O dia já passou e o Caldas está fora da Taça de Portugal, mas o que aconteceu na passada quarta-feira, nas Caldas da Rainha, no Campo da Mata, merece ser contado. Na ressaca de um dia de festa em que aquela mata virou Jamor, o zerozero conta-lhe como foram vividas as horas antes, durante e após o jogo de uma vida para toda uma cidade com um sonho em comum, chegar à final da Taça de Portugal.
Sol, muitas pessoas, caldenses e avenses, reunidos entre cerveja, crianças aos saltos, cânticos, buzinas e... porco no espeto. Entrámos pela Mata Rainha Dona Leonor a meio e, à semelhança dos adeptos que viajaram desde a Vila das Aves, fomos recebidos como se fôssemos das Caldas da Rainha desde pequeninos. «Amigo, aqui só queremos festa, beber e estar no Jamor! Junte-se a nós», disse-nos um senhor bastante bem disposto.
A tarefa era mais difícil e havia consciência disso. O Desportivo das Aves milita duas divisões acima, tem um orçamento incomparavelmente superior e trazia um golo de vantagem. Mas a crença de que ninguém passava na Mata foi uma realidade, pelo menos durante 97 minutos.
A meia hora de iniciar o jogo tomámos o nosso lugar na bancada de imprensa, numa altura em que José Mota pisava o relvado e em que os guarda-redes de ambas as equipas já aqueciam. Os cânticos de motivação foram, literalmente, até ao relvado, onde Dinis Cdr, rapper das Caldas da Rainha, interpretou uma música de homenagem à equipa. Estava na hora do futebol e o Caldas tinha sobrevivido à primeira parte sem sofrer golos. O sonho continuava de pé e chegava a outro patamar no início do segundo tempo, quando Jorge Fellipe fez auto-golo.
O povo das Caldas começou a acreditar como nunca, a cantar como nunca e a tentar dar as forças aos seus jogadores, algo que notava-se começar a faltar. Luís Paulo foi segurando o sonho, Vítor Gomes acabou com ele. Agora eram os adeptos do Desportivo das Aves a cantar! O sonho tinha caído por terra e no apito final de Fábio Veríssimo os jogadores do Caldas foram ao relvado com as lágrimas a descerem pelo rosto. Tinha chegado ao fim o percurso fantástico do Caldas.
Num momento de sentimentos díspares, destaque para o comportamento de caldenses e avenses. O speaker do estádio deu os parabéns ao vencedor e desejou boa viagem e boa sorte no Jamor, os adeptos do Aves pararam a sua festa para aplaudirem, um a um, os jogadores do Caldas.
O regresso a casa para os adeptos do Caldas fez-se com rostos tristes, mas com orgulho de todo o trajeto até aqui. Afinal, o Caldas caiu de pé e foi um digno representante daquilo que é a Taça de Portugal. Em casa, na Mata, com festa e fair-play, uma equipa e uma cidade a lutar pelo mesmo objetivo e com o mesmo sonho.
Terminamos com a pergunta: seria possível isto acontecer se, por exemplo, o jogo tivesse acontecido em Leiria? É esta a festa da Taça.
1-2 a.p. | ||
Jorge Fellipe 55' (p.b.) Vítor Gomes 97' 107' |