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    Euro 1984

    Euro 1984: a França finalmente campeã

    Texto por João Pedro Silveira
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    Big Brother nas estrelas

    O ano de 1984 não confirmou as expectativas orwellianas de um mundo aterrador. O «grande irmão» só faria furor na Europa por volta do ano 2000 e sob o formato de reality show.
    Mas 1984 não Big Brother nas estrelas
    O ano de 1984 não confirmou as expectativas orwellianas de um mundo aterrador. O «grande irmão» só faria furor na Europa por volta do ano 2000 e sob o formato de «reality show».
     
    O futuro chegava com o primeiro Apple Macintosh, o primeiro leitor de CD, a identificação do vírus da SIDA e o lançamento da MTV.
     
    Mas 1984 não foi nenhum passeio no parque. Ondas de choque e comoção atravessaram o planeta com as constantes imagens da fome no Corno de África que chegavam aos televisores da Europa e América do Norte.  
     
    Na Índia a Primeira-Ministra Indira Gandhi era assassinada por activistas Sikhs. Em Moscovo a liderança soviética vivia em permanente sobressalto depois da morte de Brezhnev em 1982. Seguiu-se-lhe Andropov, que esteve no Kremlin menos de dois anos, sucedido por Chernenko que daria o lugar a Gorbachev em Março de 1985.
     
    Nos Estados Unidos durante os jogos de Los Angeles, Carl Lewis fazia história e repetia os feitos de Jessie Owens em 1936. Reagan lançava o projeto SDI (Iniciativa de Defesa Estratégica) conhecido popularmente por «Guerra nas Estrelas» e, enquanto Indiana Jones explorava o Templo Perdido, também os Gremlins, o Karaté Kid e os Caça-fantasmas lotavam cinemas em todo o mundo...
     
    Os olhos do mundo em Los Angeles e Paris
     
    Em ano de novo boicote olímpico aos Jogos de Los Angeles, com a já esperada resposta soviética ao boicote americano aos Jogos de Moscovo, a qualificação para o Euro 1984 trouxe algumas surpresas: os romenos com Bölöni em grande destaque deixaram de fora os campeões do mundo (Itália). Portugal também surpreendeu, afastando a Polónia, que conquistara o terceiro lugar no mundial de Espanha, e a URSS.
     
    A Inglaterra por sua vez não resistiu a uma surpreendente Dinamarca e a Espanha qualificou-se depois de vencer Malta por 12x1 no último jogo, quando precisava de uma vitória com onze golos de diferença para superar a concorrência da Holanda.
     
    A França e a R.F.A. partiam como grandes favoritas, esperando-se com alguma curiosidade o que seriam capazes de fazer as estreantes seleções de Dinamarca, Roménia e Portugal, já que a Bélgica, Jugoslávia e Espanha, dispensavam apresentações. 
     
    Grupo A: Michel Platini e a «Dinamáquina»
     
    E começava o grande torneio, em Paris, no Parc des Princes, na véspera de Santo António,com a França a vencer a Dinamarca com um golo de Michel Platini.
     
    Dias depois os gauleses subiram a parada, goleando a Bélgica em Nantes por 5x0, com um «hattrick perfeito» de Platini. Mas se a França tinha deslumbrado com uma exibição avassaladora, a Dinamarca não lhe quis ficar atrás e em Lyon a «Dinamáquina» entrou finalmente em ação e esmagou a Jugoslávia com um inapelável 5x0, confirmando as boas expectativas que deixara no jogo da estreia. 
     
    No Geofroy-Guichard em Saint-Étienne, quatro dias passados, nova tarde de glória para Platini, com um golo com pé esquerdo, outro com o pé direito e um terceiro golo com a cabeça, completando o segundo «hattrick perfeito» na competição. Três vitórias em três jogos, muitos golos e um Platini muito inspirado colocavam a França no caminho do seu primeiro troféu.
     
    Para fechar o grupo A, em Estrasburgo, a «Dinamáquina» teve de se ver com uma Bélgica decidida que entrou no jogo a ganhar, chegando aos 0x2 aos 39 minutos. Os nórdicos tiveram então que efetuar uma reviravolta histórica que culminou no 3x2 final, autoria de Preben Elkjær Larsen aos 84´.
     
    Grupo B: Alemanha vs a aliança ibérica
     
    O Grupo B tinha na R.F.A. a clara favorita, enquanto de espanhóis, Portugueses e Romenos esperava-se muita luta pelo segundo lugar.
    Na estreia em Estrasburgo, quase vinte anos depois da saga em Inglaterra, os portugueses aguentaram o nulo contra a superfavorita Alemanha, enquanto espanhóis e romenos dividiam os pontos, nessa mesma noite em Saint-Étienne.
     
