Na conversa com o domínio brasileiro do zerozero, Mário Jardel também recordou os tempos de Sporting, clube no qual foi campeão nacional, na última vez que o título se festejou em Alvalade.
Esse foi um dos tempos, sendo que veio à memória outros assuntos da altura, como Cristiano Ronaldo, que então estava a começar a surgir na equipa principal dos leões, ainda de tenra idade.
ZEROZERO: Como avalia a época do Sporting? Depois do que aconteceu, ganhar a taça da liga, estar na final da Taça de Portugal e ficar em terceiro é um bom desempenho?
Mário Jardel: Era o mínimo que o Sporting podia dar aos seus adeptos. Desde que saí, o Sporting não foi campeão e, com certeza, os adeptos ficam tristes. Pelo potencial que o Sporting tem, o Benfica, o Porto. São clubes que têm que ganhar um título em menos de cinco anos, no mínimo. Quando apareço aí, as pessoas ficam com muita saudade. 'Pô, ninguém ganha mais o campeonato, o último foi consigo'. Eu fico triste, não é? Ao mesmo tempo, feliz por lembrarem de mim. Mas acredito que, depois do que houve em Alcochete, sirva de lição para que o clube volte a ser campeão.
ZZ: Você jogou com Cristiano Ronaldo. Influenciou-o de alguma forma na arte do cabeceamento?
MJ: Eu acredito que sim. Ele aprendeu muitas coisas comigo, como eu aprendi com ele. Principalmente no cabeceamento. Se perguntar ao Cristiano Ronaldo se o Jardel era a referência dele como cabeceador, com certeza ele vai falar. Hoje, dou-me bem com o Cristiano, com o João Pinto, que hoje trabalha na Federação Portuguesa, que pessoal falava que era "meu pai" no Sporting.
ZZ: A sua irmã namorou com Cristiano Ronaldo...
MJ: Era para ser meu cunhado. Era para ser. Mas a minha irmã não sabia que o Cristiano ia ser o que é, né (risos). Mas são coisas da vida. Dei uma dura [n.d.r.: um sermão] na minha irmã (risos). Mas faz parte da vida, a gente tem que seguir a vida.
ZZ: Como era a relação com ele?
MJ: Eu falava assim: 'Aprende aí a fazer gol, miúdo'. E agora estou aprendendo com ele, cinco vezes melhor do mundo. Ajuda muita gente. Fico muito orgulhoso do trabalho que ele tem feito de ajudar as pessoas que necessitam mais. Não é só o jogador em campo, o Cristiano é uma referência mundial, dá exemplo para todo mundo. Com o poder financeiro que ele tem, eu tiro o chapéu e dou os parabéns pelo excelente trabalho que ele faz fora de campo, ajudando muitas pessoas que necessitam.
ZZ: Final de carreira, drogas e depressão
MJ: O final de carreira de Jardel poderia ter sido antes. Tive a infelicidade de ir para a Inglaterra e pegar um treinador, o Sam Allardyce. Eu não jogava na Inglaterra. Passei dez anos como titular e ir para a Inglaterra para ficar no banco, ninguém gosta, né?
Aí comecei a ficar desgostoso, houve aqueles problemas todos que já passaram (envolvimento com drogas). Serviu de aprendizado. Hoje, o Jardel é uma pessoa renovada, tenho buscado muito Deus, estou vivendo com muita sabedoria. Por tudo o que passei. Foram 12, 15 anos no topo do futebol mundial. Depois aquelas dificuldades, depressão...
São coisas que a gente tem que levar como aprendizado para que não se repita. O ruim é persistir no erro. Eu errei no final da minha carreira, mas abri os olhos e disse para mim mesmo que a minha vida é mais importante do que qualquer coisa.