Platinum-Returns 23-04-2024, 16:11
[Artigo originalmente publicado em fevereiro de 2016 e republicado a 1 de novembro de 2017, a propósito da chegada do técnico ao Moreirense]
O título do Brasileirão em 2015 foi para o Corinthians, um nome mais do que feito e com o sucesso que se reconhece. Só que esse Corinthians, agora a disputar o estadual Paulistão, foi surpreendido por uma sensacional Ferroviária, uma equipa que fala um português bastante familiar. De Póvoa do Lanhoso. E é aí que esta história começa. Sérgio Vieira, conhece? Vale a pena.
Atualmente com 33 anos, deixou a sombra de Jesualdo Ferreira há um ano atrás para se aventurar sozinho numa aventura diferente, com objetivos diferentes e intenções muito próprias: o sucesso e a glória no Brasil. Isto porque, acredita, as conquistas lusitanas por terras brasileiras não se esgotaram na ação de Pedro Álvares Cabral.
«Desde fevereiro de 2015 até ao último mês vivi na academia do Atlético Paranaense sozinho. Têm excelentes condições. Agora, mudei-me de cidade e, como tal, a minha mulher e a minha filha vieram para cá», contou, ao zerozero.pt, antes de explicar o porquê de se poder considerar um treinador... emprestado.
«Estou cedido pelo Atlético Paranaense. É um projeto dos dois clubes [Atlético Paranaense e Ferroviária], estou em Araraquara, uma cidade do Estado de São Paulo. Isto é um pouco como os treinadores que, mesmo não estando oficialmente ligados ao FC Porto, acabam por ganhar experiência noutros clubes, como por exemplo acontece com o Capucho no Varzim. Aqui, é uma parceria que existe entre os dois clubes, que se ajudam mutuamente. O Atlético Paranaense cede jogadores, equipas técnicas e a academia para prepararmos a época. A Ferroviária cede o espaço para jogadores atuarem numa competição importante, como é o Paulistão, que é o campeonato estadual mais importante do Brasil».
Perante isso, perguntamos ao técnico as razões para o furor que está a causar no emblema de Araraquara.
«Equipa compacta, organizada defensivamente, que privilegia a posse de bola. Por exemplo, contra o Corinthians nós tivemos mais posse de bola do que eles, o que tem sido habitual nos nossos jogos. E estamos a falar de uma equipa que esteve muitos anos fora da elite do campeonato Paulista. Esta é quase uma nova estreia para nós».
De jogador teve pouco. E reconheceu-o, quando, aos 21 anos, pendurou as chuteiras depois de ter chegado à III Divisão Nacional. O caminho era outro. Tirou treino especializado em futebol em Rio Maior, andou pela Naval com Mariano Barreto, depois na Académica com Domingos, com quem seguiu para Braga e a seguir Sporting. Sempre de caderno na mão a tirar notas sobre a equipa e os adversários.
Nos leões, trabalhou ainda com Sá Pinto e Vercauteren, antes de se cruzar, de forma decisiva, com Jesualdo Ferreira. A partir daí, a história foi esta:
Num ápice, uma reviravolta de realidade para Sérgio Vieira, que só teve um momento de hesitação: «Foi difícil para mim, pois, quando me convidaram, eu refleti e dei uma resposta. No dia seguinte, o professor Jesualdo recebeu a proposta do Zamalek e foi complicado, mas o agente conseguiu solucionar um profissional para ajudar o professor».
O cordão foi cortado com o professor, ainda que a «excelente relação» se mantenha. Desde então, tem sido uma roda viva, sempre no caminho do crescimento e afirmação. Inicialmente, integrou um projeto para dar formação a todos os escalões, no capítulo de treino individual e por setores, o que correu «muito bem», tanto que, «passado 3 ou 4 meses, eles propuseram assumir a equipa de sub-23».
Entretanto, surgiu outro projeto, no Guaratinguetá, que o Atlético também tem relação. Pegaram a equipa no último lugar e fizeram 16 pontos, conseguindo a manutenção na Série C, um campeonato menos mediático, mas onde chegaram a defrontar equipas com 50/60 mil pessoas nas bancadas.
A história não tem fim e desenvolve-se a uma velocidade estonteante. Por breves momentos, o nosso entrevistado chegou mesmo à equipa principal do Atlético Paranaense. Foram somente dois jogos.
«Quando terminou essa Série C, coincidiu com a saída de Milton Mendes e eles sugeriram eu pegar a equipa principal de forma interina. Fiz dois jogos, passámos a eliminatória na Sudamericana e depois o jogo contra o São Paulo, que perdemos 1x0. Tudo numa semana, nem sequer conseguimos treinar. A seguir, apareceu esta possibilidade onde estamos agora».
A intenção é, agora, mais e mais. Ainda que, a curto prazo, a vontade seja conquistar o Brasil e só mais tarde, eventualmente, voltar: «A curto prazo, o objetivo é conquistar títulos cá, sejam nacionais, sejam continentais ou mundiais. Conseguindo isso, claro que o quero fazer noutros sítios, mas a fazê-lo será para continuar a conquistá-los, porque só assim faz sentido pensarmos».