    Dias depois, após a esperada vitória alemã sobre a Roménia, os «irmãos» ibéricos empataram a uma bola, no primeiro confronto entre Portugal e Espanha numa fase final de uma grande competição, deixando tudo aberto para a última jornada.
     
    No la Beaujoir, em Nantes, um golo do benfiquista Nené a dez minutos do fim, valeu a vitória portuguesa e a qualificação para as meias-finais, tornando a seleção portuguesa num verdadeiro "case study" do futebol internacional. Desde 1930 só tinha conseguido qualificar-se para uma fase final por duas vezes, mas em ambas as situações, chegava às meias-finais.
     
    Ainda mais surpreendente que a epopeia lusitana, foi a vitória espanhola sobre a Alemanha Ocidental. Em Paris, um golo de Maceda no último minuto, deixava pelo caminho a seleção campeã europeia, que tinha estado presente nas três últimas finais do europeu, além de também ter marcado presença em duas das três últimas finais de Campeonatos do Mundo.
     
    Um jogo louco em Marselha
     
    O fim da linha para a «Dinamáquina» chegou nas meias-finais, onde a Espanha foi mais forte no desempate por grandes penalidades. Mas o grande momento do Euro 84, o jogo que perdura na memória de todos, foi a magnífica meia-final que opôs num lotado Velodrome em Marselha, os anfitriões aos surpreendentes portugueses.
     
    Domergue abriu o marcador com um livre direto ainda no primeiro tempo e tudo parecia bem encaminhado até que aos 74 minutos, Jordão empatou o jogo e a partida entrou num frenesim.
     
    Seguiu-se o prolongamento, onde Jordão bisou, colocando os portugueses na frente aos 98 minutos. Contra todas as expectativas, Portugal arriscou marcar o terceiro e a França ficou encostada à parede... O jogo partiu por completo, com as duas equipas a jogar deliberamente ao ataque, sem preocupações defensivas e com as oportunidades a sucederem-se em ambas as balizas.
     
    O jogo partiu por completo, jogando as duas equipas deliberadamente ao ataque.
    Aos 114 Domergue bisou e empatou o jogo e quando todos pensavam que os penáltis iriam desempatar o jogo, Platini marcou o 3x2 no último minuto, num golo que literalmente deixou Portugal caído no chão...
     
    Dias depois em Paris, a surpresa não aconteceu. A Espanha foi incapaz de parar uma França muito forte e depois de mais um golo do inevitável Platini, colaboração de Arconada, Bellone bisou perto do final, garantido aos bleus a primeira vitória numa grande competição. O jogo partiu por completo, jogando as duas equipas deliberadamente ao ataque.
    Aos 114´ Domergue bisou, empatando o jogo e, quando todos pensavam que se teria de recorrer aos penáltis para desempatar a partida, Platini - outra vez ele! - marcou o 3x2 no último minuto, pondo ponto final num dos melhores jogos da história dos europeus, num golo que literalmente deixou Portugal caído no chão...
     
    A grande final de Paris e a consagração de Platini
     
    Dias depois em Paris, a surpresa não aconteceu. A Espanha foi incapaz de parar uma França muito forte. Até ao intervalo o empate premiava a concentração defensiva dos ibéricos, castigando ao mesmo tempo uma certa sobranceria francesa.
     
    Mas tudo mudou no regresso das cabinas. Após mais um golo do inevitável Platini, com a colaboração de Arconada, num lance em que o capitão espanhol largou um remate fraco do capitão francês e viu a bola entrar na sua baliza, fazendo ruir a muralha espanhola...
     
    O jogo continuou com a França procurando o segundo e a Espanha incapaz de dar a volta. Tudo acabou, perto de final, quando Bellone apontou o segundo golo dos gauleses, garantido aos bleus a primeira vitória numa grande competição. 
     
    «Vive la France!»
     
    Depois de chegarem à meia-final no mundial de Espanha em 1982, a França conquistava finalmente um grande troféu. Meses depois em Los Angeles, a França venceria o Brasil na final do torneio Olímpico conquistando a medalha de Ouro. Seguiu-se ainda nova presença na meia-final no mundial do México em 1986.
     
    Chegara a idade de ouro da França. A França de  Platini, Giresse, Amoros, Tigana, Bats, Fernández, de grandes resultados e futebol filigrana, só seria suplantada pela França Champagne de Zidane e companhia, que foi mais longe e se coroou Rainha do Mundo, na mesma cidade de Paris, 14 anos depois...

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