Quando se pensa nos Países Baixos, pensa-se em campos e campos a perder de vista, cobertos de tulipas, aqui e ali pontuados com a iconográfica silhueta de um moinho, rasgando suavemente o céu com o lento movimento das suas pás.
Sem hesitações, os dirigentes optaram então por uma camisola branca com uma lista central vermelha, calções e meias brancas. Nascia assim um dos mais icónicos equipamentos do futebol mundial.
Com o novo equipamento, o
Ajax conheceria a primeira despromoção da sua história em 1914, mas voltaria ao convívio dos grandes em 1917, ano que ficou marcado pela sua primeira conquista de relevo: a Taça da Holanda, coroada com uma goleada de 5x0 sobre o VVV. Na época seguinte chegava o primeiro título, revalidado em 1919.
Crescimento
A proximidade do bairro judeu valeu-lhes a alcunha de joden, «os judeus» em português, um nome que os adeptos tomaram como seu, ao ponto de passarem a levar a bandeira com a estrela de David para todos os jogos, provocando a fúria dos adversários antissemitas. Durante a II Guerra, essa ligação acabou por custar diversos problemas ao clube, com as autoridades alemãs a olharem de soslaio para as conotações sionistas dos amsterdammers.
No período entre guerras, o
Ajax foi perdendo algum gás, não voltando a conquistar nenhum grande troféu durante mais de dez épocas. Porém, os anos 30 trariam novos ventos, com mais vitórias, como a conquista de cinco campeonatos, que deram ao clube de Amesterdão uma nova dimensão.
Seguiu-se então a
II Guerra Mundial, iniciada em 1939, com a Holanda a ser invadida pela Alemanha no ano seguinte e o futebol holandês - assim como tudo mais no país - a ressentir-se do conflito e da ocupação germânica.

Pela proximidade do bairro judaico de Amesterdão, os adeptos do Ajax ganharam a alcunha de joden (os judeus), que orgulhosamente passaram a exibir com bandeiras com a estrela de David
Com o campeonato interrompido em 1944, o futebol só voltaria em 1945-46, com um
Ajax renascido e a lutar novamente pelo topo. Novamente campeões em 1947, os homens do
Ajax começaram a preparar o caminho para o profissionalismo que abraçaram em 1955.
Em 1957 e 1960, voltaram a conquistar o título, mas o clube viveria ainda momentos complicados, antes de Rinus Michels ser chamado para o leme da equipa.
Gloria Ajax: dominação europeia
Em 1964, Johan Cruiff estreou-se na equipa principal com apenas 17 anos. Contudo, o primeiro grande momento chegaria em 1967, quando, com apenas 19 anos, liderou a equipa numa histórica goleada sobre o
Liverpool (5x1), em jogo a contar para a Taça dos Campeões.
Um ano mais tarde, o
Ajax caiu às mãos do Dukla de Praga, adiando a glória europeia. O melhor estava guardado para a época seguinte. A 19 de fevereiro de 1969, o
Ajax encontrou o
Benfica nos quartos-de-final. Os portugueses eram vice-campeões europeus e grandes favoritos. Em Amesterdão, Eusébio e companhia fizeram estragos, vencendo por 1x3. Todos pensavam que a eliminatória estava resolvida. Mas quinze dias passados, o
Ajax foi a Lisboa dar uma nova imagem das suas capacidades, realizando uma magistral exibição e vencendo por 1x3, obrigando a terceiro jogo, que foi vencido com um claro 3x0. Era o nascer do grande
Ajax europeu, que, nesse ano, ainda acabaria vencido pelo
Milan na final.
A despedida de Johan Cruiff, o fim da carreira do maior ídolo de sempre do clube de Amesterdão
Dois anos depois, já ninguém parou
Cruijff e companhia e o
Ajax chegou finalmente a glória, com a vitória sobre o Panathinaikos, na final de
Wembley, a que se sucederam mais duas vitórias e um histórico tricampeonato europeu, até aí só atingido pelo «super»
Real Madrid dos anos cinquenta.
Depois de
Cruijff (e Michels) saírem para o
Barcelona, o
Ajax ainda conquistou a terceira Taça dos Campeões e mais um campeonato, mas, aos poucos, o poder do
futebol total do clube foi sendo contestado, dentro e fora de portas.
A primeira derrota no De Meer surgiu em 1975, seis anos depois da última desfeita. Era um sinal dos novos tempos e punha fim a um longo recorde.
O Campeonato só voltou a ser ganho em 1977, quatro anos depois da equipa de Kovacs. Os anos oitenta aproximavam-se e, apesar de estar longe do futebol da era de
Cruijff, o
Ajax voltava a dominar o futebol local, conquistando cinco títulos entre 1979 e 1985.
