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Fabiano Flora conta experiência ao zerozero

Na antiga Birmânia há um treinador português solidário que entrou na história do Southern Myanmar

qGrande parte da população do Myanmar vive nos limiares da pobreza e é impossível passar indiferente a determinadas situações...
Fabiano Flora, treinador do Southern Myanmar
Myanmar. Antiga Birmânia. Já ouviu falar? Situa-se no continente asiático e é um país com um estilo muito próprio. «Totalmente diferente». A humildade é um dos valores que melhor caracteriza a personalidade da sua população e é tudo tão genuíno e simples que parece ter saído de um «livro de histórias». E esta é a história que Fabiano Flora descobriu em 2015.

O treinador português de 32 anos emigrou para Myanmar depois de duas experiências em clubes históricos em Portugal – Olhanense e Académica. Para trás, no início da carreira, ficaram aventuras em clubes de topo do futebol europeu, nomeadamente na formação da Lazio e da Juventus, e que foram fundamentais para definir o seu modelo.

«Foram anos de aprendizagem contínua, onde formulei os meus modelos de treino e de jogo que me são úteis para enfrentar os problemas que encontro nos dias de hoje. Passei alguns sacrifícios, mas foram fundamentais para prosseguir a minha formação como treinador de futebol», explica Fabiano Flora, em conversa com o zerozero.

Southern Myanmar
National League 2017
22J
5V
8E
9D
19-25G
«Normalmente pensamos que o futebol italiano seja “defensivo”, mas de defensivo não tem nada. Trata-se de uma organização de jogo pormenorizada onde muitos dos seus princípios vêm ensinados de maneira diferente daquilo que nós treinadores acreditamos em Portugal. Acredito nesta forma de entender o jogo e é por aqui que tento transmitir aos meus jogadores a essência do futebol», sustenta.

Fabiano Flora ofereceu material escolar a 89 crianças órfãs de uma instituição no Myanmar ©Arquivo Pessoal

«Grande parte da população vive nos limiares da pobreza»

O choque cultural foi «enorme». Religião, alimentação, estilo de vida… Estas foram apenas algumas questões que Fabiano teve de ultrapassar num país que foi durante muitos anos reprimido e orientado pelas forças militares, algo que tem vindo a ser alterado desde a entrada de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz em 1991, para o governo.

qÉ um país que adora futebol. Seguem de perto todas as equipas da Premier League. Algumas referências do futebol português? Ronaldo e Mourinho são os mais mencionados, mas conhecem as nossas principais equipas
Fabiano Flora, treinador do Southern Myanmar
«É um povo muito prestável. Apesar de terem passado muitos anos sob orientação militar, as pessoas têm um coração enorme e colocam os valores materiais sempre depois dos valores morais», conta o treinador que tem assumido um papel importante também em termos sociais.

«Grande parte da população vive nos limiares da pobreza. É impossível passar indiferente a determinadas situações. Fiz o que qualquer um fazia [n.d.r. comprou material escolar para 89 crianças carenciadas], sobretudo quando se trata de crianças órfãs. Felizmente muitos dos monges [budistas], através das suas ações diárias, conseguem ajudar os mais necessitados. No entanto a solidariedade nunca é suficiente para com os demais», confidencia o treinador viseense, que ficou desde logo encantado com a beleza dos templos budistas.

«Os templos são surreais...Parecem saídos de um livro de história. Vive-se um sentimento de paz indescritível. Monges budistas que rezam, o som suave dos imensos sinos que estão colocados no cume desses templos, e o perfume de incenso... Bem… São experiências que se devem viver de perto», assinala.

Mourinho e Ronaldo também são referências no Myanmar

Num país tão rico em termos culturais, importa perceber também qual o espaço que o futebol ocupa na vida de um ponto no globo que conta com mais de 50 milhões de habitantes.

Durante a sua aventura por Itália, Fabiano teve a oportunidade de privar com a lenda Roberto Baggio ©Arquivo Pessoal
«O futebol vai acompanhando o crescimento do próprio país.  Há pessoas na federação que estão a fazer um esforço enorme para que o desenvolvimento desportivo seja uma mais valia para o desenvolvimento de Myanmar. Isto é, o objetivo passa por criar uma maior visibilidade externa com a ajuda do futebol. Foram lançadas as bases para o futuro, há investimentos abruptos nos próprios complexos desportivos e existem academias que foram criadas recentemente com o aval do presidente da FIFA. No entanto, como qualquer projeto, necessita de tempo para que se possam colher mais tarde os frutos», admite.

«É um país que adora futebol. Seguem de perto todas as equipas da Premier League. Algumas referências do futebol português? Ronaldo e Mourinho são os mais mencionados. Seguem a Champions League e conhecem perfeitamente as nossas equipas principais. Têm imenso respeito pelo trabalho que nós treinadores portugueses realizamos. Somos um país muito bem cotado em termos desportivos não só no Myanmar, mas em toda a Ásia», destaca Fabiano, que não esconde o orgulho das suas raízes.

