É comum ouvir entre a vox populi sportinguista que João Rocha foi o melhor presidente leonino de todos os tempos. Uma análise subjetiva que não nos compete a nós fazer. Cingindo-nos a factos facilmente comprováveis podemos dizer sim, que João Rocha foi o presidente leonino com o mais longo consulado de sempre no clube. Consulado de treze anos onde conquistou três Campeonatos Nacionais, Três Taças de Portugal e uma Supertaça.
Um projeto revolucionário que a Revolução abortou
Quando o sadino João António dos Anjos Rocha, chegou à presidência do
Sporting em setembro de 1973, era então um empresário de 43 anos, um quase desconhecido no mundo do futebol, de quem se sabia ter sido um possível candidato à liderança do Vitória de Setúbal.Chegado a
Alvalade com um projeto que prometia revolucionar o clube, lançou as bases para tornar o
Sporting o primeiro clube empresa em
Portugal. Surgia então a Sociedade de Construções e Planeamento, ratificada pelos sócios, em Assembleia Geral, em novembro de 1973.
Em março do ano seguinte, o governo de Marcello Caetano aprova a sociedade e permite a emissão de 2,5 milhões de ações com um valor nominal de 100 escudos. Mas o regime estava no seu estertor e no mês seguinte, a Revolução de Abril acabou por cobro a esse (e outros projetos). João Rocha teve então de encontrar soluções e dedicar-se a novos caminhos para solidificar o
Sporting, que vivia uma crise financeira que segundo o próprio, colocava a existência do próprio clube em perigo.
Dentro do campo, porém, os leões viviam uma época dourada, com a conquista da Taça da
Portugal a garantir a dobradinha, num ano em que o clube voltara a uma meia-final europeia, precisamente dez anos depois da primeira vez.Só em 1981-82, o
Sporting voltaria a ter uma época com paralelo à de 1973-74, conquistando novamente a dobradinha, a que se somaria a vitória na Supertaça Cândido Oliveira e uma campanha de mérito na Taça dos Campeões, chegando inclusive aos quartos-de-final.
Muito mais que futebol
Fora das quatro linhas, o Sporting vivia um momento glorioso, somando ao futebol títulos nacionais no hóquei em patins, basquetebol, andebol, entre outras modalidades.
Defensor acérrimo do ecletismo, João Rocha foi o «pai» do Sporting multidesportivo, da tal «maior potência desportiva nacional» que muitos ainda advogam, quando falam do Sporting.
Campeão Europeu de Hóquei em Patins - o primeiro clube português a sê-lo -, o Sporting venceu também durante o seu consulado duas Taças das Taças e uma Taça CERS. No Atletismo foram os anos gloriosos de Carlos Lopes e da medalha de ouro em Los Angeles em 1984, ou do mítico recorde dos dez mil metros de Fernando Mamede.
Carlos Lisboa no basquetebol, Joaquim Agostinho no ciclismo, Rita Vilas Boas na ginástica, eram outros rostos de um Sporting eclético e vencedor. Cinco mil atletas em 22 modalidades (três mil e quinhentos só na ginástica) tornavam o Sporting numa força desportiva de primeira grandeza mundial.
Crescimento sustentado
Nas piscinas, pistas, campos, rings e courts, o Sporting crescia e João Rocha reinvestia continuamente no crescimento do clube, fechando finalmente a bancada do antigo José Alvalade, construindo a mais tarde mítica pista de Atletismo. Seria ainda no seu mandato que seria concluída a chamada «Nave de Alvalade» casa histórica das modalidades leoninas até 2004.
Com o Bingo, a renovação das infraestruturas e a organização do património leonino, que em terrenos, ascendia a um valor de quase duas centenas de milhares de contos, o Sporting parecia ser um clube estabilizado e pronto para se tornar num dos maiores da Europa. Contudo...
