*com Ricardo Lestre
No França-Bélgica joga-se o tudo ou nada. Uma espécie de final antecipada do Rússia 2018 que coloca, frente a frente, duas das gerações de ouro mais entusiasmantes da atualidade.
Dentro de campo vai estar presente, quem sabe, a next big thing do futebol mundial. Porém, o foco, e por mais estranho que pareça, não está nos jogadores. Nem nos selecionadores, aliás. Está apontado, isso sim, a um elemento que prefere manter-se nas sombras.Falamos de alguém que, há 20 anos atrás, esteve, em idade bem tenra, presente no último Mundial conquistado pela França. Alguém que, outrora apontado como um dos melhores futebolistas do mundo, desempenha, hoje, funções de terceiro adjunto na seleção belga e de comentador num famoso programa desportivo da estação britânica Sky Sports.
Esse é, portanto, Thierry Daniel Henry, o herói bleu que, pela primeira vez, vai estar do outro lado do campo, à procura de travar o sonho... da sua própria nação.
O brilhante palmarés de Henry está à vista de todos. Internacional por 124 ocasiões, 51 golos marcados, um Mundial, um Europeu como sénior e outro pela seleção sub-18. Tudo isto ao serviço de um símbolo, de um país, e de uma nação que é bem sua.
Passaram vinte anos desde então. Na terça-feira, a condição é outra e o propósito é distinto. Para Henry, há todo um misto de emoções estranho. Bizarro, até. Mas o profissionalismo assim o exige.
Desde o momento em que aceitou o convite para integrar a comitiva de Roberto Martínez, o ex-avançado francês tratou de afastar o protagonismo. Optou por manter-se nas sombras e permitir tudo fosse canalizado para os seus jogadores. Algo inevitável, pelo menos no seio da seleção belga.
Passou de um simples póster de parede para a pura realidade. Um dos melhores jogadores de todo o sempre preparava-se, a partir desse momento, para transmitir todo o conhecimento acumulado durante uma carreira recheada de êxitos.
A verdade é que, na televisão, levando a cabo as famosas análises numa das maiores cadeias televisivas do Reino Unido, Henry sempre demonstrou uma grande atenção ao detalhe. Na figura de treinador, essa virtude mantém-se intacta. Perfeccionista, meticuloso e sempre disposto a aconselhar os mais novos que, por sinal, escutam cada palavra sua com máxima atenção.
Romelu Lukaku foi um dos grandes beneficiados. O avançado do Manchester United não escondeu a admiração por Henry e fez questão de revelar melhorias significativas no seu jogo.«Já disse ao Thierry Henry que encontrei a técnica dele para marcar golos», começou por dizer, entre sorrisos, aos meios de comunicação britânicos.
«Aprendo com ele todos os dias. A forma como me devo movimentar, como devo encontrar espaços e controlar a bola da melhor forma possível. Ele consegue fazer isso tudo. Tenho aprendido imenso com ele», revelou.
O próprio Vermaelen, numa recente conferência de imprensa, admitiu que a «informação interna» de Henry é de um valor incalculável para a Bélgica. Ora, no meio de tudo isto, o que dizer... da França?
Por muito que procure o contrário, Thierry Henry continua a ser tema do dia na antecâmara do encontro entre belgas e franceses. O seu passado, e, sobretudo, a sua nacionalidade, fazem com que o ambiente seja, no mínimo, diferente.
«Há um grande respeito mútuo. Não lhe guardo rancor [a Thierry Henry]. Obviamente, preferia que ele estivesse connosco e me desse esses conselhos a mim», disse o ponta-de-lança gaulês, que, no meio de elogios, deixou um aviso: «Ficarei orgulhoso se conseguir mostrar ao Titi [Henry] que ele escolheu o lado errado».
Vinte anos depois, a seleção da França, guiada por um dos obreiros da conquista, procurar emular os feitos da famosa geração de 1998. Do lado oposto, está um suspeito bem conhecido com as mesmas ambições. Ah, futebol, a quanto obrigas...
1-0 | ||
Samuel Umtiti 51' |