Os campeonatos estão a terminar a conta-gotas por toda a Europa e em Chipre está mesmo na derradeira etapa. A última jornada joga-se este fim de semana e duas equipas estão na corrida por tão desejado e prestigiante título. APOEL, de Bruno Baltazar e Nuno Morais, e Apollon Limassol, de Bruno Vale e João Pedro. Dois candidatos a um posto só. Tudo para decidir este sábado ou... domingo. Confuso?
Se é verdade que a temporada ainda não terminou para os lados cipriotas, o mesmo não se pode dizer da gala que consagrou o melhor onze da liga. E ainda o melhor jogador: João Pedro Cunha. Lembra-se dele, caro leitor? Passou por Braga, Penafiel, Beira-Mar, Naval, União de Leiria, UD Oliveirense, Belenenses e Moreirense, antes de aventurar-se pela primeira vez no estrangeiro no verão de 2015.Após algumas incertezas, hoje o camisola 17 do Apollon sente a que mudança foi o «melhor passo» que deu na carreira. Respeitado, reconhecido e feliz em Limassol. Muito feliz. O que poderia pedir mais? O título, talvez.
O zerozero conversou com o extremo português... Ou melhor. O nosso site conversou com o lateral direito português do Apollon Limassol – João Pedro conta-nos como se processou a mudança – a propósito da mais recente conquista individual do jogador e sobre o que está ainda para conquistar. O bolo está pronto, faltam as cerejas... Venham elas.
zerozero (ZZ): A época em Chipre ainda não terminou, mas há algo que ninguém lhe pode tirar. O João foi considerado o melhor jogador da liga cipriota. Que significado tem este prémio?
João Pedro (JP): Estava com esperança de entrar no onze ideal do campeonato pela época que fiz, mas este prémio era algo que não estava de todo à espera. Não é normal para um lateral direito ganhar este prémio. Mas é com enorme satisfação que o recebo. É o reconhecimento de todos os colegas de todas as equipas e só tenho de me sentir orgulhoso.
ZZ: É também uma boa forma de culminar uma época que já vai longa e com muitos jogos (51)?
JP: Para mim, esta está a ser a melhor época de todas aqui em termos de assistências, jogos, produtividade em campo e de reconhecimento de todos no campeonato. Só tenho de estar satisfeito por isso. Ainda falta o mais importante, pois ainda estamos na luta pelo campeonato. Estamos um ponto atrás [do APOEL] e vamos esperar pela última jornada para ver o que acontece. Temos ainda a final da taça. Pode acabar numa época de sonho.
ZZ: O prémio de melhor jogador foi o bolo, faltam as cerejas...
JP: Exatamente, exatamente.
ZZ: Termina este fim de semana o campeonato e estão na luta com o APOEL, mas curiosamente não jogam no mesmo dia... [APOEL joga este sábado e Apollon no domingo]
JP: É verdade. O APOEL e o Omonia partilham o mesmo estádio e os jogos não podiam ser no mesmo dia, pois jogam os dois em casa. Eu acho que não é de todo aquilo que se deveria fazer, mas não havendo outra solução... Acho que foi sorteio e saiu que eles jogavam primeiro que nós. Vamos esperar para ver o que acontece no jogo deles para no domingo, se tivermos possibilidade, atacarmos. Seria o culminar de uma época de sonho.
ZZ: Depois no dia 16 têm a Taça do Chipre, que é um dos grandes objetivos. Correto?
JP: Nos dois últimos anos, ganhámos as duas Supertaças e as duas Taças. É um troféu que queremos manter e quarta-feira vamos fazer de tudo para continuar com o troféu do nosso lado.
ZZ: Tem corrido praticamente tudo bem, falta então só mesmo o campeonato. Um dos grandes objetivos do presidente do Apollon, a par da entrada na fase de grupos da Liga Europa [alcançada este ano].
JP: O mais importante era o campeonato. Desde que estou aqui, esse é o grande objetivo. Se fosse por uma questão de merecer, penso que a equipa que merecia ganhar éramos nós. Mas, independentemente de tudo, ninguém pode tirar mérito aquilo que a gente fez. No onze ideal, estão cinco jogadores do Apollon e um do APOEL. Por aí, pode ver a qualidade da nossa equipa. Praticamos um futebol agradável, somos o melhor ataque e a melhor defesa... Vai ser uma pena se a gente não conseguir.
ZZ: Neste ano conseguiram equilibrar a balança com o APOEL. Como é que os adeptos estão a encarar esta temporada extraordinária?
JP: Nos anos passados a duas/três jornadas do fim o APOEL já era campeão. Os adeptos estão todos contentes com aquilo que a equipa fez, mas claro que ficarão um pouco desiludidos se não formos campeões. Fomos a melhor equipa durante a toda a época. Mas acho que no fundo, e eu tenho contacto com eles, eles têm noção e dizem: “Para nós vocês já são campeões”. Trouxemos muita gente ao estádio e isso tudo é sinal de reconhecimento.
ZZ: Já são três épocas a representar o Apollon... É uma marca importante, não?
JP: Sinto essa importância que as pessoas transmitem. Sei que sou uma peça importante e é por isso que quero ficar. Renovei em dezembro por mais dois anos porque sinto que ainda há muito para fazer no clube. O projeto prova que estamos a andar na direção certa. Eu tenho a certeza que, enquanto estiver aqui, um dia vou ser campeão. Não tenho dúvida nenhuma!
