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When Juscelino KubitschekWhen Juscelino Kubitschek became president of Brazil in 1956, it signalled the beginning of a new era. It was a time of growth and optimism, exemplified by the ambitious Plano de Metas, a plan to endow the nation with new infrastructures, including the building of a whole new capital city, Brasilia. The slogan in vogue at the time was that Brazil would advance “fifty years in five”.
A 29 de junho de 1958, o futebol brasileiro tinha lugar marcado com a história. Nessa tarde, no Rasunda em Estocolmo, a magia de Pelé e companhia venceu os anfitriões e o Brasil conquistou o seu primeiro título de Campeão Mundial.
Um ano especial
1958 é um ano mágico na história do Brasil, recordado com carinho pelos brasileiros, e as razões para tão gratas memórias são vastas. Basta lembrar que, além de ter sido o ano em que finalmente o Brasil se sagrou Campeão Mundial de futebol, foi também o ano em que Oscar Niemeyer começou a desenhar Brasília, ao mesmo tempo que era editada «Gabriela, Cravo e Canela» de Jorge Amado, ou que João Gilberto gravava o «78 rotações», como então se dizia, «Chega de Saudade», o pontapé de saída da Bossa Nova. Não é à toa que Joaquim Ferreira dos Santos escreveu que 1958 era «o ano que não devia terminar».
O Brasil respirava mudança. Nunca antes, «Ordem e Progresso» faziam tanto sentido como lema do grande gigante sul-americano. Quando Juscelino Kibtschek se tornou presidente do Brasil, em 1956, o país entrara numa nova era de otimismo e esperança, em que o sucesso e a afirmação do país passavam pelo desenvolvimento e a aposta em novas infraestruturas. O projeto de construir uma nova capital, Brasília, entusiasmava os brasileiros com o slogan de que era preciso fazer avançar o Brasil «cinquenta anos em cinco».
O sonho brasileiro
Até que ponto os planos governamentais alteraram a face do Brasil a longo prazo é uma discussão que não terá lugar aqui. Mas, se nos cingirmos ao futebol, não há duvida que 1958 é um ponto sem retorno na história do futebol brasileiro e mundial. Até ao Mundial da Suécia, o Brasil não era mais que uma seleção que jogava bonito com jogadores promissores e que por norma falhava sempre quando era posta à prova.
Kurt Hamrin foge a Nilton Santos e Djalma Santos, enquanto Gilmar voa na sua direção.
Inexistente em 1930, uma piada em 1934. Em 1938 estivera perto do sonho, mas a sobranceria custara-lhe a final. Em 1950, tinha tudo para ganhar e acabou em lágrimas; em 1954, a Hungria de Puskas provara que era de outra galáxia.
Quando partiram para a Suécia, os jogadores brasileiros sabiam que mais do que a indiferença do resto do mundo, carregavam a desconfiança de uma nação inteira.
Jogo a jogo, a seleção teve que ultrapassar a desconfiança da torcida, vencendo a Áustria (3x0), empatando com os ingleses a zero e batendo a URSS (1x0) antes de eliminar o País de Gales com um golo de Pelé.
Nas meias, a final antecipada contra a França de Just Fontaine acabou com uma vitória por 5x2 e um hat-trick de Pelé que, juntamente com Garrincha, se afirmava como uma referência na equipa.
O fim do complexo do vira lata
Antes do torneio começar, Nélson Rodrigues escrevera na Manchete Esportiva que o Brasil sofria do «complexo do vira lata». Na sua opinião, o Brasil achava-se inferior ao resto do mundo.
Pelé marca o seu primeiro golo a Svensson.
«Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.»
Confiante no ADN futebolístico brasileiro, Nélson Rodrigues decretava: «A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção».
Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.
O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.
A grande final
A 29 de junho, as duas equipas alinharam-se lado a lado no relvado do Estádio Rasunda. O francês Maurice Guigue apitou e a bola começou rolar perante 51,800 adeptos, na esmagadora maioria suecos, todos eles embalados pelo sonho de ver a sua equipa sagrar-se Campeã do Mundo.
Os amarelos - o Brasil equipou de azul - chegaram ao golo logo aos 4 minutos por intermédio do capitão e referência Nils Liedholm, mas a festa durou pouco tempo e, cinco minutos depois, Vavá repôs a igualdade.
Aos 32 minutos, Vavá voltou a marcar e colocou o Brasil na frente, resultado que perdurou até ao intervalo, deixando esperanças aos adeptos da casa que esmoreceram perante a exibição contrária no segundo tempo.
Em 2012, os campeões brasileiros de 1958 (em destaque Pelé e Zagallo) foram despedir-se do Estádio Rasunda que seria demolido para dar lugar à Friends Arena.
Pelé primeiro e Zagallo depois deixaram o Escrete confortável na frente com 4x1 no placard. O público sueco, hostil até então, começou a aplaudir a mestria brasileira. Simonsson ainda reduziu quando faltavam dez minutos para o fim, mas Pelé ainda voltou a marcar, selando a vitória com um golo de cabeça.
O Brasil finalmente conquistava o mundo e demonstrava aquilo que tantos há muito suspeitavam: o brasileiro nasceu para jogar futebol.
Rodrigues tinha razão e o dia 29 de junho de 1958 tornou proféticas as suas palavras. O Brasil endoideceu e saiu para a rua para festejar a tão esperada vitória. O Brasil não era mais um vira-lata.
«E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício».