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    A história do Mundial Feminino

    Texto por Rita David
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    Tão apaixonante é o Mundial, que por quase todos é considerado o maior evento que o futebol pode oferecer. Essa tão predominante opinião pertence à versão masculina da competição, que teve o seu início em 1930, mas a verdade é que o lado feminino, embora tenha chegado mais tarde, nunca parou a sua evolução e está cada vez mais perto da igualdade no volume de interesse que atrai.

    Começa em 1970, em Itália, o primeiro torneio internacional deste tipo, depois de vários países levantarem a proibição ao futebol feminino e criarem equipas da modalidade. No ano seguinte, o México recebeu uma prova semelhante. Assim foi várias vezes ao longo dos anos 70, antes da década seguinte dar lugar a uma série de Mundialitos.

    A mulher já disputava futebol internacional há algum tempo, mas o caráter oficial dessas competições ainda era colocado em causa pelo facto de não ter a organização da FIFA. Depois de alguma luta, as águas foram testadas com um torneio por convite, disputado em 1988 na China, e três anos depois, novamente em solo chinês, a história do Mundial Feminino começou a ser escrita. E que bela história é...

    1991: o pontapé de saída

    @Getty /

    Foi em novembro de 1991 que a China abriu as portas para receber a primeira competição feminina com selo FIFA. Com 12 equipas em prova, jogos de 80 minutos e vitórias a valerem dois pontos, foi a seleção dos Estados Unidos a grande vencedora, depois de vencer na final a Noruega (1-2). 

    Michelle Akers, com dois golos na final, foi a grande heroína do encontro e a melhor marcadora do torneio, com 10 golos. 

    No global, Carin Jennings, também internacional norte-americana, foi a atleta distinguida como jogadora da competição.

    1995: Noruega demolidora

    @FIFA

    Após uma primeira edição disputada em solo asiático, o ano de 1995 trouxe o primeiro Mundial Feminino em território europeu, mais propriamente na Suécia, em pleno mês de junho. 

    Ainda com 12 equipas, mas já com 90 minutos de jogo e três pontos por vitória, este foi um Mundial dominado pela Noruega

    Depois de uma fase de grupos exímia, com 17 golos marcados e zero sofridos, a seleção norueguesa deixou pelo caminho as seleções da Dinamarca (3-1), Estados Unidos (0-1) e ainda a Alemanha, finalista vencida por 0-2

    Hege Riise, atual selecionadora da Noruega, foi eleita a melhor jogadora do torneio. Por sua vez, a compatriota Ann Kristin Aarønes foi a melhor marcadora, com seis golos. 

    1999: ponto de viragem

    @Getty /

    Em 1999, ainda antes do Novo Milénio, chegou aquele que foi o ponto de viragem de toda a competição. Depois da Ásia e Europa, foi a vez do continente norte-americano abrir portas ao Mundial Feminino.

    Nos Estados Unidos, e pela primeira vez com 16 equipas, este foi durante muito tempo o Mundial de todos os recordes. Pela primeira vez com todos os jogos televisionados, esta competição teve uma média de 17,9 milhões de telespetadores só nos EUA e foi, até 2015, aquela que mais público juntou nos estádios. 

    Dentro de campo, também a seleção anfitriã dava espetáculo. Os EUA derrotaram a China na final, através de grandes penalidades, e em oito anos conquistavam o seu segundo Mundial. 

    A final, disputada no Rose Bowl (Califórnia), foi até 2022 o jogo feminino oficial com mais público nas bancadas. Por lá, estiveram 90 185 pessoas a assistir à festa norte-americana.

    Em termos individuais, a internacional chinesa Sun Wen foi eleita a melhor jogadora do torneio e ainda uma das melhores marcadoras com sete golos, a par de Sissi, do Brasil. 

    2003: poderio alemão torna-se Mundial

    @Getty /

    Quatro anos depois, os Estados Unidos voltam a receber a competição. A China foi originalmente o anfitrião escolhido, mas um surto de SARS detetado no sul do país no início do ano, levou a uma mudança de local e a uma promessa: o Mundial voltaria à China em 2007. 

    Novamente com 16 equipas, chegou a vez da Alemanha se chegar à frente. Já com cinco Europeus no seu palmarés, foi a vez do conjunto germânico se mostrar em palcos mundiais. 

    Além de uma fase de grupos exímia, a Alemanha eliminou ainda a Rússia (7-1) e os Estados Unidos (0-3) antes de chegar à final. Aí, Nia Künzer foi a grande heroína com um golo já no prolongamento, diante da Suécia (2-1). 

    Birgit Prinz foi a grande figura do torneio, tendo sido eleita a melhor marcadora (7 golos) e também a melhor jogadora.

    2007: novamente a Alemanha

    @Getty /

    De regresso à China, o Mundial de 2007 voltou a ser dominado pela Alemanha

    O conjunto germânico entrou com tudo na competição, com uma goleada por 11-0 frente à Argentina, e só parou com o troféu na mão. Foi a primeira equipa a conseguir fazê-lo em duas edições consecutivas

    Pelo caminho, deixou a Coreia do Norte (3-0) e a Noruega (3-0) e, na final, venceu por 2-0 a seleção brasileira, uma das equipas sensação do torneio. 

