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    Leicester City

    Texto por Ricardo Gonçalves
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    Pertence ao Leicester aquela que é uma das conquistas mais bonitas da história do desporto e, certamente, o grande momento do futebol inglês no século XXI. Ainda assim, a história das raposas vai muito mais longe do que as proezas de 2015/16 ou os golos de Jamie Vardy. No Leicester os momentos marcantes acumulam-se, num clube que começou graças a alunos de Wyggeston, que queriam jogar fora da instituição académica.

    O Leicester City foi fundado no ano de 1884, na altura com o nome de Leicester Fosse, pois o campo da equipa estava localizado perto da Fosse Road, uma estrada que liga Exeter a Lincoln e pelo meio passa por várias cidades, incluindo Leicester. Foi seis anos após a sua fundação que o clube ingressou na Football Association, e um ano depois na Midland League, onde terminaria em segundo lugar e seria convidado a integrar a Segunda Divisão da Football League, já em 1894.

    Da «fossa» à cidade

    O primeiro jogo da liga foi uma derrota por 4x3 em Grimsby, mas uma semana depois, em Filbert Street, o clube registou sua primeira vitória na competição, contra o Rotherham. Foi também nessa temporada que o Leicester alcançou o melhor resultado da sua história: um 13x0 frente ao Notts Olympic, num jogo de qualificação para a FA Cup

    No ano de 1908, uma época impressionante viu a equipa terminar em segundo lugar e ser promovida à Primeira Divisão, mas a estadia seria curta e o Leicester Fosse foi imediatamente despromovido no ano seguinte. Foi também nesse ano no primeiro escalão que ficou na história o pior resultado do clube: uma derrota por 12x0 contra o Nottingham Forest.

    Leicester Fosse em 1892 @Leicester City

    Devido à primeira guerra mundial, as competições oficiais foram interrompidas por um período de quatro anos, no qual o Leicester disputou uma liga regional das Midlands. Foi durante este período que problemas financeiros tiveram um impacto enorme no clube, que já não existia quando a Football League voltou em 1919.

    A partir da Fossa, o clube foi reformado com novo nome: Leicester City Football Club. Um nome que, na altura, fez sentido, devido ao facto de Leicester ter recentemente recebido o estatuto de cidade, e também um nome que seria utilizado durante a restante história do clube.

    Seguiu-se algum sucesso no clube, com Peter Hodge no comando. Com Hodge, o clube contratou Arthur Chandler, que se tornaria melhor marcador da história do clube com uns lendários 273 golos, entre 1923 e 1935, e Adam Black, que jogou 557 vezes pelo Leicester, um recorde batido apenas por Graham Cross algumas décadas depois, quando em 1976 chegou aos 599 jogos em todas as competições.

    Foi no período de Hodge e Chandler que os foxes, que na altura ainda não tinham nenhuma associação a este animal, chegaram àquela que foi a sua melhor posição de sempre durante muito tempo, até serem campeões em 2016, na verdade. O Leicester em 1928/29 terminou em segundo lugar, apenas atrás do Sheffield Wednesday, que conquistou o seu terceiro título de campeão inglês e que o revalidaria no ano seguinte. Os nos 30 não trouxeram o mesmo sucesso, com o clube a ser despromovido em 1935, promovido (e campeão) em 1937 e novamente despromovido dois anos depois.

    As raposas

    Durante a segunda guerra mundial, tal como na primeira entre 1915 e 1919, o Leicester City viu-se forçado a competir em ligas regionais. Não foi um período particularmente feliz para nenhuma equipa, mas, no caso do Leicester, coincidiria com a primeira utilização de uma raposa no símbolo do clube.

    «Foxes», ou «raposas» é a alcunha mais associada ao Leicester, mas não existe nenhuma associação deste animal ao clube até 1948, ano em que uma raposa foi incorporada no novo símbolo do clube, que se associava a um animal característico do seu condado. Leicestershire, diga-se, é conhecido pela abundância de raposas e a caça das mesmas. Aqui começa uma alcunha que culminaria com a criação da mascote Filbert Fox, alguns anos mais tarde.

    Foi no ano seguinte, em 1949, que o Leicester City chegou pela primeira vez à final da lendária FA Cup, onde perderia por 3x1 frente ao Wolverhampton Wanderers mas encontrou motivos para celebrar uma semana mais tarde, quando garantiu a manutenção na segunda divisão, onde ficaria nos cinco anos seguintes até voltar à primeira liga.

