Carcóvia, Kharkiv (Харків), em ucraniano lê-se Harkiv, por muitos conhecida pelo nome russo de Kharkov é a segunda maior cidade da Ucrânia, já muito próximo da fronteira da Rússia, numa parte do país onde as influências russófonas são notórias não só nos costumes, e no idioma falado, mas também na arquitetura e na história, em particular a do período soviético.
Fundada pelos cossacos russos em 1654, foi a primeira capital da Ucrânia soviética. Aqui foi proclamada a República Socialista Soviética Ucraniana na véspera de Natal de 1917, então com o nome de República Popular da Ucrânia. Seria capital da Ucrânia Bolchevique e depois Soviética até 1934, altura em que o governo passou para Kiev.
Bolcheviques e nazis
Foi no edifício da NKDV (futuro KGB) de Carcóvia, que foram assassinados cerca de 3800 oficiais polacos, numa tragédia que faz parte dos eventos que passaram à história como os Massacres de Katyn, onde por ordem expressa de Josef Stalin, as elites militares, civis e intelectuais polacas foram executadas (cerca de 22 mil pessoas).A cidade seria conquistada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial e só quase dois anos depois seria definitivamente liberta pelo Exército Vermelho. Setenta por cento da cidade foi destruída, centenas de milhares de habitantes morreram e a população judaica da cidade foi quase erradicada.
A arquitetura soviética
A cidade cresceu desmedidamente durante o período soviético. As autoridades comunistas abriram largas avenidas, algumas que chegam aos 20 quilómetros de comprimento. Carcóvia já era um centro industrial e universitário de destaque durante o Império Russo, muito antes da chegada da Revolução de Outubro.
A sua Academia já ganhou quatro Prémios Nobel em campos tão diversos como a física, a biologia ou a economia. Os estudantes locais recordam a quem visita a Universidade, que Carcóvia sempre foi um centro de excelência... Dos czares aos bolcheviques, todos reconheceram na Academia de Carcóvia uma aura de sapiência.
Mas o edifício da Universidade é severamente soviético. Não é preciso nenhum exercício de imaginação para regressar aos tempos de Brejnev, Khrushchev ou mesmo Stalin...
O Derzhprom, continua altaneiro, como uma marca do período revolucionário. Ali se aglomeravam um conjunto de serviços estatais, e a mensagem era mostrar o poder do novo regime, e a simplicidade da modernidade socialista. No seu tempo, o Derzhprom era o maior edifício da Europa, e as suas dimensões eram de tal maneira impressionantes que os nazis tentaram em vão implodi-lo.
Não muito longe, na Praça da Estação, podemos encontrar o Terminal, mais um belo exemplo da arquitetura neoclássica soviética, ornada com momentos fulcrais da história da URSS. Curiosamente, do outro lado da Praça, está a Estação dos Correios, exemplo perfeito da arquitetura minimalista soviética.
Entre os dois mundos, ainda se divide hoje a face de Carcóvia, ora com os seus prédios funcionais e os seus caixotes comunistas de um minimalismo assustador, ora com os seus não menos carismáticos «bolos de noiva», simbolos da arquitetura imperialista soviética, ornamentados até um excesso que provoca náuseas.
Na Sombra de Lenine
É assim Carcóvia. Muito próxima da Rússia, ainda muito próxima da União Soviética, misteriosamente longe da Ucrânia que se pode encontrar em Kiev ou Lviv. Por isso Lenine está orgulhosamente de pé no centro da Praça da Liberdade, convivendo a herança brutal da União Soviética com a ideia de Liberdade, como se tudo fosse absolutamente natural nesta versão da história...
À sombra da estátua de Lenine, a cidade vive dormente, sem nostalgia de um passado recente que teima em preservar, mas, ao mesmo tempo, sem parecer ter grande pressa para embarcar neste futuro que agora lhe apresentam... Carcóvia é Kharkiv, mas ainda olha para trás quando lhe chamam Kharkov.