Depois do quase de 1998, a Croácia já conseguiu aquilo que parecia mais ou menos impensável: chegar ao jogo decisivo de um Mundial. Se é certo que Luka Modric é o líder de uma geração praticamente de ouro, o selecionador não deixa de estar na boca do Mundo por estes dias. Afinal, Zlatko Dalic foi uma aposta surpresa, de última hora, para tentar conseguir, em cima do joelho, improvável qualificação.
O treinador de 51 anos conseguiu mesmo o bilhete para Moscovo, já depois de surpreender todo o futebol croata ao conseguir manter o lugar e lograr os objetivos. Kalinic não resistiu à dor de costas e foi mesmo afastado da equipa, na mais importante demonstração de liderança do selecionador. O resultado está à vista, com a história a ser construída.
Habituada a estar presente nas grandes competições, a Croácia, à entrada para a última jornada da fase de qualificação, estava metida num autêntico sarilho, com os mesmos pontos da segunda classificada Ucrânia e a precisar de uma vitória na deslocação a Kiev. Depois de alguns maus resultados, Ante Cacic foi afastado pela federação, com Suker, presidente do organismo, a apostar num autêntico desconhecido, que até como jogador não passou da mediania.
Zlatko Dalic assumiu a pasta sem qualquer margem de erro; se ganhasse seria encarado como herói, se perdesse seria apenas a última face de uma qualificação pouco conseguida, tendo em conta a presença dos jogadores croatas em alguns dos melhores clubes do Mundo. O grupo uniu-se e foi buscar forças para garantir um triunfo que, pelo menos, garantiu o playoff, com Kramaric a ser decisivo.
A injeção de confiança saída de Kiev foi tão forte que, no segundo momento de decisão, a Croácia superou-se ainda mais e garantiu a presença na fase final com um playoff irrepreensível diante da Grécia, goleada em Zagreb e impotente para sacar uma remontada histórica. Não havia volta a dar: o desejo da federação e do plantel acabou em realidade e o interino transformou-se em primeiríssima opção.
Apesar de ter feito toda a sua carreira como médio-defensivo, Zlatko Dalic encarou a fase final com um propósito marcadamente ofensivo. Sem grandes problemas em apostar numa solução com quatro homens na frente e Modric e Rakitic no meio, o selecionador, ao longo das últimas semanas, teve a capacidade de dar variabilidade tática à sua equipa, eficaz e com mutabilidade ao longo do certame.
Diante da Argentina e da Inglaterra, equipas marcadamente ofensivas, os croatas foram inteligentes na zona intermediária e souberam roubar a bola e o domínio, com uma dupla de meio-campo levada ao extremo das suas capacidades. Perante outro tipo de adversários, a mesma equipa teve mais vertigem e menos capacidade, mas até aí veio ao de cima o outro lado dos croatas: a capacidade de sofrimento, que resultou em três passagens inéditas no tempo extra.
E para uma nação que passou por muito, as palavras de Dalic sobre o sentido coletivo desta Croácia podem muito bem ser a outra parte do sucesso desta aposta surpresa da lenda Suker: «Somos demasiado pequenos para nos dividirmos tanto. É necessário que trabalhemos em coexistência, não para repetir o passado da guerra, mas para nos apoiarmos uns aos outros.»
Um homem que foi interino, que conseguiu retirar o máximo dos seus melhores talentos, que conseguiu dar uma capacidade de sofrimento e superação quando a qualidade não surgia, que viajou como adepto ao França 98 para ser derrotado...pelos gauleses, vai para o jogo da sua vida com uma certeza: já garantiu um lugar muito especial no coração de uma das nações mais pequenas que alguma vez discutiu a Copa mais importante de todas.
2-1 a.p. | ||
Ivan Perisic 68' Mario Mandzukic 109' | Kieran Trippier 5' |