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De todas as grandes equipas do futebol português, não haverá nenhuma mais lendária que os «cinco violinos», a máquina de fazer golos que tornou o Sporting no maior clube português no fim dos anos 40. Talvez o passar do tempo tenha ajudado na lenda, mas o mito era bem real no tempo em que os cinco jogavam, como o «histerismo» do personagem interpretado por António Silva em «O Leão da Estrela» tão bem demonstra.
Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano, foram os cinco ases que mudaram a História do Sporting e do futebol nacional e o seus nomes são ainda religiosamente recitados por quem os viu jogar - sportinguistas ou adversários - e pelos muitos sportinguistas que nunca viram o quinteto maravilha em ação, mas que desde sempre foram ensinados a toma-los por heróis.
Fernando Peyroteo, o artilheiro dos «cinco violonos», um dos maiores goleadores da História do Desporto Rei.
O que muitos não sabem, é que só jogaram juntos durante três anos, entre 1946 e 1949, conquistando o tricampeonato, pois Peyroteo já não fez parte da conquista do famoso tetracampeonato leonino, conquistado entre 1951 e 1954.
Ainda mais surpreendente, é saber que juntos, só efetuaram 56 partidas, das quais uma foi no misto B-S-B (1) e as outras duas na seleção nacional. 56 partidas em que apontaram 215 golos, o que dá uma impressionante média de 3,83 golos por jogo. Ao todo, perderam somente nove jogos...
Peyroteo foi o primeiro
Para alguns, a epopeia dos «cinco violinos» não começara com esse jogo de outubro de 1946, nem com o trabalho de Cândido de Oliveira, mas sim com a chegada a Lisboa, proveniente de Angola onde nascera, de Fernando Baptista de Seixas Peyroteo de Vasconcelos, a 26 de Junho de 1937. Só se estrearia de leão ao peito em Setembro, numa premonitória vitória por 5x3 sobre o Benfica.
Na época de 1943/44 chegaram Jesus Correia e Albano, seguidos três épocas mais tarde por Travassos e Vasques. Fora o mestre Cândido de Oliveira que reunira os cinco no clube, criando a «máquina», mas seria o inglês Robert Kelly, que entretanto o substituiu, a juntar pela primeira vez os cinco ao mesmo tempo no «onze» inicial. O dia foi o 6 de outubro de 1946, nas Salésias, o Campeão Nacional Belenenses, visitava o Sporting, em jogo para o Campeonato de Lisboa. Os leões começaram à leão, com golos de Jesus Correia e Vasques, mas os azuis reagiram e empataram o jogo a duas bolas. O Sporting não ganhava, mas a promessa de golos ficava no ar...
A primeira vitória chegou ao segundo jogo, a 17 de novembro, com um 1x3 em casa do Benfica, em jogo doa 10 ª jornada do Campeonato de Lisboa. A estreia do quinteto no Campeonato foi a 24 de novembro, com um histórico 5x9 em Famalicão, com Peyroteo a marcar cinco golos. No jogo seguinte, novamente nove golos (9x2) ao Atlético, mas ao terceiro jogo a derrota, nas Salésias contra o campeão Belenenses (2x0). Seguiu-se uma vitória sobre o FC Porto (3x2) e um interregno de jogos sem contar com os «cinco» que só seria interrompido contra o Benfica, à 9ª jornada, com um claro 6x1.
Seguiu-se uma época de vitórias volumosas, que culminou na consagração dos leões como Campeões Nacionais. Nas duas épocas seguintes repetiriam o sucesso, encantando tudo e todos com o seu futebol demolidor, as constantes «chuva-de-golos» com que brindavam os adversários.
O país estava rendido ao futebol dos cinco, mas seria só após o jornalista da Stadium se referir ao quinteto como «os cinco violinos», que o nome pegou e a lenda se firmou.
«Campeonato do pirolito»
Muitos jogos e vitórias podiam ilustrar a força dos «cinco violinos», mas nenhum será melhor do que o Benfica x Sporting a 25 de abril de 1948, o dérbi que resolveu o «campeonato do pirolito». O Benfica havia vencido na 1ª volta em casa dos leões por 1x3, quando bem perto do final do campeonato comandava com dois pontos de avanço. Os leões visitavam o reduto das águias cientes da dificuldade, dado que a somar aos dois pontos de atraso e à derrota em casa, juntava-se ainda um pior saldo de golos que os rivais.
