Clubes empresa
Ao longo da história do futebol, inúmeras são as ligações entre o mundo empresarial e o Desporto Rei. A primeira ligação óbvia surgiu em Inglaterra, quando o futebol "fugiu" das escolas e colégios e foi acolhido pelos proletários.
Trabalhadores de fábricas de norte a sul de Inglaterra adotaram o jogo e os patrões rapidamente perceberam a vantagem de dotar as suas fábricas de clubes desportivos que reforçassem o espírito de equipa e a solidariedade entre trabalhadores.
Com o passar dos anos, diversos clubes nasceram no seio de empresas e ainda hoje estão ligados às mesmas, como o PSV, nos Países Baixos, e o Bayer Leverkusen, na Alemanha. Outros, há muito que perderam essa ligação à casa mãe, como é o caso do Arsenal, de Londres, do Zenit, de São Petersburgo ,ou do Boavista, que nasceu como uma equipa da Fábrica Graham no Porto.
O caso português
Em Portugal, talvez o mais famoso dos clubes-empresas tenha sido a CUF, mais tarde Quimigal e hoje em dia conhecido por Fabril, mas já sem ligação ao grupo que Alfredo da Silva tornou numa instituição nacional, outros seguiram o caminho da CUF, como foi o caso da Torralta ou do Riopele.
Este último, foi fundado em Pousada de Saramagos, uma freguesia do Concelho de Vila Nova de Famalicão, por iniciativa dos proprietários e dos funcionários da Fábrica Têxtil Riopele SA, corria o ano de 1958.
As primeiras equipas do clube eram compostas unicamente por trabalhadores da empresa. Com o passar dos tempos, passaram a ser admitidos os familiares dos trabalhadores nos escalões de formação, alastrando-se a área de recrutamento aos habitantes da região.Os sucessos do Riopele nos escalões mais baixos chamaram jogadores de vários pontos do país, sendo que esses eram aceites na equipa de futebol e tinham como sustento o trabalho realizado na empresa.
A passagem pela primeira divisão
O ponto mais alto do clube aconteceu em 1977/1978, quando participou pela primeira e única vez na primeira divisão.
A estreia aconteceu a 4 de setembro de 1977 e logo com uma vitória por 2x0 sobre a Académica. Nas três jornadas seguintes conseguiu dois empates sem golos fora de casa com o SC Braga e o Estoril, tendo ainda vencido em casa o Vitória de Setúbal por 2x1. As primeiras quatro rondas foram bastante positivas mas uma série negativa de seis derrotas consecutivas deitaram por terra o bom trabalho conseguido no início da prova.
Assim, sem nunca conseguir uma regularidade de bons resultados ao longo da época, o Riopele acabou o campeonato no penúltimo lugar, apenas à frente do Feirense, com 21 pontos, acabando por descer de divisão. A despedida aconteceu em casa, frente ao Benfica, jogo que os encarnados venceram por 4x1.
Estrelas e o fim
De referir que dessa equipa do Riopele que participou na primeira divisão fazia parte Jorge Jesus, que ficaria conhecido pelo seu trabalho enquanto treinador, e que, enquanto jogador, também representou o Almancilense, Benfica Castelo Branco, Atlético, Estrela da Amadora, Farense, Vitória de Setúbal, União de Leiria, Juventude de Évora, Belenenses, Sporting, e Peniche.
Uma das pérolas da formação do Riopele seria Vítor Paneira, um ala que faria furor ao serviço de Benfica e Vitória de Guimarães.
Após ter regressado, em 1978, ao segundo escalão, o Riopele nunca mais conseguiu voltar ao convívio dos grandes e acabou por ser extinto em 1985, 27 anos depois de ter sido fundado, pondo fim a um do mais bem-sucedidos projetos empresariais na área desportiva no nosso país.