Harpastum, também denominado em certas fontes históricas como Harpustum, era um jogo de bola, disputado com os pés e mãos, jogado pelos romanos, muito popular em Roma durante 700 a 800 anos. Era utilizada uma bola pequena, do tamanho de um punho cheio, talvez das mesmas dimensões de uma bola de softball, fabricada com um material de que não chegou registo aos nossos dias, mas que todas as fontes indicam de grande consistência, que tornavam o esférico duro e um pouco pesado.
Alguns historiadores consideram que o Harpastum é uma versão do antigo jogo de bola grego, o Episkyros, e que a palavra Harpastum é uma latinização do grego ἁρπαστόν (harpaston), neutro de ἁρπαστός (harpastos), que significa «levado, transportado», do verbo ἁρπάζω (harpazo), «Aproveitar, arrebatar». Os romanos conheciam-o o também por «jogo da bola pequena».
A Grécia terá sido a origem do jogo que foi descoberto pelos romanos aquando da conquista romana da Macedónia e da Grécia em 146 a. C. Nas cidades gregas, jogavam-se então dois jogos de que há registo: o já mencionado Episkyros e o Phaininda, que por certo serão os antepassados diretos do Harpastum romano.
Um jogo de técnica
Atendendo às crónicas da época que referem o Harpastum, o jogo teria muitas parecenças com o atual râguebi. Entre o que sabemos do jogo, há certeza de que era disputado por 5 a 12 jogadores, num campo rectangular onde se desenhava uma linha no chão a meio do terreno de jogo, e que as duas equipas tentariam manter a posse de bola do seu lado do campo, tentando impedir que o adversário se apoderasse dela.
Ao contrário do futebol, ou do râguebi, o objetivo seria transportar a bola de volta para o seu terreno de jogo, uma vez recuperada a posse de bola e depois fazê-la passar por diversos jogadores. Uma regra importante do jogo era que apenas o portador da bola podia sofrer um tackle.
Essa importante limitação, provocou por certo um grande desenvolvimento das táticas tanto de passe como de intercepção de bola, assim como terá ajudado a desenvolver sofisticadas técnicas e dribles para fugir aos ataques do adversário. Tal como o râguebi moderno, no jogo romano pouco se recorria ao uso dos pés, mas um jogador era livre de passar e dominar a bola, tanto de uma forma como de outra.
Um exercício militar
Os relatos históricos não nos indicam a existência ou não de uma pontuação, e não há possibilidade de se saber sob que regras se disputavam as partidas, o que torna impossível voltar a disputar uma partida de um jogo que se tornou muito famoso, particularmente entre os legionários romanos, que quando se encontravam longe de casa, disputavam os mais diversos jogos para ocupar os tempos livres.
Confirmados são os relatos de jogos disputados um pouco por todo o Império, assim como de grupos de crianças que jogavam à bola no meio da rua das principais cidades como Roma. Cícero, faz menção de um famoso caso em que um homem faleceu numa barbearia, por culpa de uma bola chutada contra o barbeiro enquanto este usava a navalha para fazer a barba a um cliente.
Júlio César, que muito provavelmente terá jogado o jogo na sua juventude, era um entusiasta da prática de Harpastum pelas suas legiões, e há relatos de jogos durante as suas campanhas na Gália e na Britannia.
Além das referências históricas, há também uma evidência arqueológica do jogo, que pode ser encontrada em Sinj, perto de Trilj, na Croácia, nas ruínas de um antigo acampamento militar romano, onde foi encontrado um túmulo que mostra um rapaz a segurar uma bola de Harpastum na sua mão, indicando que o jogo teria a sua importância, para um jovem ser recordado no post-mortem pelos seus feitos como jogador. Na mesma estátua, podemos ainda constatar a forma hexagonal da bola, que surpreendentemente faz recordar uma bola de futebol do nosso tempo.