    Marta, com sete golos, foi eleita a melhor marcadora e melhor jogadora da competição

    Fora das quatro linhas, este foi um Mundial que ficou também marcado por valores monetários. Pela primeira vez, todas as seleções receberam bónus financeiros pela sua participação. Enquanto uma equipa eliminada na fase de grupos levou para casa 200 mil dólares, a campeã Alemanha arrecadou um milhão. 

    2011: auge nipónico

    @Kevin C. Cox - FIFA / Getty Images

    Depois de colocar dois troféus na sua vitrine, chegou a vez da Alemanha receber um Mundial no seu território

    Num dos Campeonatos do Mundo com mais recursos televisivos e elevado nível de cobertura mediática, foi o Japão o grande vencedor

    A seleção nipónica até terminou em segundo lugar na fase de grupos, atrás da Inglaterra, mas teve adversários de peso até conquistar o título. Deixou pelo caminho a bicampeã Alemanha (0-1), a Suécia (3-1) e, na final, derrotou os Estados Unidos nas grandes penalidades, depois de Homare Sawa ter sido a heroína do encontro com o golo do empate aos 117 minutos. 

     À sexta edição, havia mais um vencedor inédito: o JapãoHomare Sawa, internacional nipónica, foi a melhor marcadora (5 golos) e eleita a melhor jogadora do torneio.

    2015: o domínio americano voltou

    @Getty / Ronald Martinez

    Em 2015, o Mundial voltou a território americano. Pela primeira vez com 24 equipas na fase final, foi o Canadá o grande anfitrião da competição

    Dentro de campo, os Estados Unidos, campeões em 1991 1999, voltaram a conquistar o troféu, 16 anos depois

    O conjunto norte-americano liderado por Jillian Ellis eliminou Colômbia (2-0), China (0-1), Alemanha (2-0) e derrotou ainda o grande vencedor de 2011 na final: o Japão, por 5-2

    Carli Lloyd, com três golos na final, foi distinguida como a melhor jogadora do torneio, enquanto a alemã Célia Sasic, com seis golos, foi a melhor marcadora

    2019: novos recordes, o mesmo vencedor

    @Getty / Maddie Meyer - FIFA

    Disputado pela 1ª vez em França, o Mundial de 2019 ficou marcado por mais registos positivos. Com mais de mil milhões de telespectadores ao longo de toda a competição, este foi a edição mais vista de sempre

    Com 24 equipas em competição, e com a presença de VAR pela primeira vez em prova, voltaram a ser os Estados Unidos os grandes vencedores

    A equipa norte-americana defrontou quatro potências europeias e deixou-as todas pelo caminho. Espanha (1-2), França (1-2), Inglaterra (1-2) e, na final, os Países Baixos (2-0), a grande sensação da competição, liderada por Sarina Weigman

    Na final, a seleção americana venceu por 2-0, com golos de Lavelle e Megan Rapinoe, atleta eleita a melhor marcadora e melhor jogadora do torneio. 

    Pelo meio, nota ainda para a maior goleada na história da competição: Estados Unidos 13-0 Tailândia

    Em termo de prize money, este foi também um valor recorde. Com um total de 30 milhões de dólares para distribuir, o vencedor arrecadou 4 milhões de dólares. O finalista vencido 2,6, enquanto o 3º e 4º arrecadaram 2 e 1,6 milhões, respetivamente. No mínimo, as equipas que não passaram da fase de grupos regressaram a casa com um encaixe de 750 mil dólares. Em 2023, o valor será muito mais elevado. Estamos a falar de 110 milhões de dólares.

    2023: como nunca antes visto

    @Getty /

    Por fim, chegamos a 2023. A Oceânia recebeu pela primeira vez a fase final de um Mundial Feminino e esse foi o Campeonato do Mundo de todos os recordes.

    Em termos de impacto, este foi um Mundial particularmente diferente. Com mais de 1,4 milhões de bilhetes vendidos, foi o torneio mais visto de sempre, quer nos estádios, quer através da televisão.

    Ainda fora das quatro linhas, nota ainda para o prize money recorde numa competição feminina - 110 milhões de dólares -, bem como para a negociação de diretos televisivos que foi, pela primeira vez, negociada de forma independente, à parte do Mundial masculino. 

    Dentro do campo, a Espanha foi a grande vencedora. O conjunto espanhol, liderado por Jorge Vilda, eliminou Suíça, Países Baixos e Suécia para chegar à final. Aí, derrotou Inglaterra, campeã europeia em 2022, por 1-0, conquistando pela primeira vez o título de campeã do Mundo. A festa ficou, no entanto, marcada por um polémico beijo de Luís Rubiales, então presidente da Federação Espanhola, à atleta Jenni Hermoso, num polémico caso que levou à destituição do dirigente e até mesmo aos tribunais.

    A edição que contou pela primeira vez com 32 seleções foi também histórica para Portugal, que aproveitou esse alargamento para se estrear na competição, depois da mais longa qualificação de que há registo (13 partidas).

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