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      2023/11/17
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      Este espaço, do jornalista Carlos Daniel, pretende ser de abordagem e reflexão sobre o futebol no que o jogo tem de melhor. Quinzenalmente, uma equipa será objeto de análise, com notas concretas que acrescentam atualidade.

      Mal ele volte de lesão, não deixem de reparar em Van de Ven, do Tottenham, vindo esta época do Wolfsburg. Se a equipa parece em dificuldades por estes dias é, em grande parte, porque lhe faltam - e faltarão até ao novo ano civil - a bússola Maddison, o homem que imagina o passe mais difícil e o executa fácil, mas também o gigante neerlandês da defesa, Micky Van de Ven, talvez o mais completo central esquerdino que hoje se pode apreciar, com licença de Gvardiol, que é mais que um central. E, já agora, Van de Ven custou aos Spurs sensivelmente uma terça parte do que aquilo que o Manchester City pagou pelo croata. Está na linha de Pau Torres mas mais rápido, num estilo que o aproxima de Gonçalo Inácio mas mais contundente. Controla o espaço com uma velocidade incrível para um gigante e usa o seu 1,93m para ser igualmente dominador no ar. Há muitas razões para elogiar Ange Postecoglou, o australiano que reinventou o Tottenham, mas uma delas é decerto a descoberta de Van de Ven, que aos 22 anos é todo futuro.

      Na Alemanha, de onde saiu Van de Ven, surge Florian Wirtz a cumprir o seu destino. No magnífico projeto de Xabi Alonso em Leverkusen – sempre os treinadores com ideias sedutoras na explosão dos maiores talentos – há outros destaques óbvios: Granit Xhaka e a qualidade rara de ver mais campo que os outros, Grimaldo e a teimosia de ser melhor a cada metro que galga no campo, Victor Boniface e a capacidade de um predador poderoso na zona do campo onde os jogos se decidem.

      Mas além destes, acima deles ainda, explode de vez o menino Wirtz, 20 anos apenas, mas já na quarta época como titular do Bayer. O modelo de Xabi parece construído para o valorizar, talento definitivo nos três quartos do campo, organizador, driblador, assistente e finalizador. Vejam o golo que marcou a Freiburg há duas semanas e perceberão melhor o que aqui digo. Com um treinador que o entenda, como este,
      está ali um dos melhores jogadores do mundo da próxima década. É esperar para ver. E ir vendo.

      Não há coincidências: o Girona, equipa sem história que faz história, não lidera La Liga por milagre nem em resultado de uma felicidade pontual, autorizada por um calendário acessível. Lidera porque joga bem, joga muito, melhor que os restantes. Vi-os recentemente, num duelo de belo jogo com o Rayo Vallecano, curiosamente o clube onde começou a construir carreira Michel, o treinador que causa espanto. Este Míchel, Míchel Sánchez - não confundir com o médio lendário do Real Madrid - tem 48 anos e exibe os traços que identificam um treinador da linha City (o Girona pertence ao grupo de Mansour): ideia sedutora, ofensiva, que tenta multiplicar oportunidades para somar golos e valoriza sempre o jogo com bola. E valoriza desde trás, por isso buscou elemento essencial em Eric García, com mais sombras que luzes nos anos do Barça, e lhe colocou ao lado Daley Blind, para a segunda juventude de um sábio tático.

      E gosto do venezuelano Yangel Herrera, médio técnico que transporta com qualidade, delicio-me com o toque de bola de Aleix García, finalmente ao nível que prometia e já na seleção, aprecio a eficácia da dupla ucraniana, nas aproximações à área de Tsygankov e no trabalho nela que faz Dovbyk. E, sobretudo, adoro Savinho, miúdo mineiro nascido em abril de 2004, emprestado pelo francês Troyes, clube da mesma firma, esquerdino que gosta de viver à esquerda, o que rareia por estes dias, quase tanto como o seu futebol feiticeiro que traz o drible do berço, como o melhor Neymar, ou Vini Jr, dessa estirpe rara de jogar sorrindo como só o Brasil parece saber fabricar.

      Em boa verdade, escrevi esta crónica para vos poder falar de Savinho. Porque me custa mesmo que haja quem ainda não tenha percebido que ele existe.



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