O Athletic de Bilbau tem uma das famosas leisdo futebol mundial que nunca foram escritas. No Athletic Club só jogam bascos, nenhum jogador 'estrangeiro' pode vestir a camisola dos leones e por 'estrangeiros' entendam-se todos aqueles que nasceram fora do País Basco, Navarra e País Basco francês. E, por bascos, leia-se todos os filhos de bascos nascidos fora do País Basco ou todos aqueles que, mesmo nascendo fora do País Basco, tenham vivido em Euskadi desde tenra e idade e tenham feito o seu percurso desportivo nas escolas do Athletic.
Todavia, e ao contrário do que muitos possam pensar, o Athletic não começou como um clube 100% basco, pois as raízes rojiblancas, como era costume no fim do século XIX, remontam a Inglaterra. O futebol chegou à Biscaia por mãos inglesas. Foram os muitos súbditos de Sua Majestade que trabalhavam nos portos biscainhos que começaram a jogar nos tempos livres a um jogo a que chamavam football, que aos poucos foi conquistando os locais.
Fundação e primeiros sucessos
Apesar da intensa rivalidade, um ano depois, os adversários juntaram forças para disputar a Copa de la Coronación, um torneio de âmbito nacional, que comemorava a Coroação do Rei Afonso XIII. Athletic Club e Bilbao FC jogaram juntos com o nome de Bizcaya, e foi assim que venceram a competição, batendo o FC Barcelona na final, que se realizou no hipódromo de Madrid. No ano seguinte, uma assembleia geral do Bilbao FC concordou terminar com o clube, transferindo todos os seus sócios para o Athletic Club. Já unificado, o clube bilbaíno disputou a nova Taça do Rei, que venceu, batendo o Madrid FC (Real Madrid) novamente no hipódromo da capital.
Mudança de equipamento
Em 1903, a fama do Athletic já era tão grande que um grupo de bascos radicados em Madrid fundou o Athletic Club Sucursal de Madrid, futuro Atlético de Madrid. A filial, impedida pelos estatutos de defrontar a casa-mãe, viu-se assim afastada das competições nacionais.
A era «Pichichi», San Mamés e mágicos anos 30
Durante os dez anos que defendeu a camisola dos leones, Pichichi apontou 200 golos em 170 jogos oficiais, conquistou quatro Taças do Rei e cinco campeonatos regionais, num tempo em que ainda não existia ainda o Campeonato de Espanha. Mais que os golos, foi o lenço branco que usava na cabeça que se tornou na sua imagem de marca. Deixou o futebol com 29 anos, acabando por falecer um ano mais tarde, vitima de tifo.
O boom de popularidade do futebol espanhol tornou possível a criação de uma Liga nacional, que começou a ser disputada em 1928. Com o inglês Fred Pentland no banco, o Athletic entrou na era mais gloriosa da sua história. No espaço de seis anos, entre 1930 e o começo da Guerra Civil Espanhola, o Athletic conquistou quatro Ligas e quatro Taças. A 18 de julho de 1936 rebentou um pronunciamento militar no Protetorado Espanhol em Marrocos, com o objetivo de derrubar a República Espanhola. Os rebeldes nacionalistas, apoiados pela Itália fascista e Alemanha nazi, passaram a controlar uma parte considerável do território espanhol.
Foi já em Paris que os jogadores souberam do triste bombardeamento de Guernica, por parte da Força Aérea alemã, apoiante dos nacionalistas do General Franco. Os bascos prosseguiram a aventura por Checoslováquia, Polónia e União Soviética, onde receberam a notícia que Bilbau havia caído nas mãos do exército nacionalista. A maioria destes jogadores não voltou a pisar solo espanhol, acabando por embarcar para Argentina e, mais tarde, México, onde uma equipa basca disputou o campeonato local e terminou no segundo lugar.
Com o fim da Guerra, o País Basco e o resto de Espanha estavam domados pelo implacável General Franco. Por consequência, o Athletic teve que deixar cair o estrangeirismo, passando a designar-se Atlético de Bilbao. O clube só voltou a ser Athletic depois da morte do Generalíssimo.
