O Farense tem realizado um trajeto particularmente interessante esta temporada. O emblema algarvio é líder isolado da Série E do Campeonato de Portugal, confirmando, para já, a ideia de que é um sério candidato à subida de divisão, e segue num bom momento também na Taça de Portugal.
Rui Duarte Taça de Portugal Placard 2017/2018 |
Em vésperas de um dos jogos mais importantes da temporada para o Farense, embora o treinador prefira não lhe atribuir essa carga, por considerar que vão existir ainda jogos igualmente importantes no futuro, o zerozero conversou com Rui Duarte sobre o encontro da próxima quarta-feira, que irá definir o primeiro semifinalista da Taça de Portugal.
As diferenças entre as duas equipas, a calendarização do encontro, a diferença de tratamento desta partida para as restantes, o apoio dos adeptos e ainda as motivações individuais na época de estreia como treinador principal do antigo médio que vai repetir a experiência dos quartos. Agora num papel bem diferente.
Zerozero (ZZ): Tem sido um bom caminho até ao momento e surge agora o jogo dos quartos-de-final da Taça de Portugal. Pode dizer-se que é para já o jogo mais importante da época, tendo em conta todo este ambiente criado em torno da Taça?
Rui Duarte (RD): Sim, com esse enquadramento, sim. Temos a noção de que é um jogo importante. Não queria colocá-lo nesse patamar de ser o jogo mais decisivo da época porque acredito que vão haver desafios daqui para a frente bastante importantes e nos quais vamos ter de estar à altura. Prefiro dizer que é um desafio com um nível de responsabilidade que os meus jogadores gostam, sabendo que vai ser um jogo muito difícil frente a um adversário competente. Tive a oportunidade de ver o último jogo nas Caldas ao vivo e o ambiente é fantástico. Perante isto tudo temos a noção de que vai ser um jogo muito difícil. Temos de ser humildes e trabalhar muito para seguir em frente.
ZZ: O Farense tem uma equipa com muitos jogadores experientes. Isso também tem facilitado a preparação do encontro?
RD: Não tem sido fácil, sobretudo pela euforia que se criou à volta da competição. Muito por mérito nosso e dos adeptos, que têm estado sempre ao nosso lado. Obviamente que as pessoas sentem muito esta competição, pois o Farense tem muitos pergaminhos na Taça, tem história e as pessoas vivem esta competição de uma forma muito especial e diferente. Não é fácil manter o foco quando há a possibilidade de fazer história. Ontem [anteontem] tínhamos um jogo muito importante para ganhar e não era fácil abstrair os jogadores. Mas, com a ajuda dos jogadores mais experientes e perante o compromisso que temos tido nestas duas competições, conseguimos gerir tudo da melhor forma. Agora podemos começar a pensar no Caldas a 100%.
ZZ: São duas equipas do Campeonato de Portugal, mas o Caldas é uma equipa totalmente amadora, ao contrário do Farense. Acredita que isso pode ter algum peso para o jogo de amanhã?
RD: Não, não, não... Acho que é irrelevante. São duas equipas que são competentes com os seus argumentos. Têm o mesmo pensamento que nós, ou seja, provavelmente o adversário mais acessível para o Caldas éramos nos. E nós temos a mesma legitimidade para pensarmos da mesma forma. Temos um adversário da nossa divisão e vamos tentar seguir em frente. Não acredito que esse fator tenha tanta influência. Acredito que o Caldas vai disputar o jogo da mesma forma que nós, com a mesma motivação e intuito de seguir em frente. Vai ser uma oportunidade única para qualquer uma das equipas de seguir em frente, por isso não vejo as coisas dessa forma. Chegando a esta fase com uma boa possibilidade para ambos os lados, acredito que as duas equipas se vão equivaler em termos de motivação. Vamos ver quem será mais forte.
ZZ: Existe também a questão da calendarização, em que o Caldas se queixava da data do desafio e assumindo que a FPF talvez não acreditasse que uma equipa do Campeonato de Portugal, e neste caso amadora, chegasse a esta fase da competição. Além disso, este será o único jogo que não será televisionado. Como é que o Rui olha para estas questões?