Os jornais da época faziam eco dos feitos leoninos. A linha avançada do Sporting fazia as delícias dos ilustradores.
As contas do título eram fáceis de fazer: ou o Sporting vencia por três ou mais golos de diferença ou dizia adeus ao título. Mas para os «cinco violinos» não havia impossíveis e Peyroteo fez quatro golos (contra um dos benfiquistas) e o Sporting festejou o campeonato, que passou para a história como o «campeonato do pirolito».
A verdade é que o Sporting ainda perdeu um jogo, à 24.ª jornada, com o Vitória de Setúbal no Bonfim (0x1), mas pode respirar de alívio ao tomar conhecimento que o Benfica fora derrotado em Elvas por 1x2. Dizia-se então, que os dirigentes do Benfica tinham prometido dinheiro e um fato novo a cada jogador sadino, se estes conseguissem parar o Sporting. Eles conseguiram e o Benfica teve de cumprir a promessa, mesmo que o triunfo vitoriano tenha sido em vão... Para culminar uma época de sucesso, o Sporting conquistaria ainda a Taça de Portugal, batendo os azuis de Belém na final do Jamor por 3x1.
E porquê pirolito? Porque nesses tempos cinzentos em que não havia muitas opções de escolha no que concerne a refrigerantes e sumos engarrafados em Portugal, já para não falar da coca-cola proibida por Salazar, o «pirolito» era uma bebida gasosa famosa que encantava miúdos e graúdos. A característica mais importante dessa bebida é que a tampa não era uma vulgar carica, mas sim um berlinde, um «pirolito».
Um «pirolito», um berlinde, uma pequena bola... e dado que foi pela diferença de uma singela bola que atravessou a linha de golo que o Sporting foi campeão, os benfiquistas não demoraram muito a apodar o feito leonino de "campeonato do pirolito", e o nome pegou.
Números impressionantes
Entre o primeiro jogo de Peyroteo em 1937 e a despedida de Travassos em 1958, o último a pendurar as botas, os leões conquistaram dez campeonatos nacionais, cinco Taças de Portugal, um Campeonato de Portugal e nove Campeonatos de Lisboa, além dos mais diversos troféus de torneios e encontros amigáveis que se disputavam ao tempo.
José Travassos, o Zé da Europa, o cérebro dos «cinco violinos».
Durante os anos em que conviveram em campo, os cinco nunca perderam um jogo com o Benfica (cedendo apenas um empate), perdendo apenas por uma vez com o FC Porto, nunca conhecendo o sabor da derrota enquanto visitados, ou quando jogaram pela seleção.
De todos os adversários que defrontaram os «cinco violinos» por mais de uma vez, apenas o FC Barcelona repetiu vitórias, vencendo os leões nas duas vezes em que se encontraram, uma na Taça Latina e outra num particular, o que transforma o clube catalão no grande «bicho papão» do quinteto.
Curiosamente, e apesar dos maus resultados com o Barcelona, seria em terras espanholas que os «cinco violinos» atingiram a excelência, vencendo o Atlético Madrid por 3x6, com seis golos de Jesus Correia, numa das mais célebres vitórias de sempre do futebol português, em terras de nuestros hermanos.
O fim dos violinos
A grande equipa dos «cinco violinos» conheceu o seu epílogo no final da época de 1948/49, quando apenas com 31 anos, Fernando Peyroteo resolveu pendurar as botas. O Sporting acusou de tal maneira a ausência, que perdeu o campeonato seguinte para o rival Benfica, não conseguindo o tão sonhado «tetra», que a ter sido conquistado, e devido ao «tetra» que se sucedeu, poderia ter permitindo um hipotético e inimaginável octacampeonato, um recorde de oito campeonatos seguidos.
A equipa do Sporting prepara-se para receber o troféu dos «Cinco Violinos», uma justa homenagem que os leões fazem à sua mais célebre equipa. @Carlos Alberto Costa
O «tetracampeonato» leonino seria recorde durante décadas, com o Benfica a chegar por quatro vezes ao «tricampeonato», mas a falhar sempre no quarto ano, a tentativa de igualar o feito leonino. O recorde só "cairia", quarenta anos passados, quando o FC Porto, não só igualou o tetra leonino, como conseguiu supera-lo com um inédito «pentacampeonato», conquistado entre 1994/95 e 1998/99.
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(1) - Misto B-S-B - Equipa formada por jogadores de Belenenses, Sporting e Benfica, que em diversas situações se reunia para defrontar adversários estrangeiros.