnico já tinha mostrado que aprende rápido.
Ao contrário do que aconteceu nesse tal jogo com o Desportivo das Aves, o técnico não lançou ninguém no início da segunda parte. Para fazer alterações não é preciso alterar peças, às vezes basta mudar mentalidades. Foi isso que Bruno Lage, ao intervalo, procurou fazer. O Benfica veio com outra postura dos balneários, os jogadores encarnados esqueceram-se que sexta-feira há um dérbi para jogar e focaram-se no objetivo Jamor.
Em alta rotação e com uma pressão muito mais intensa, o Benfica começou a incomodar muito mais e não deixou o Rio Ave jogar como queria. A equipa de Carvalhal jogou no desconforto, mas até foi quando o Rio Ave esteve perto de dois minutos a fazer correr a equipa encarnada que Bruno Lage decidiu reagir. Olhou para quem estava a aquecer e arriscou. Seferovic foi a jogo e a saída supreendente (ou talvez não tendo em conta o jogo fraco) de Ferro levou Weigl para central. O crescimento foi imediato.
Depois de um jogo pobre a titular, Seferovic saiu do banco e funcionou como um fermento que fez o Benfica crescer e que trouxe um tipo de companhia diferente para Carlos Vinícius. O brasileiro teve alguém com quem combinar mais perto e isso bastou. Seferovic aproveitou para recuperar confiança, pontos junto dos adeptos encarnados e um lugar nas meias.
Dois remates do suíço e dois golos a fugir a um prolongamento que seria bem para lá da hora normal de um jogo de futebol. O Rio Ave ainda tentou reagir, mas o fôlego não era o mesmo e pela frente estava um Benfica galvanizado. Entre vénias a Cervi e aplausos para o regresso de Rafa, o Benfica voltou a sofrer, mas conseguiu, a dias de um jogo de emoções, chegar mais perto da emoção da final da Taça de Portugal.
Não foi um jogo fácil para a equipa de arbitragem. Antes do 1x2, há um lance muito duvidoso sobre Chiquinho, na grande área do Rio Ave, que acabou por não dar em nada. Mais tarde, apesar dos protestos, o árbitro decidiu bem. Não havia qualquer falta de Filipe Augusto sobre Pizzi, ao contrário do que parece ter acontecido no primeiro lance.
Ninguém se poupou a nada. Os treinadores apostaram nas equipas mais fortes (exceção aos guarda-redes) e os jogadores deram tudo. Alguns acabaram mesmo com a língua de fora.
Se o dia do jogo é difícil de aceitar, o horário torna-se mesmo incompreensível. O prolongamento era possível, os penáltis também e o jogo terminava depois da meia noite. Não foi de admirar que de Vila do Conde não tivesse vindo ninguém.