Recordar a eliminatória de há dois anos e meio entre portistas e romanos é recordar uma fase diferente das duas equipas. Sobretudo dos portistas, que aí tiveram o primeiro ano de Troika financeira e que, por isso, travaram no investimento em reforços. Eram fundamentais os milhões da Champions, e eles chegaram.
Chegaram por perícia e experiência portista, depois de primeiros 45 minutos de eliminatória a tender claramente para a Roma. Qualquer adepto presente no Dragão naquele fim de tarde de 17 de agosto se lembra que foram os italianos a dominar por completo o começo de jogo, chegando ao golo e mostrando que seria muito difícil à jovem e inadaptada equipa de Nuno chegar à fase de grupos da prova milionária.
Roma começou bem, mas teve três expulsões ©Global Imagens / Pedro Correia
Só que o difícil tornou-se fácil. De forma um pouco inexplicável, a equipa então treinada por Spalletti entrou numa linha de precipitação e colecionou erros que foram inclinando a balança no sentido oposto. Três expulsões (uma no Dragão, duas em Roma), todas relativamente cedo nos jogos, foram a garantia de uma superioridade portista que não se estava a prever.
Felizmente, aconteceu. Os milhões entraram no Dragão, Portugal regressava ao sexto lugar do ranking e NES atingia o seu primeiro grande objetivo de época.
O contexto
Rúben ia entrar, mas NES alterou para Evandro ©Global Imagens / Ivan del Val
Depois de uma época 2015/2016 de nova aposta forte da SAD na equipa de Lopetegui, que sairia a meio e que deixaria a tarefa para José Peseiro, embora já com uma base desacreditada a que se juntou a noção dos adeptos, o tempo era de reorganização.
Nuno aproveitava algumas sobras boas (André Silva tinha aparecido e estava pronto a subir de patamar), mas sabia que só com os milhões da Champions mais e melhores reforços podiam chegar. Óliver, Diogo Jota, Boly e Depoitre seriam os frutos desse sucesso, num verão em que o aperto da UEFA se fez sentir nos cofres portistas e limitou uma melhor atuação.
Totti, duplamente suplente ©Global Imagens / Fábio Poço
Na Roma, assistia-se ao declínio do eterno Totti. Quer em Portugal, quer na capital romana, não passou do banco, numa época em que ainda salvou a equipa algumas vezes mais para a frente, mas que seria a sua última. Sim, a última pintura de Totti na Champions foi nesta eliminatória com o FC Porto. Zero minutos. E os tiffosi desesperados com o treinador.
Os pormenores futebolísticos
Com uma equipa ainda por definir, NES quis dar a Adrián López uma segunda vida no Dragão, onde tinha chegado em 2014 (é verdade, ainda hoje se fala em novas vidas para o espanhol). Surgiu a apoiar André Silva e Herrera descaiu para a direita do meio-campo, onde passou boa parte da época, até perder espaço na equipa. Mais atrás, chegara Telles para, de forma surpreendente, encostar o importantíssimo Layún de 2015/16.
Adrián foi titular em casa e entrou em Roma ©Global Imagens / Fábio Poço
Espaço não havia para Rúben Neves. O médio, que Lopetegui lançara dois anos antes, tinha recuperado a titularidade com Peseiro, mas o novo técnico optou por outras soluções e Neves faria a época como sénior portista com menos preponderância - curiosamente, o treinador levá-lo-ia no fim da mesma para Inglaterra... e o resto já se sabe. Ora, na primeira-mão ficou na retina dos adeptos a imagem de Neves a chorar no banco, depois de ter estado pronto a entrar, com NES a mudar de ideias à última hora e a escolher Evandro.
Destaque também para Felipe. Acabado de chegar para dar outra consistência à defesa portista, o brasileiro começou com um infeliz auto-golo, mas soube reerguer-se e, em Roma, fez a sua primeira grande exibição com a camisola azul e branca.
Maxi lesionou-se com golpe profundo ©Global Imagens / Fábio Poço
Tudo isto frente a uma Roma que tinha um Salah muito longe do que viria a ser em Anfield e que tinha em Nainggolan o jogador em melhor forma. Defensivamente, Spalletti via-se cheio de problemas e de parcas soluções, sendo muito curioso que Alisson, acabado de chegar, fez o primeiro jogo, mas já não esteve no segundo, em que foi Szczesny o dono da baliza. O brasileiro, aliás, passaria essa época como número 2 das luvas.
O que aconteceu depois disso
Este foi o onze em Roma ©Getty / Paolo Bruno
Nessa época, em que os romanos caíram para a Liga Europa, ficaram pelos oitavos de final, onde foram eliminados pelo Lyon, mas o segundo lugar na Série A permitiu a entrada direta na Champions seguinte, que seria a melhor da história do clube, com a chegada às meias-finais.
Uma nova temporada que teve novo treinador (Spalletti deu vez a Di Francesco), tal como aconteceu no Dragão, onde chegou Sérgio Conceição para devolver o título nacional aos portistas, depois de quatro anos de seca.