* Chefe de Redação
Andamos a brincar com o fogo. Multiplicam-se movimentos que fazem da xenofobia a principal bandeira. Bolsominions saídos do esgoto para o governo, trumpettes a agitarem bandeiras da América esclavagista, 400 mil portugueses a votarem no mais populista e demagogo dos partidos, e achamos ser tudo aceitável num mundo que se quer democrático e recetivo à diferença.
Os energúmenos sentem-se, finalmente, representados politicamente. Os criminosos saem da escuridão e vestem fato e gravata, dispostos a acolher ideologias de ódio, supremacistas caucasianos, verdadeiros estupores. São eles os percussores deste fogo que corta sociedades a meio, separa famílias, levanta pedras e dá voz a quem deveria ser socialmente silenciado.
A Vinifobia que se vive em Espanha mais não é do que a consequência primária de tudo a que acima me refiro. Esta gente que insulta, que ataca, que pretende diminuir, fá-lo porque já se sente representada nos círculos de decisão política, amparada nesse circuito de MAGA'S e outros que tais.
Vinícius JR. é um rapaz feliz em campo, por vezes um artista provocador, e está a ser vítima destes dias perigosos. Brasileiro, negro, bem sucedido, um alvo fácil para esta quadrilha do insulto racista. A diferença, finalmente, é que o avançado do Real Madrid foi capaz de identificar os agressores verbais. E esse ódio teve finalmente cara, olhar, expressão.
Um nojo. Em forma de gente.
Sempre houve imbecis nos campos de futebol. Ingenuamente, ao longo de duas décadas e pouco a jogá-lo nos escalões inferiores da AF Porto, aceitei e normalizei o ataque de colegas e adversários apenas pela cor da pele. O 'preto' era o grito mais berrado pela estupidez da bancada. Insuportável, a esta distância de maior maturidade e outro conhecimento.
Ninguém reagia, ninguém mandava calar os anormais. O resultado está aí e é muito feio. Pobre mundo.
Como combater este suplício?
Antes de mais, punir e prender a escumalha; depois, exercer o direito de voto com rigor, fazer orelhas moucas aos falsos profetas do moralismo disfarçado de demónios e fantasmas - de preferência, ilegalizar no Tribunal Constitucional quem deve ser ilegalizado; finalmente, educar, educar, educar, ensinar que todo o ser humano é feito de coração e cabeça, independentemente do credo e da cor da pele.
O racismo não é normal, não é aceitável, não é tolerável. Que o caso-Vinícius Jr. abra os olhos a quem tem de abrir.
Pelos nossos filhos.