João Pedro
6 títulos oficiais
JP: Não, de todo... Sempre joguei em Portugal e sempre tive aquele receio de emigrar. Não falava mais língua nenhuma a não ser o português e sabia que tinha de me desenrascar no inglês e não falava nada. Mas como vim na altura com um treinador português [Pedro Emanuel] e com vários jogadores portugueses isso ajudou-me muito no primeiro ano. A adaptação foi mais fácil e tem sido fantástico. Acredito que estou na melhor cidade do país e sinto-me perfeitamente adaptado.
ZZ: Mudou-se na altura com 29 anos. Como se sente agora com 32 anos?
JP: Eu, no meu caso, acho que a idade está a fazer-me bem. [risos] No passado fazia muitos jogos, mas entre 20-30 jogos, e agora, nas últimas três épocas, sempre 40-50. Não sinto que a idade seja um problema, até porque estou mais experiente e tenho outras qualidades. Quando és mais novo corres talvez de forma errada e vês o futebol de outra forma. E a experiência dá-te isso mesmo. Felizmente, também nunca tive muitas lesões. E não é normal um jogador fazer tantos jogos numa época. Não é fácil fazer 50 jogos. São quase duas épocas numa. E eu como lateral é sempre 90 minutos, não saio... [risos].
ZZ: Ainda bem que volta a falar nisso. O João sempre foi extremo, agora lateral? Como surgiu a passagem para a defesa? Foi no início da sua aventura no Apollon?
JP: Não, foi mais este ano. Vim como extremo e fiz praticamente toda a primeira época como extremo, só em alguns jogos é que joguei a lateral. Na segunda voltei a jogar como extremo e quando entrou este treinador [Sofronis Avgousti] ele pediu-me se podia ajudar a equipa nessa posição nas últimas 3-4 jornadas e eu disse que sim e que ia dar o máximo. E na final da taça ele disse-me que se tudo corresse bem, ia começar a utilizar-me a lateral. Na altura fiquei reticente, mas, como as coisas começaram a correr bem, adaptei-me rapidamente à posição. Agora, estou muito satisfeito e este reconhecimento só tem de deixar-me feliz porque é a minha primeira época nesta posição. Só prova que fiz o trabalho bem feito e que estou no bom caminho.
ZZ: Isso demonstra também uma grande abertura para depois de todos estes anos se adaptar a uma nova posição?
JP: As pessoas perceberam ao longo do tempo que sou um jogador de equipa. Eu aqui já joguei a extremo, a lateral, a médio defensivo, ofensivo... O ano passado fiz várias posições e isso deixa-me satisfeito porque sei que sou um jogador importante seja onde for. E quando te sentes assim só tens de trabalhar, pois tens motivação para dar tudo e ajudar a equipa.
ZZ: Mas vamos lá aqui saber outra coisa. O que sente mais falta de Portugal?
JP: Neste momento, sinto falta da família. Mas como renovei mais dois anos, vou trazê-la de novo para estarmos juntos. Hmmm... De Portugal... Sinto falta da nossa comida. Muito. Nem se compara. Sinto falta do leitão, marisco, francesinhas, de tudo... Aqui é comida sem sabor. Há bons restaurantes, mas não se pode comparar.
ZZ: Tem mais dois anos mais de contrato como já disse. Ainda assim, voltar a Portugal é algo que esteja no horizonte?
JP: Não, não... Neste momento, não. Estou muito satisfeito aqui. Quero continuar enquanto puder. No final da carreira, se tiver oportunidade, gostava, mas ainda não estou a pensar nisso. Ainda está longe. Agora na minha mente não penso em voltar.
ZZ: E olhando para trás até ao dia de hoje. Sente que valeu a pena esta caminhada num mundo sempre difícil?
JP: Eu não sou uma pessoa de arrependimentos. Mesmo que algo não corra bem eu vou sempre aprender alguma coisa. Tive épocas em que as coisas não correram tão bem, mas só me deram mais força para não baixar os braços e continuar. Uma pessoa por vezes tem de vir para fora para talvez ser reconhecido e no meu caso foi isso. Vim, apostei e estou muito feliz. Talvez tenha sido a melhor decisão que tomei na minha vida, tanto a nível profissional como do ponto de vista económico.
ZZ: As condições não se comparam...
JP: Não, não, não... Nada. Neste momento não sei, mas penso que até melhorou aí [em Portugal]. Mas, ainda assim, não dá para comparar. O clube onde estou tem todas as condições como um clube grande, como um Braga, por exemplo... Não falta nada. É um clube estruturado e muito bem organizado. Estou feliz por isso. E quando uma pessoa está feliz, as coisas só têm de correr bem.
ZZ: Por fim, novamente o foco para as duas últimas batalhas. Motivadíssimo?
ZZ: Sim, é esperar por um deslize do APOEL e depois fazer a nossa parte no domingo. Era fantástico. Entrar na Liga Europa este ano foi uma experiência fantástica, pois era algo que ambicionava. Mas ainda ambiciono mais e por isso é que disse que era importante ser campeão, pois ainda ambiciono ir à Liga dos Campeões. É um sonho. Não vou embora daqui sem ser campeão e ter essa oportunidade. Podemos não conseguir, mas vamos perseguir esse objetivo com todas as forças.
1-0 | ||
Matt Derbyshire 48' |