A guerra com Pinto da Costa
Contudo o Sporting não conseguia materializar nas quatro linhas, o poder que evidenciava fora delas. No futebol, João Rocha foi contemporâneo da ascensão do FC Porto, com Pinto da Costa e Pedroto.
Desde a primeira hora que considerou o dirigente portista como um rival, um «alvo a abater». Liderando o que consideravam ser «as investidas do Norte». É justo lembrar que o fez sozinho, não só ignorado como também atacado pelo
Benfica, que via então no
FC Porto o seu aliado natural.
Esteve quase a levar
Pedroto para
Alvalade, quando
Pinto da Costa esteve fora do Porto, na célebre guerra civil que dividiu os portistas. Acabou por não conseguir trazer o «Zé do Boné», mas trouxe António Oliveira, fundamental no título de 1982.
Até ao fim do seu «reinado» nunca deu tréguas a «Pintainho da Costa» como um dia lhe chamou, e este nunca deixou de ter João Rocha debaixo de olho.
Inimigos no campo e fora dele. Leões e dragões batalharam em 1980 - a célebre história de Manecas - , «roubaram» jogadores uns aos outros, Pacheco e Sousa rumo a Lisboa,
Futre em sentido inverso, naquele que seria o grande erro histórico da sua carreira, que nunca chegou a reconhecer.
Pacheco e Sousa acabariam por voltar ao Porto, para encontrarem
Futre, com quem seriam Campeões Europeus em 1987, já Rocha não estava a frente do
Sporting.
Pinto da Costa vencera o último
round e o Porto - durante as décadas seguintes - lançava-se à conquista do estatuto de potência maior do desporto nacional. O
Benfica, assustado com o poderio portista, começaria finalmente a afastar-se do aliado nortenho, mas João Rocha percebia o óbvio: era tarde de mais. O
FC Porto nunca mais voltaria a ser o «pequeno clube» que era antes de
Pinto da Costa e o
Benfica já não era a maior e incontestada potência nacional...
Quanto ao
Sporting, continuou um longo declínio que culminou no longo jejum de 18 anos sem campeonatos e com o lento abandonar de um ecletismo campeão que fizera escola em
Alvalade. Para memória futura e como justa e merecida homenagem, os leões, pela presidência de Bruno de Carvalho, inauguraram e batizaram o pavilhão de
Alvalade como Pavilhão João Rocha, pois foi durante o seu reinado que o
Sporting se tornou a maior potência desportiva portuguesa, como os dirigentes leoninos, desde o consulado de João Rocha, tanto gostam de lembrar.
O icónico líder verde e branco viria a falecer a 8 de março de 2013, aos 82 anos, vítima de doença prolongada. Durante a sua presidência os leões batiam recordes no número de atletas federados, conquistando títulos nacionais nos ringues, pavilhões, pistas, ginásios. Do
basket ao hóquei, passando pela ginástica, natação e andebol, chegando ao emblemático atletismo, o
Sporting viveu durante a presidência de João Rocha, uma era de vitórias sem par...
Contudo o
Sporting não conseguia materializar nas quatro linhas, o poder que evidenciava fora delas. No futebol, João Rocha foi contemporâneo da ascensão do
FC Porto, com
Pinto da Costa e
Pedroto.
Desde a primeira hora que considerou o dirigente portista como um rival, um «alvo a abater». Liderando o que consideravam ser «as investidas do Norte». É justo lembrar que o fez sozinho, não só ignorado como também atacado pelo
Benfica, que via então no
FC Porto o seu aliado natural.
Até ao fim do seu «reinado» nunca deu tréguas a «Pintainho da Costa» como um dia lhe chamou, e este nunca deixou de ter João Rocha debaixo de olho.
Inimigos no campo e fora dele. Leões e águias batalharam em 1980 - a célebre história de Manecas - , roubaram jogadores uns aos outros, Pacheco e Sousa rumo a Lisboa,
Futre em sentido inverso, naquele que seria o grande erro histórico da sua carreira, que nunca chegou a reconhecer.