Foi apenas uma época e, seguramente, não foi das melhores das águias. Aliás, analisando o século XXI, terá sido das piores na Luz. Começou Fernando Santos, seguiu-se Camacho e acabou Chalana. Quarto lugar, queda na fase de grupos da Champions (e nos oitavos da Taça UEFA), uma dura derrota por 5x3 na Taça de Portugal. No fim, a despedida de Rui Costa. No meio, vários nomes que não garantem as melhores memórias.
Um deles foi o central Edcarlos. O brasileiro chegou depois de dar nas vistas no São Paulo, por quem tinha sido campeão do mundo de clubes, só que a época, por arrasto da coletiva, não lhe correu bem individualmente. Saiu no fim, de forma precipitada (confessou o próprio), mas a ligação emocional continuou até aos dias de hoje. Fomos conversar com ele.
Aos 30 anos, atua no Atlético Mineiro e está feliz da vida. Confessou-nos que houve hipótese de rumar ao SC Braga em 2012 e não escondeu que Luisão é especial.
Em Portugal esteve apenas uma época. A memória ainda está fresca?
Foi um ano em que estive na equipa certa, embora num período não muito bom. Aprendi muitas coisas aí no Benfica, tive oportunidade de jogar com jogadores de grande nomeada, como o Nuno Gomes, o Rui Costa, o Luisão. Ensinaram-me muito que me foi útil na carreira.
A época, de facto, não foi famosa. Que melhores recordações guarda?
O balneário, a convivência com todos eles. Infelizmente, não foi uma época muito boa, mas tirei boas ilações para uma carreira que, mesmo depois disso, foi muito vitoriosa até agora.
Levou o Benfica no currículo. Isso mudou a forma como passou a ser visto?
Sim, sem dúvida. Senti-me honrado por jogar numa equipa tão prestigiada como o Benfica e isso dá-te mais peso para o currículo. Depois dessa passagem, fui olhado com outra importância, pois todo o mundo vê o Benfica como um grande da Europa.
Recuemos ao início. Foi difícil a adaptação?
O Luisão e o David Luiz acolheram-me muito bem na altura, o que facilitou muito a minha integração.
Luisão que, ainda hoje, faz parte do clube e que é um símbolo...
Tinha uma relação muito boa com o Luisão. Não é difícil falar dele, pois é uma excelente pessoa dentro e fora de campo. A convivência sempre foi muito boa, mesmo com as famílias. Ele acolhe muito bem os brasileiros que chegam aí
E são muitos os brasileiros que continuam a vir. Júlio César, Talisca, Jonas...
O carinho que os portugueses têm pelos brasileiros facilita muito. Depois de mim, vi os outros brasileiros sendo muito bem integrados. Os portugueses não são invejosos, por isso tratam muito bem quem vem de fora, respeitam muito os brasileiros.
Continua a acompanhar o Benfica?
Sempre que posso, vou acompanhando a equipa, vejo os jogos. Sobretudo por causa do Luisão, da pessoa que ele é, e, claro, o Benfica. É uma grande instituição e, para onde for, vou sempre falar bem do Benfica. Ficou marcado na minha carreira e no meu coração a forma como fui tratado pelos jogadores e pelos adeptos
Tem saudades?
Muitas, tenho sim. É uma torcida muito fanática, que levantava sempre a equipa. Fiquei com pena de não ter ficado mais tempo.
E porque não ficou?
Não sei, talvez um pouco mais de paciência, evoluir e esperar que as coisas corressem melhor. Talvez me tenha faltado alguma maturidade, era jovem e tinha pressa de jogar. Quis ir para outros lados.
Mas, se voltasse atrás, fazia diferente?
Fazia. Tinha contrato de três anos e não tive paciência. Surgiu a oportunidade de vir para uma grande equipa do Brasil [Fluminense], financeiramente era melhor para mim, por isso pedi para me darem a oportunidade de sair.
E nunca pensou voltar ao futebol europeu?
Existiram várias oportunidades, mas não tão rentáveis quanto isso. Passei pela Ásia, joguei no México e, financeiramente, essas foram experiências mais atrativas. Não me arrependo. O futebol é muito curto e temos que decidir, às vezes abdicar de ir para algo mais visível e dar privilégio ao aspeto financeiro.
Para Portugal, houve alguma hipótese?
Sim, em 2012 houve uma sondagem para o SC Braga, mas não se concretizou.
Nesta altura, joga no Atlético de Mineiro. Que tal a experiência?
Está a correr muito bem, tivemos um ano muito vitorioso e com títulos no ano passado. Este ano também e estamos à procura de conseguir o Brasileirão, aqui em luta com o Corinthians. Estou muito feliz aqui no Atlético de Mineiro, é um grande clube e quero continuar aqui mais uns anos.
Não se pode queixar de falta de títulos...
Sim, fui campeão do Mundo, ganhei a Libertadores, fui campeão do Brasil. Consegui alguns títulos importantes na minha carreira.
O que está a faltar?
Ah, cara... Felizmente aqui no Brasil já conquistei todos os títulos importantes que poderia conquistar. Agora melhor só voltando à Europa e ganhar um título europeu.