«Sinto imenso orgulho de ser português, sobretudo fora de portas. É um motivo de grande satisfação, mas ao mesmo tempo de grande responsabilidade. Esperam sempre muito de nós e temos de estar à altura para corresponder às exigências que nos são criadas», considera.

Fabiano Flora fixou um novo recorde de pontos do Southern Myanmar na National League ©Arquivo Pessoal

«No futebol não há muito tempo para euforias…»

O Zeyar Shwe May foi o primeiro clube de Fabiano no Myanmar. Começou por ser adjunto de Stefan Hansson, tendo assumido os destinos da equipa como treinador principal no ano seguinte. Realizou uma temporada acima das expectativas e chegou a preencher a manchete do maior jornal desportivo do país [ver foto] depois de adiar a festa do título ao Yadanarbon FC.

Fabiano Flora em destaque na manchete do principal jornal desportivo de Myanmar ©Arquivo Pessoal
Seguiu-se um período de reflexão por opção própria antes de aceitar o desafio do Southern Myanmar, curiosamente a equipa que ficou com a vaga do Zeyar na Liga Nacional, depois de o anterior clube de Fabiano ter sido extinto devido a divergências com o governo. Chegou numa fase conturbada e terminou a salvar o clube da despromoção. E fixou ainda um novo recorde de pontos do Southern na primeira liga.

«Profissionalmente, é sempre bom irmos além dos objetivos que foram traçados pelo clube. Aquando da minha chegada o clube encontrava-se nos lugares de despromoção à segunda liga. Foi gratificante, mas ao mesmo tempo tenho noção das dificuldades passadas. De qualquer forma já passou, estou satisfeito e pronto para o próximo projeto. No futebol não há muito tempo para euforias…», reconhece.

«Renovar? Sim houve e há interesse, claramente. O plano da próxima época já foi delineado e entregue por mim ao Southern. No entanto, surgiram outras propostas não só em Myanmar e neste momento estou a avaliar todos os prós e contras. Espero resolver o meu futuro em breve», revela ao zerozero.

Situações caricatas no Myanmar e o ambiente crispado em Portugal

Já se imaginou a comer morcegos fritos? Pois bem, caso visite Myanmar pode provar esta iguaria. Esta e muitas outras…

qDesde morcegos fritos que ficam com uma cor alaranjada, rãs fritas, peixe cobra, sopa de ossos… Bem, curiosamente, nunca me atrevi a provar estas especialidades...
Fabiano Flora, treinador do Southern Myanmar
«É verdade [risos]. Desde morcegos fritos que ficam com uma cor alaranjada, rãs fritas, peixe cobra, sopa de ossos… Bem, curiosamente, nunca me atrevi a provar estas especialidades. Faço uma dieta sobretudo à base de arroz e frango», conta.

«Situações engraçadas acontecem todos os dias. É muito fácil esboçar um sorriso com aquilo que vemos diariamente… O trânsito é uma confusão inacreditável e ainda hoje não percebo muito bem como funcionam os sinais de trânsito. E também é comum vermos 3/4 e até cinco pessoas numa mota», descreve.

E o sonho, Fabiano… Regressar a Portugal é um objetivo?

«O nosso futebol... Cada vez dá-me mais pena! Um sistema que só irá terminar após o governo local tomar medidas drásticas, tal como aconteceu em Itália há uns anos atrás. Até lá, vai-se vivendo num clima de tensão e de insultos constantes entre clubes, dirigentes e próprios jogadores. É triste! Se gostaria um dia de representar um grande clube, claramente sim. O meu sonho passa por trabalhar cada vez mais e não perder a paixão que se encontra dentro de mim», remata.

Comentários

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motivo:
ZeroZero
2017-11-13 18h36m por iSMURF4
Não tem nenhum treinador português a treinar em Singapura? 😂
Zero zero
2017-11-13 18h30m por ruipatricio
Parabéns! Que grande trabalho em encontrar esta notícia é dar destaque. . . Que felicidade visitar o site e ter uma notícia destas em destaque. Se todos os sites e jornais em Portugal tivessem notícias destas, os amantes do desporto não só eram mais cultos mas também haveria menos rivalidades e parvoíces no nosso futebol!
ZZ
2017-11-13 12h15m por moumu
Nunca pensei que houvesse um treinador português na Birmânia. . . bom artigo!
ZZ
2017-11-13 11h48m por Jorusescu
Mais uma salva de palmas para a equipa do Zero Zero em fazer grandes reportagens como estas.
Ao fim ao cabo vem também ajudar (e muito) a carreira destes jovens treinadores, acredito muito que a escolha do Moreirense no Sérgio Vieira como treinador tenha alguma influência da parte do ZZ em o ter acompanhado

De qualquer maneira, espero ouvir mais notícias de Fabiano Flora, Eduardo Almeida e de muitos outros treinadores (e jogadores) que tem que abandonar Portugal para treinar em paises pobres para que o seu valor seja reconhecido
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