Estes têm final da cabeça aos pés

Está cumprido o sonho de pouco mais de quatro milhões de pessoas. A Croácia, depois do quase em 1998, garantiu o maior feito da história do seu futebol, ao bater, por 2x1, a seleção inglesa. A turma de Modric voltou a não conseguir resolver nos 90 minutos, mas o prolongamento apenas confirmou uma realidade de boa parte do jogo: esta Croácia teve sempre mais pés e, sobretudo, cabeça para garantir um lugar em Moscovo. 

Para a Inglaterra, fica a quarta meia-final perdida de forma consecutiva após a glória de 1966. O futebol também regressará a casa, depois de uma participação britânica que surpreendeu tudo e todos. Faltou o quase, ficou o orgulho. 

Na gaveta, Trippier

Talvez por estar mais fresca do que o próprio adversário, que foi obrigado a dois desempates por grandes penalidades, a Inglaterra entrou na partida com outra fluidez de jogo, demonstrando mais qualidade na posse e uma capacidade poucas vezes anulada pelos croatas em acelerar o jogo no último terço. Apesar do domínio territorial, a sorte grande voltou a sair na bola parada, com Trippier a colocar a bola na gaveta de Subasic. 

Em desvantagem no marcador, a Croácia demorou algum tempo a esboçar qualquer tipo de reação, demonstrando alguns problemas na construção do seu jogo ofensivo. Perisic ainda tentou um par de remates, que não chegaram a assustar Pickford, mas a Inglaterra, além de se apresentar mais confortável em todos os momentos do jogo, era uma ameaça sempre que colocava velocidade no último terço, com Sterling a surgir perigoso e sempre pronto a surpreender a organização croata. 

A realizar um Mundial bem acima das expetativas, a Inglaterra tem estado em destaque nos lances de bola parada, com nove golos marcados ©Getty /

Até ao final da etapa inicial do jogo as fragilidades croatas vieram ao de cima, com mérito inglês. A turma de Southgate voltou a mostrar-se sólida em todos os setores, não permitindo que os maiores talentos da seleção de Leste pudessem explanar as suas ideias - Modric teve bola, mas só nas zonas ditadas pela pressão britânica. Kane ainda atirou ao poste, num lance anulado pelo auxiliar, mas o intervalo chegou sem mais nada a acrescentar. Um coletivo inglês a secar (quase) tudo. 

Croácia foi mesmo ao 80

Depois de uma primeira parte em que as coisas não correram francamente bem, a Croácia iniciou a etapa complementar com outra capacidade no processo ofensivo. É certo que a Inglaterra, e em particular Walker (pelo defesa do City não passou rigorosamente nada), controlavam o domínio croata até um certo ponto, mas pressentia-se que a capacidade criativa dos britânicos ia decrescendo. Um risco, portanto, tendo em conta o marcador. 

E o risco provou-se fatal para os comandados de Southgate...Sem grande controlo da bola e, consequentemente, do jogo, os ingleses recuaram no terreno e permitiram que o carrossel croata funcionasse. Com espaço, a equipa de Modric tem talento para muito, e foi Perisic o protagonista dessa avalanche croata, com um golo de belo efeito a coroar a reação. Pouco depois, tremideira britânica a vir ao de cima e o mesmo jogador, com menos sorte - só o poste parecia evitar males maiores. 

Os lances de ataque da Croácia funcionaram como um trauma  para os ingleses, que voltaram a subir linhas e a pressionar alto o início de construção croata. O resultado não foi particularmente pujante, com os britânicos a denotarem muita precipitação na mais simples das ações. Rashford agitou, é certo, mas nem o talento do jovem red devil foi o suficiente para evitar mais um tempo extra. 

Cansaço? Nem de perto

Com mais um prolongamento nas pernas, a Croácia fintou a lógica e apresentou-se como a melhor equipa (com alguma distância) nos 30 minutos finais. Com Modric e Rakitic a guardarem a bola no bolso, os croatas forçaram o segundo golo de uma forma mais inteligente, pertencendo a Mandzukic o papel de herói, depois do adormecimento geral da defensiva britânica. 

Depois disso, o costume: algumas paragens, muito coração daqueles que procuravam de forma desesperada o empate e uma Croácia sempre mais inteligente, mais criativa, mais equipa. Suker e companhia, independentemente do resultado do próximo domingo, têm já uns mais do que dignos sucessores...

⚠️HISTÓRICO!!! Está garantida a melhor posição de sempre da 🇭🇷Croácia em 🏆Mundiais [3.º lugar em 1998]

15 Julho 2018 - 🇫🇷França x 🇭🇷Croácia [Final] pic.twitter.com/IURizK8lxG

— playmakerstats (@playmaker_PT) 11 de julho de 2018