A consequente emergência do
PSV como nova potência do futebol holandês relegou os
Godenzonen (filhos dos deuses) para um segundo plano, não obstante o surgimento de uma nova geração onde brilhavam, entre outros, o goleador Marco van Basten, os médios Vanenburg ou Rijkaard, que, comandados pelo regressado
Cruijff, conquistaram a Taça das Taças em 1987.
De novo no topo
Os anos noventa trouxeram um novo
Ajax com o fim do mítico De Meer, substituído pela moderníssima Arena de Amesterdão. Fora do campo, os Amsterdammers também viveram novos tempos, com o florescimento de uma nova geração de craques que voltaram a levar o
Ajax ao topo do mundo.
1995: os meninos de van Gaal voltam a conquistar a tão desejada «orelhuda»
Com Seedorf, van der Sar, Davids, Kluivert, Kanu e tantos outros, mas ainda com os irmãos de Boer, Finidi, Overmars e Litmanen, além dos veteranos Blind e Rijkaard, o
Ajax, comandado por Louis van Gaal, bateu o
Milan na final de Viena em 1995, vingando a derrota de 1969 e conquistando a sua quarta «taça das orelhas». Um ano depois, nova final, desta feita perdida para a
Juventus e o fim de uma nova era, com a saída das principais estrelas, a mostrarem ao mundo que o
Ajax e o futebol holandês não tinham meios para guardar as suas joias, que saíam ano após ano para os lucrativos e apetecíveis campeonatos da Inglaterra, Itália e
Espanha.
Século XXI: Uma rampa de lançamento, mas menos titulada
O início do século XXI não foi muito positivo em termos de títulos (duas Ligas em 2001/02 e 2003/04), com o rival PSV a superiorizar-se a nível interno, mas Amesterdão continuou a ser uma rampa de lançamento para vários craques, como Cristian Chivu, Rafael van der Vaart, Andy van der Meyde, Steven Pienaar, Zlatan Ibrahimovic, Maxwell, Wesley Sneijder ou Nigel de Jong.
Em 2010/11, Frank de Boer assumiu o comando da equipa que outrora representou como jogador, substituindo Martin Jol no cargo. O antigo internacional holandês devolveu o Ajax aos títulos, foi obreiro do primeiro pentacampeonato da história do clube (de 2010/11 a 2013/14) e os godenzonen continuaram a lapidar diamantes: Thomas Vermaelen, Jan Vertonghen, Luis Suárez, Daley Blind, Klaas-Jan Huntelaar, Toby Alderweireld, Christian Eriksen e Jasper Cillessen.
A formação e a aposta em jovens continuaram a ser uma bandeira do emblema holandês e fez com que o clube regressasse às finais europeias em 2017… 21 anos depois. A jovem turma de Peter Bosz perdeu 0x2 com o Manchester United na final da Liga Europa, mas entrou para a história como o onze inicial mais jovem da história das finais europeias: média de 22 anos e 282 dias.
Após o tetra, a ‘torneira’ dos títulos fechou-se momentaneamente, para voltar a abrir em 2018/19. Após um grande domínio doméstico, o grande Ajax europeu voltou e atingiu as meias-finais da Champions (eliminou Real Madrid e Juventus). Quanto à academia, essa manteve o bom fluxo: Davinson Sánchez, Bertrand Traoré e Justin Kluivert foram as últimas pérolas a abandonar Amesterdão e mais vão seguir o mesmo caminho, rumo aos tubarões da Europa.
Na temporada seguinte, 2019/20, já sem vários dos nomes que tinham marcado as últimas épocas da formação do
Ajax, mas com outros a surgir, a formação holandesa ia encaminhada para a revalidação do título caseiro - embora o
campeonato estivesse a ser fervorosamente disputado com o AZ Alkmaar, mas a pandemia de covid-19 levou a que a federação holandesa optasse pelo cancelamento da prova, sem que fosse atribuído o título.
Essa conquista não fugiria, no entanto, na época seguinte, com os comandados de Erik ten Hag a serem completamente dominadores na Eredivisie e a terminarem com mais 16 pontos que o 2º classificado
PSV, numa campnha onde o
Ajax impressionou pela qualidade do futebol exibido e, como já vinha sendo costume, pelos talentos que emergiam na equipa. A esse 35º título de campeão holandês, o
Ajax juntou ainda a Taça dos Países Baixos, conquistada frente ao Vitesse (
2x1)
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(1) - 1915–1925, 1928–1940 e1945–1947.
(2) - Durante a
II Guerra Mundial, com o futebol parado e a Holanda sob o jugo da Alemanha Nazi, o
Ajax foi «dirigido» por dois ex-jogadores, Wim Volkers e Dolf van Kol. Ambos eram naturais de Amesterdão e há muito ligados ao clube, foram os primeiros holandeses a comandar a equipa. Michels tornou-se o terceiro a holandês a comandar os destinos do
Ajax em 1965.