RD: Eu percebo perfeitamente o Caldas. Nós passámos pelo mesmo na eliminatória anterior. Também fomos aos Açores e não tivemos avião para o regresso a Faro no dia do jogo, só no dia a seguir. Na altura também condicionou muito o nosso planeamento, tanto desse jogo como do jogo seguinte, pois tivemos um jogo para preparar em cima da hora depois de uma viagem desgastante. Por isso, percebo perfeitamente... São vicissitudes da calendarização da FPF, provavelmente não pensariam que isto fosse acontecer. Em relação à transmissão, era bom para ambas as equipas e para o espetáculo, pois há bons jogadores neste campeonato. Eu entendo isso tudo, mas, sinceramente, estou muito focado naquilo que é o jogo em si do que propriamente em estar importado ou dar mais importância a outro tipo de questões que obviamente seriam boas para o espetáculo.
ZZ: Um bom espetáculo também se faz com muitos adeptos. Vão muitos farenses às Caldas?
RD: Sem dúvida. O Farense é uma equipa que leva muita gente a todo o lado e na quarta-feira [amanhã] vai estar uma moldura humana considerável de pessoas de Faro. Perto de mil pessoas, penso eu. Acredito que isso nos vai dar força. O apoio deles é muito importante para a motivação da equipa. Mas, mais uma vez, compreendo tudo isso, mas o meu foco está mesmo no jogo. É aí que estou concentrado.
ZZ: Vinte jogos (15 no Campeonato Portugal e cinco na Taça), dezoito vitórias, um empate e uma derrota. Apenas quatro golos sofridos no Campeonato. Como é que tudo isto se consegue, apresentando um nível muito bom em duas competições distintas?
RD: Não é muito difícil de explicar. Explica-se com muito trabalho, com muita competência e, acima de tudo, com muito caráter dos jogadores e do grupo que conseguimos construir. Tivemos alguma atenção no planeamento, em escolher jogadores de qualidade e de caráter. Conseguimos criar um bom grupo, que tem um compromisso enorme com os objetivos a que nos propusemos e depois é o trabalho, a competência e a alma que a equipa tem. Trabalhamos muito e temos consciência de que o trabalho que estamos a desenvolver está a ser bem assimilado por todos. Mas também temos a consciência de que isto ainda não acabou e temos de continuar a trabalhar porque nada está conseguido.
ZZ: Mas, a continuar assim. é possível que os adeptos sonhem com a subida do Farense à Segunda Liga?
RD: Sim, acredito que sim. Desta forma, com este compromisso, qualidade, caráter, foco e determinação, acredito que possamos ser uma das 80 equipas. Agora, há equipas boas neste campeonato e não lutamos sozinhos. Temos plena consciência daquilo que nos espera e para onde queremos caminhar. Estamos concentrados e focados naquilo que queremos. Passo a passo, tentando fazer sempre o melhor e esperar que em maio possamos festejar.
ZZ: Temos falado muito do coletivo e agora pergunto-lhe em termos individuais. O Rui regressa aos quartos de final da Taça 14 anos depois – época 2003/04 -, desta vez enquanto treinador e logo na primeira época que inicia como treinador principal. Calculo que seja um motivo de orgulho e perguntava-lhe se esperava esta chegada aos quartos da Taça de Portugal?
RD: É um motivo de orgulho, mas, sinceramente, nada é conseguido sozinho. É um motivo de orgulho, sem dúvida nenhuma, ainda para mais representando um clube como o Farense, que motiva muita gente na região do Algarve e que tem muitos pergaminhos no futebol português. É um trabalho de uma equipa técnica, desgastante, mas de absoluto prazer e paixão pelo futebol. E, depois, muito também se deve aos jogadores que acreditam naquilo que estamos a fazer. Vê-los felizes dá-me um prazer enorme, pois percebo que estamos a caminhar para o lado certo.
3-2 a.p. | ||
Nuno Januário 56' Pedro Emanuel 70' 116' | António Livramento 48' 61' |