    Primeiros símbolos com a raposa @DR

    Mais tarde, sob o comando de Matt Gillies, o clube voltaria a chegar à final da FA Cup em duas ocasiões e voltou a perder ambas, em 1961 e 1962, já com o lendário guarda-redes Gordon Banks no clube. Na primeira das duas perderam frente ao Tottenham que, ao conquistar a dobradinha nessa temporada, cedeu o «bilhete» da Taça das Taças ao Leicester, que em 1961/62 participou pela primeira vez numa competição europeia. Nessa prova ultrapassaram o Glenavon numa ronda preliminária, mas caíram perante o Atlético Madrid na primeira eliminatória. O ano seguinte viu o clube ganhar nova alcunha: «Reis do Gelo», devido a um momento de forma impressionante em campos com gelo e neve que culminou com um quarto lugar na Primeira Divisão. Em 1969, já sem Gillies, chegaram à final da FA Cup pela quarta vez, perdendo novamente.

    Dos anos 70 aos 90 o clube passaria por uma fase de altos e baixos, literalmente. O Leicester City foi, entre 1978 e 1991, promovido duas vezes e despromovido também duas, o que significou que apesar de alguns anos no primeiro escalão com Gary Lineker, o maior produto da formação do clube e um dos melhores avançados ingleses de sempre, o clube continuaria naquela que era a sua zona de conforto: a Segunda Divisão. Os dois anos seguintes, já na era da nova Premier League, o Leicester perdeu duas finais de play-off consecutivas, pelo que a estreia na nova elite inglesa teve de esperar até à terceira tentativa, em 1994.

    Tempestade antes da bonança

    O início do século XXI não foi dos melhores momentos para o Leicester. Chegou a ocupar o 1º lugar da Premier League durante a oitava jornada de 2000/01, mas o que se seguiu foi uma queda impressionante de uma equipa que prometeu chegar à Europa. O Leicester terminou em 13º e no ano seguinte viu Peter Taylor despedido por uma derrota por 0x5 logo na primeira jornada, frente ao recém-promovido Bolton. Nesse ano o Leicester seria despromovido, naquela que seria uma triste despedida de Filbert Street, um estádio que serviu o clube durante 111 anos.

    Walkers Stadium, atualmente King Power Stadium @Leicester City

    2002/03 trouxe um novo e brilhante Walkers Stadium, com 32 mil lugares e uma empresa de batatas fritas (Walkers) a patrocinar o nome durante os 10 anos seguintes. Ainda em outubro de 2002 o clube entrou em administração, com dívidas superiores a 30 milhões de libras, ainda assim o clube conseguiu o segundo lugar e promoção de volta à Premiership, um feito que motivou uma nova regra no futebol inglês: chegar a administração significa uma dedução de 10 pontos. O ano seguinte o Leicester seria novamente despromovido, com apenas 33 pontos, naquela que seria a sua última época na Premier League até 2014/15.

    Foi em 2008/09 que o Leicester jogou pela primeira vez no terceiro escalão do futebol inglês, depois de uma época desastrosa no Championship com Ian Holloway. Nigel Pearson, o substituto, foi campeão da League One e seguiu a proeza com um quinto lugar no segundo escalão, uma posição de acesso ao play-off de promoção à Premier League, onde o Leicester foi eliminado nas grandes penalidades.

    Seguiu-se o português Paulo Sousa e o sueco ex-Benfica Sven-Goran Eriksson, mas nenhum teve sucesso nos foxes. Com o regresso de Pearson, o clube voltou a estar perto da promoção, em 2012/13. A equipa voltou a qualificar-se para o play-off mas saiu derrotado naquele que foi um dos finais de jogo mais memoráveis na história do futebol: Knockaert falhou uma grande penalidade aos 97 minutos enquanto o jogo estava empatado e, no contra-ataque consequente, Troy Deeney marcou para enviar o Watford para a decisão em Wembley.

    Em 2013/14 o Leicester City foi campeão no Championship com 102 pontos, garantindo a promoção de volta à Premier League, onde iria viver, nos anos seguintes, alguns dos melhores momentos na história do clube.

    O conto de fadas

    O começo da temporada no regresso à máxima prova do futebol inglês nem foi mau de todo, mas uma série de maus resultados, com muitas derrotas consecutivas, viu o Leicester chegar a março com apenas 19 pontos em 29 jornadas, situando-se em último lugar com menos sete pontos que o 19º classificado.

