*com Sérgio Velhote
Começou na noite anterior. No hotel onde a equipa estava hospedada, depois no outro hotel, para onde teve de ir por causa do incêndio. Em Famalicão. Em Vila Real. Em Felgueiras, Aveiro ou Viseu. Um pouco pelo país. E muito nos Aliados, o coração da festa azul e branca.
Foi dura e pesada a noite, mesmo para os próprios jogadores - Conceição contaria mais tarde que alguns só às 6h da manhã se deitaram. Raro para um jogador profissional, embora mais do que justificado.
Ainda assim, a grande festa ia ser esta.
No estádio, ao seu redor, em comunhão entre equipa e adeptos, com 90 minutos pelo meio que, sendo os menos importantes da época, eram «para ganhar», como sempre. Uma prática que, muito mais do que dita, voltou a ser sentida este ano. Sérgio Conceição foi o grande impulsionador.
No nosso caso, a equipa de reportagem do zerozero foi muito menos cuidadosa do que os assaltantes ou do que os homens de Conceição. Pelo facto de já ter havido festa rija na véspera, pensaríamos nós que fosse gradual e em crescendo a afluência ao estádio. Errado. Foi muito tempo sem a habitual festa de campeão. Por isso, os portistas rapidamente encheram as imediações do recinto, invadiram as redondezas do estádio e entupiram os acessos.
A pé, já com o carro a quilómetros, foi possível sentir. Era um ambiente de alívio, um sentimento de descarregar de tensão, de libertação da dor de quem ama ganhar e não o faz.
Se muitos festejaram sob esse pressuposto, quase nostálgico, de fazer algo que foi tradição nas últimas décadas, outros, mais pequeninos, fizeram-no de forma quase inédita. Não é costume ouvir de um adepto do FC Porto uma resposta negativa quando a pergunta é se se lembra do último título. Desta vez, isso aconteceu, e o seu cariz de estranheza é sintomático quanto à dimensão adquirida desde a década de 80.
Se viu imagens e vídeos da festa azul e branca por estes dias, já está a par do novo cântico dos adeptos do FC Porto. Adaptando o refrão de Bella Ciao, música que virou moda com a tal série, o cântico portista diz: «Chora o Vitória, chora o Vieira, e o penta xau, penta xau, penta xau, xau, xau”.
Também por aí se explica que, em jeito de retaliação, muitas tenham sido as músicas alusivas ao Benfica, antes, durante e depois. Mais do que o normal. Não há que o negar e os portistas admitem-no de forma cabal: ganhar é tão importante como o Benfica não o conseguir. É um facto e, pelas gentes do Norte, o habitual é que os factos sejam ditos. Até porque, como diz o lema de ocasião do clube, «todo mundo tenta, mas só o Porto é penta». Era uma questão do próprio orgulho.
El Profesor já tinha o assalto concluído com sucesso, mas ainda havia umas últimas movimentações a fazer. Todo o cuidado era pouco. Ou, se preferirem, Sérgio Conceição não facilitou um bocadinho que fosse na escolha dos 11. Porque, perante os adeptos, era fundamental vencer, mesmo já não sendo preciso. Se foi sempre assim, para quê mudar?
E voltamos à festa no palco, que foi bela. O calor deixou os casacos em casa e o Dragão apresentou-se muito mais claro, a fazer brilhar o branco das camisolas nas bancadas, que passaram a época escondidas atrás dos escuros agasalhados. Muito mais bonito assim.
El Profesor Conceição continuou a ser aclamado. Depois das frases a abrir, recebeu a ovação mais estrondosa da segunda parte, numa altura em que uma das claques ia cantando individualmente para os jogadores - alguns com melodias bem consolidadas, outros com bons ensaios para o futuro.
Foi pena a impossibilidade de estarmos na relva em reportagem durante a festa pós-jogo. O trabalho do jornalista é informar, transmitir sensações e intermediar uma mensagem que faz sentido que chegue nas melhores condições possíveis ao seu público, dai o reparo, que é transversal em festas de conquistas atualmente e que partiu da organização do jogo (Liga) e não do clube (FC Porto), segundo nos disseram.
Valeu mais tarde, já depois das conferências (onde a maior notícia foi não ter havido banho ao treinador), no captar de boas imagens de excelente moldura humana que se aglomerou na Alameda para ver a celebração dos jogadores no exterior do palco.
Marega (sim, falta falar de uma das estrelas da noite) foi dos mais aclamados e, por mais que apresente defeitos técnicos, concretizou uma das maiores inversões de empatia que o futebol português já conheceu.
Ele e... Herrera. Não o conhecemos de forma pessoal, mas as palavras variadas sobre o capitão azul e branco são caracterizadoras de uma personalidade ímpar, que fez dele um líder inquestionável para Sérgio Conceição. E quem o via há um ano...
A Herrera, a Marega, a Sérgio Conceição, a Sérgio Oliveira. Ao FC Porto.
2-1 | ||
Sérgio Oliveira 37' Yacine Brahimi 59' | José Valencia 90' |