Lento declínio e ressurgimento
Os anos 40 foram difíceis para a Espanha. Enquanto o país recuperava do conflito fratricida, o resto da Europa degladiava-se na II Guerra Mundial. Medidas austeras foram tomadas em Bilbau e, sem dinheiro, o clube passou a apostar mais na cantera. Os resultados chegaram com o passar da década e nasceu uma fabulosa equipa em San Mamés. A linha da frente ainda hoje é citada de trás para frente pelos adeptos do Athletic: Rafa Iriondo, Venancio Perez, José Luis Panizo, Augustin Gainza e Telmo Zarra.
Depois de conquistar a Liga Española 1955/56, o Athletic atravessou um longo deserto até voltar a erguer a taça de campeão de Espanha. Os anos 60 e 70 foram de lento declínio, com a exceção das conquistas das Taças 1968/69 e 1972/73. O grande momento acabou por chegar em 1976/77, quando o Athletic chegou pela primeira vez à final de uma competição europeia, neste caso a Taça UEFA. Depois de eliminar Ujpest, Basel, AC Milan, FC Barcelona e Molenbeek, os bascos enfrentaram a Juventus no jogo decisivo. Os leones conseguiram uma vitória por 2x1 em San Mamés, mas foi insuficiente face à derrota sofrida em Turim (1x0).
Na década de 70, outro marco importante: nasceu a Academia de Lezama. O Athletic reforçou o seu projeto de formação para alimentar a equipa principal. Foi um dos apaixonados pela ideia da formação que acabou por tomar conta da equipa, conseguindo recuperar o sucesso. Javier Clemente, foi o timoneiro do último período glorioso dos rojiblancos. Numa equipa com Andoni Zubizarreta, Andoni Goikoetxea e Manuel Sarabia, os leones puseram um fim no longo jejum de 27 anos e conquistaram a Liga 1982/83, conseguindo revalidar o título na época seguinte ao qual juntaram a Taça do Rei, celebrando mais uma vez a dobradinha.
O fim de uma era
Nos últimos anos do século XX assistiu-se ao lento declínio dos leões de Bilbau. Afastados dos títulos, os bilbaínos viram o seu clube ser definitivamente ultrapassado pelos rivais de Madrid e pelo FC Barcelona, perdendo terreno também para Atlético Madrid, Valencia e para o emergente Deportivo. Contudo, os leones puderam continuar a afirmar que, juntamente com Real Madrid e FC Barcelona, eram os únicos em Espanha a terem jogado sempre no primeiro escalão.
No novo milénio, o Athletic viveu momentos complicados, ao ponto de evitar a despromoção na última jornada da Liga em 2005/06. O susto acordou o clube que, em 2011/12, depois de eliminar o PSG, Manchester United, Schalke 04 e Sporting, qualificou-se para a final da Liga Europa, onde foi derrotado pelo Atlético Madrid (3x0). O fim do jejum de troféus só chegou três anos mais tarde, quando o Athletic bateu (4x0 e 1x1) o Barcelona na final da Supertaça de Espanha, conquistando um troféu 31 anos depois do ano dourado de 1984, época mítica em que conquistou Liga, Taça e Supertaça.
Entretanto, o emblema de Bilbao também se destacou no potenciamento e venda dos seus jogadores, com grandes encaixes financeiros: Kepa Arrizabalaga (Chelsea) por 80M€, Aymeric Laporte (Manchester City) por 65M€, Javi Martínez (Bayern Munique) por 40M€ e Ander Herrera (Manchester United) por 36M€.
Cinco anos após essa conquista frente ao Barcelona, o Athletic regressaria novamente à conquista de títulos, batendo precisamente os catalães na final da Supertaça de Espanha por 2x3 para conquistar a oitava da sua história. Essa conquista foi seguida de mais um duplo azar em finais da Copa del Rey...
Os bascos já tinham perdido quatro consecutivas (1985, 2009, 2012 e 2015), mas em 2021 conseguiram a proeza de perder duas finais da Taça no mesmo mês! A primeira frente à rival Real Sociedad (0-1), relativa a 2020 e jogada com um ano de atraso devido à pandemia, e a segunda, duas semanas depois, com um humilhante 0-4 perante o Barcelona. Já em 2022, perderia tambéma a final da Supertaça contra o Real Madrid (0-2), em Riade.