Uma braçadeira bem vestida

Está ainda a ganhar ritmo, mas marcou pontos num jogo em que envergou a braçadeira de capitão e liderou a representação da cantera (seis da formação portista estiveram em campo). Muito sereno no meio-campo, bem nos posicionamentos e com uma série de bons passes, com destaque para a genial abertura para o golo inaugural de Renzo Saravia, depois de uma bola perdida por Manafá. Ficou ainda perto de um golaço com um remate de longe num livre estudado.

Nota prévia para outro lateral-direito: também um dia histórico para Tomás Esteves, que se estreou na equipa principal aos 17 anos. Mas falemos de Saravia: voltou à equipa um mês e meio depois e correspondeu no ataque. Marcou o primeiro golo da carreira com um cabeceamento e assistiu Soares com um bom passe (desviado). A defender teve lacunas que não passariam incólumes contra uma equipa de outro nível: erros de posicionamento e nota para um momento em que corrigiu (mal) uma dessas situações com uma falta precipitada.

Jogo muito positivo de um jogador que não reúne consenso entre os adeptos, mesmo sendo produto da casa. Seguro no passe, enquanto oscilava entre a ala e o miolo, contribuindo para um FC Porto com grande mobilidade do meio-campo para a frente. Muito interventivo na primeira fase do jogo, em que o FC Porto dominou mas não marcou, lançou um dos primeiros avisos com remate para defesa do guardião. No 2x0 viu Luis Díaz em boa posição e assistiu o colombiano. Saiu aos 75', com sensação de dever cumprido.

Acima dissemos que Saravia mostrou lacunas defensivas e quem mais as expôs foi o avançado angolano, que procurava aproveitar as falhas no posicionamento para ocupar espaços e causar ligeiro desconforto aos dragões. Ligeiro, repita-se. Velocidade e qualidade técnica interessantes de um jogador com capacidade para ocupar várias posições do ataque e que já se aventurou no futebol cipriota e regressou a Portugal, onde se lançou.

A jogar muitas vezes no limite do fora-de-jogo, foi diversas vezes apanhado em posição irregular e assim se iam perdendo alguns ataques. Também por isso, pelo posicionamento adotado, não teve muita intervenção no jogo durante largos momentos, mas bastou-lhe estar em jogo e em posição de ataque uma vez. Recebeu de Bruno Costa e finalizou com muita classe, mostrando as qualidades de finalização que Soares não estava a mostrar.

Não parece ser um prodígio técnico, mas tem outras qualidades. Poderio físico a ter claramente em conta, com capacidade para se impôr nos duelos individuais e uma estatura que lhe permite ganhar duelos aéreos. Recebeu por vezes a bola em situações de contra-ataque e soube segurá-la enquanto procurava que os colegas encontrassem espaços... ainda que não tenha conseguido grandes momentos de desequilíbrio a nível ofensivo.

Ele, sim, é um prodígio técnico, mas não conseguiu mostrá-lo desta vez no tempo em que esteve em campo. Entrou aos 69' e passou muito ao lado do jogo: demasiado discreto e, nos momentos em que teve bola, sem conseguir executar de forma correta. O tropeção perto da linha final foi o momento mais evidente de uma entrada em falso. É capaz de muito mais, como sabemos e ele próprio bem saberá. Nota: Soares estava perfilado para entrar neste espaço mas escapa à justa pelo golo marcado.

«Eu nunca perco - ou ganho ou aprendo». Socorremo-nos da frase de Mandela citada num passado bem recente por Mourinho. Foi um dia de aprendizagem para um guardião de apenas 20 anos que fez o seu primeiro (!) jogo como sénior. Esteve bem no início, defendeu um remate de Bruno Costa, mas acabou por ter culpas no cartório pela má saída no golo de Saravia e pela abordagem algo trapalhona no de Soares. No de Luis Díaz fica também a sensação (discutível) de o posicionamento não ter sido ideal tendo em conta a capacidade de remate em arco de Díaz com o pé direito. Tem a carreira toda pela frente e terá dias muito melhores.