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    Rivalidades
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    Derby della Mole: Juventus x Torino

    Texto por João Pedro Silveira
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    «Attraversarono Piazza Vittorio, sterminata nelle ombre della sera. Già parlavano di football. Emilio, naturalmente, era per la Juventus, la squadra dei gentlemen, dei pionieri dell'industria, dei gesuiti, dei benpensanti, di chi aveva fatto il liceo: dei borghesi ricchi. Giraudo, altrettanto naturalmente era per il Toro, la squadra degli operai, degli immigrati dai vicini paesi o dalle province di Cuneo e di Alessandria, di chi aveva fatto le scuole tecniche: dei piccoli-borghesi e dei poveri.» (1)

    Mario Soldati, Le due città, 1964



    Uma cidade dividida

    Juventus e Torino são duas formas de estar e viver o futebol. De um lado está a toda-poderosa Juve, «a noiva de Itália», propriedade dos Agnelli e reclamada por toda a Itália, a Itália dos trabalhadores da Sicília e da Calábria que rumam ao norte, mas também dos cavaleiros da Indústria automóvel. Do outro lado está o Toro de Pianelli e da classe operária de Piemonte, que falam com sotaque piemontês e têm um orgulho montanhês.
     
    @Domínio Público
    Se a Juve se pode gabar-se do número recordes batidos, da enorme massa da apoio, da infindável quantidade de scudetti conquistados, da glória europeia e mundial, dos nomes sonantes, dos Baggios, Platinis e Del Pieros, já o Toro é lenda e mito: o Grande Torino dos anos 40, a magia do capitão Valentino, a tragédia de Superga, a eterna saudade da borboleta grená, a farfalla granata, Gigi Meroni. 
     
    Talvez o único ponto de encontro entre os dois clubes, além do berço, seja Silvio Piola, o bicampeão mundial com a seleção de Vittorio Pozzo, um dos raros jogadores a vestir a camisola dos dois gigantes de Turim. 
     
    Mais de cem anos de história
     
    Domingo, 13 de janeiro de 1907, a cidade de Turim presencia pela primeira vez um dérbi - a contar para a Primeira Categoria - entre o Torino e a Juventus, com o Toro, a jogar em casa, a vencer por 2x1. Um mês depois, a Juve é anfitriã do dérbi e a vitória sorri aos visitantes, por um claro 1x4.
     
    A primeira vitória bianconera só chegaria ao quarto jogo, três anos depois, com as zebras a vencerem por três bolas a uma. Os primeiros anos foram de domínio do Toro, com a Juve apenas a vencer em duas ocasiões até à Primeira Guerra Mundial. A  tal primeira vitória por 3x1 em 1909 e uma segunda, em 1910, com a Juve vencer pela primeira vez em casa do rival (0x3).
     
    @Domínio Público
    O Toro era rei e senhor do Dérbi de Turim, com uma especial aptidão para golear em casa do rival, 1x4 em 1907, 0x8 em 1912 e 2x7 em 1914, pelo meio, o dérbi mais espetacular de de sempre, com o Torino a receber e a vencer a Juventus por 8x6.
     
    Bases de apoio
     
    No período do pós-guerra, a base de apoio dos dois clubes sofreu uma considerável alteração. A equipa do Torino era a mais forte do país, equipa repleta de craques, dominava o futebol transalpino e assim seria durante mais anos, não fosse o trágico acidente de Superga, que vitimou a equipa do Torino quando regressava de um jogo com o Benfica, de homenagem a Francisco Ferreira, no Estádio Nacional, em Lisboa.
     
    A tragédia de Superga acrescentou uma aura ainda mais mítica à equipa do Grande Torino, e com o passar dos anos o Toro tornou-se sinónimo de romantismo, trágico, bem se vê. Desde os primeiros tempos que o Torino era o clube do proletariado e a Juventus o clube da burguesia. As vitórias do Toro, eram uma bandeira dos desfavorecidos, que com todo o prazer esfregavam na cara dos "meninos ricos da Juventus".
     
    Esta aura revolucionária e as conquistas, as vitórias dos rapazes com as camisolas grená ajudaram o Torino a torna-se um caso de popularidade não só na cidade mas também no Piemonte.  Mas seria por essa altura que o quadro sociológico do país e da região começaria a mudar.
     
    @Domínio Público
    A Itália levantava-se da derrota na Segunda Guerra Mundial. Turim era um dos grandes centros da nova indústria italiana e em particular da automóvel. A FIAT, sigla de Fabbrica Italiana Automobii Torino, era literalmente, a força motora da cidade e da região. A economia italiana crescia como nunca e as grandes fábricas do norte atraíam os trabalhadores desfavorecidos do sul do país, em particular da Calábria, da Campânia, da Sicília e da Apúlia. A esmagadora maioria desses migrantes vinha trabalhar na FIAT, a empresa da família Agnelli, a proprietária da Juventus. Para estes novos habitantes da cidade a Juve, era o seu clube, o clube da empresa, o clube do patrão, de Umberto e Gianni Agnelli. A paixão pela Juve ultrapassou as fronteiras do Piemonte e conquistou o resto do país.
     
    Em poucos anos o equilíbrio no número de adeptos sofreu uma abrupta transformação. Curiosamente, o Torino representava agora o espírito original de Piemonte, era um clube local, para gente local, por oposição à popularidade da Juventus, que se tornara um emblema de dimensão nacional ao ponto de ser considerada a Fidanzata de Itália, ou seja, a noiva de Itália. 
     
    A partir dessa altura o dérbi passou a ser um embate entre um gigante nacional e o clube que se considerava o verdadeiro representante de Turim. Para os fiéis adeptos do Toro, o clube representa a mais pura torinesità, enquanto o vizinho, é um clube de sicíilianos, calabreses, campânios e apulianos. 
     
    Com o passar dos anos a Juventus tornou-se o clube dominante, ultrapassando o rival em títulos e vitórias, batendo recordes de conquistas, dentro e fora de portas.
     
    A Mole
     
    O dérbi vai buscar o seu nome ao mais icónico monumento da cidade, a famosa Mole Antonelliana, uma torre construída no século XIX, projeto com autoria de Alessandro Antonelli, que do alto dos seus 167,5 metros, foi em tempos o maior edifício murado da Europa. 
     
    Sendo o ex-líbris da cidade e um dos mais famosos monumentos do país, com naturalidade a torre se tornou na "madrinha" do dérbi de Turim. 

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    (1) «Atravessaram a Piazza Vittorio, que na penumbra da noite parecia interminável. Já a falarem de futebol. Emilio, naturalmente era da Juventus, a equipa dos cavalheiros, dos pioneiros da indústria, dos jesuítas, dos bem-pensantes, de quem tinha terminado o liceu: os burgueses ricos. Por sua vez Giraudo, era naturalmente apoiante do Toro, a equipa dos operários, dos imigrantes dos países vizinhos ou da província de Cuneo e Alessandria, daqueles que fizeram a escola técnica: os pequeno-burgueses e os pobres.»

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