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    Euro 1988

    Euro 1988: van Basten & Cia.

    Texto por João Pedro Silveira
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    Em 1988, enquanto os soviéticos abandonavam o Afeganistão, vivia-se na esperança do desanuviamento, mas o mundo estaria longe de imaginar que no ano seguinte, as revoluções derrubariam os regimes comunistas a leste, e o muro de Berlim iria cair.

    Quatro anos depois, por alturas do europeu na Suécia, já não haveria União Soviética e a Alemanha estaria formalmente unificada, os EUA já tinham liderado a primeira guerra no golfo e a CEE dera lugar a União Europeia. Nunca desde o fim da II Guerra Mundial o mundo mudaria tanto, como no período que mediou entre 1988 e 1992. 

    Italianos e alemães cumprem as expectativas

    Os soviéticos bateram os italianos nas meias-finais, chegando ao grande jogo pela quarta vez.
    Depois do fracasso em 1984, a Alemanha Federal, a jogar em casa, procurava voltar a conquistar o troféu. Após a presença nos dois últimos mundiais, e com a campeã França fora do caminho, seria a Itália a única grande adversária a ter em conta pelos alemães.

    Nas casas de apostas inglesas, a seleção de «Sua Majestade» partia muito próxima de alemães e italianos, sendo considerada uma das grandes favoritas muito por culpa de uma impressionante fase de qualificação, onde cederam apenas um empate, marcaram 19 golos e viram apenas por uma vez a bola entrar na sua baliza. Os soviéticos também não eram esquecidos, enquanto espanhóis e holandeses estavam um pouco atrás na grelha de partida...
     
    No grupo A, os anfitriões e os italianos empataram a um golo no jogo da estreia, dando razão aos analistas. Seguiram-se as vitórias sem problemas de ambos sobre espanhóis e dinamarqueses, garantindo sem problemas a passagem à fase seguinte.
     
    A Irlanda mostra-se ao mundo
     
    Já no grupo B, os especialistas falharam por completo os prognósticos logo no primeiro jogo que opôs a Inglaterra ao Eire. Em Estugarda, um golo do irlandês Ray Houghton aos seis minutos, bastou para provocar sensação e deixar os ingleses à beira de um ataque de nervos.
     
    Jackie Charlton - carinhosamente conhecido como a «Girafa» - comandou o Eire no surpreedente debut dos irlandeses nos grandes palcos.
    No mesmo dia, em Colónia, no Müngersdorfer Stadion, 60 mil presenciaram a um grande jogo, entre duas não menos grandes equipas: União Soviética e Holanda.
     
    Num encontro tenso, em que o resultado podia cair para qualquer um dos lados, a vitória acabou por sorrir aos de leste, graças ao golo solitário de Rats, nos primeiros minutos da segunda parte.
     
    Bye Bye England
     
    Pressionados pelas derrotas na jornada inaugural, tanto ingleses como holandeses, entraram para o segundo jogo com a obrigatoriedade de vencer. 
    Rinus Michels apostou finalmente em van Basten para o onze inicial e não se deu nada mal com a aposta. Um golo do avançado ainda na primeira parte encaminhou a equipa. Robson ainda voltou a dar ânimo ao sonho inglês, mas mais dois golos de Marco acabaram com a Inglaterra.
     
    Nessa noite em Hanover, os irlandeses voltaram a surpreender o mundo travando os soviéticos (1x1). E a história podia ser ainda mais épica, não fosse o golo de Protassov  aos 74 minutos, dar um empate aos soviéticos, depois do jogador do Liverpool, Ronnie Whelan, ter inaugurado o marcador ainda na primeira parte.
     
    A última jornada confirmou a desgraça britânica, com a Inglaterra a sair vergada por um claro 1x3 às mãos da URSS, enquanto holandeses e irlandeses disputavam um embate de morte, para decidir quem acompanhava a «máquina soviética» para as meias-finais.
     
    E mais uma vez a Irlanda esteve perto de fazer história, aguentando o nulo que a apurava e deixava a Laranja Mecânica pelo caminho até bem perto do fim. O herói, improvável, foi Wim Kieft, que apontou o golo da vitória (e do apuramento) holandês aos 82 minutos.
     
    A Laranja faz história
     
    Nas meias-finais a União Soviética venceu a Itália por 2x0 com uma naturalidade «científica», enquanto os olhos do mundo estavam colocados em Hamburgo, no embate entre alemães ocidentais e holandeses, 14 anos depois da final do mundial em que Beckenbauer e companhia tinham batido a Laranja Mecânica de Cruijff.
     
    Há 32 anos que a Holanda não vencia os seus vizinhos, mas a equipa onde brilhavam van Basten, Gullit e Rijkaard não queria perder a possibilidade de fazer história e nunca se desuniu, nem depois do golo de Matthäus, já na segunda parte.
     
    Em 1988 Rinus Michels liderou a Holanda finalmente à consagração, depois dos fracassos de 1974 e 1978.
    Primeiro Ronald Koeman de grande penalidade a um quarto-de-hora do final e depois Marco van Basten a dois minutos do fim, viraram o resultado e colocaram a Holanda na primeira final de um Campeonato da Europa, vingando a derrota de Munique.
     
    No grande dia, 60% dos holandeses sintonizaram o canal que transmitia a final, para verem a sua Oranje vingar a derrota sofrida no primeiro jogo com os soviéticos. Quatorze anos depois, a «Laranja Mecânica» voltava a pisar o palco do Estádio Olímpico de Munique. Pela terceira vez os holandeses jogavam a final de uma grande competição, e nem lhes passava pela cabeça repetir 1974 e 1978.
     
    Numa demonstração de força e classe, os holandeses dominaram o jogo desde o primeiro apito, adiantando-se no marcador com uma cabeça poderosa de Gullit.
     
    Na segunda parte, aos 54 minutos, veio o momento que define um jogador, uma prova, um desporto. Quem viu nunca esqueceu. Quem não viu devia ter vergonha de assumi-lo. Adri van Tiggelen intercepta um passe e entra no meio campo adversário com a bola controlada, enquanto a equipa avança com ele no terreno. No momento certo deixa a bola para a esquerda, onde Arnold Mühren, camisola oito, centra de primeira com a perfeição dos grandes momentos, levando a bola a sobrevoar toda a área soviética até encontrar o pé direito de Marco van Basten, que sem deixar cair o esférico, o lança num arco perfeito sobre Rinat Dasaev, apontando o golo de uma vida. A definitiva «obra de arte» futebolística.
     
    Rinus Michels leva a mão à cabeça. A onda laranja explode nas bancadas. Estavam vingados os heróis de 1974. O futebol arte via chegar a sua hora...

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