    Os nove jogos que se seguiram até ao final da temporada viram um Leicester muito superior, com várias vitórias que foram suficiente para evitar a despromoção na penúltima jornada e, na última, conquistar uma vitória por 5x1 frente ao QPR que garantiu o 14º lugar para as foxes. Apesar do bom desempenho no final de temporada, Nigel Pearson foi, para surpresa dos adeptos, despedido. Para o substituir chegou o italiano Claudio Ranieri, um treinador que acabara de ser despedido da seleção grega por maus resultados. Mas foi aí que começou o conto de fadas. 

    Um campeão improvável @Getty / Michael Regan

    Sob o comando de Claudio Ranieri o Leicester City foi, pela primeira vez na sua história, campeão inglês, naquela que foi uma das campanhas mais emocionantes da história do desporto.

    No início da temporada de 2015/16 o Leicester era o favorito à despromoção, com uma probabilidade de ser campeão de 5000-1. Ainda assim, contra todas as probabilidades, o futebol de contra-ataque de Ranieri, os golos de Jamie Vardy, a criatividade de Ryiad Mahrez e o trabalho defensivo de Kanté deram aos foxes o primeiro título de campeão inglês da sua história e consequentemente a primeira participação na Champions League no ano seguinte.

    Recorde em maior detalhe a caminhada do Leicester até ao título

    Pertencer à elite

    Em 2016 o Leicester era então, contra todas as probabilidades, o campeão inglês. A equipa de Ranieri perdeu Kanté para o Chelsea, onde seria novamente campeão, mas não foi por isso que não representou bem Inglaterra na Liga dos Campeões. Os foxes terminaram em primeiro lugar de um grupo que contava com FC Porto, Kobenhavn e Club Brugge, antes de superar o Sevilla nos oitavos de final. Na ronda seguinte, frente ao Atlético Madrid, o Leicester lutou, mas acabou eliminado com um resultado agregado de 2x1. 

    Leicester frente ao FC Porto, na Liga dos Campeões @Getty / Shaun Botterill

    Apesar das boas exibições europeias, na Premier League o Leicester sentiu dificuldades e estava apenas um ponto acima da zona de despromoção quando Ranieri foi despedido, numa decisão que causou surpresa e revolta. Craig Shakespeare foi a opção temporária, mas bons resultados garantiram que ficaria até ao fim da temporada.

    No comando seguiu-se Claude Puel, que levou a equipa de volta à metade superior da tabela com um 9º lugar. Na temporada seguinte o francês acabou despedido, devido a várias derrotas caseiras consecutivas que deixaram o clube em 12º lugar. O substituto foi Brendan Rodgers, que levou a equipa a terminar de novo em 9º lugar.

    Na sua primeira temporada completa, Brendan Rodgers surpreendeu com excelentes exibições, ocupando o 2º lugar da Premier League durante quase toda a temporada. A qualificação para a Champions League acabaria por não acontecer, devido à descida para 5º lugar na última jornada. Foi, ainda assim, uma temporada histórica com momentos para relembrar: como a vitória por 0x9 frente ao Southampton, que bateu o recorde de melhor resultado forasteiro da história da competição, ou os 23 golos de Jamie Vardy, que se tornou no primeiro jogador do Leicester a sagrar-se melhor marcador da Premier League, depois de em 2015/16 ter ficado a um golo de Harry Kane.

    O sucesso com o treinador norte-irlandês pode nunca ser tão grande e evidente como foi com o Tinkerman italiano, mas, com Rodgers, o Leicester voltou a disputar o futebol europeu e criou os alicerces para que uma maior estabilidade no clube, que quer continuar a pertencer à elite do futebol inglês.

    Comentários

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    motivo:
    ZA
    ZeroZero
    2020-11-26 11h19m por Zagorakis
    No último paragrafo "O sucesso com o treinador galês pode nunca ser tão grande e evidente como foi com o Tinkerman italiano, mas, com Rodgers, o Leicester voltou a disputar o futebol europeu (. . )", existe um erro, o Rodgers não é galês, mas sim norte-irlandês
    Agradecimento
    hm por zerozero.pt
    Muito obrigado. A notícia foi alterada com base no comentário acima.
    Estádio
    King Power Stadium
    Lotação32312
    Medidas105x68m
    Inauguração2002