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      Itália 1990: Talvez o pior Mundial de sempre

      Texto por João Pedro Silveira
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      Um sonho italiano

      O Itália 90 foi considerado por muitos o pior mundial de sempre. Foi mal jogado, foi aborrecido, “empestado” de empates a zero, e com jogos resolvidos apenas com um golo o que lhe valeu a pior média de golos (2,1 por jogo) de todos os mundiais desde 1930.

      Foi além do mais o primeiro a ter um finalista que não marcou nenhum golo e teve direito ainda à estreia de ver exibido não um, mas dois cartões vermelhos no jogo decisivo - argentinos Monzon e Dezotti.

      Para estragar a festa, já de si tão pobre, juntou-se ainda a entrada em cena do hooliganismo. Foi no Itália 90 que os intratáveis adeptos ingleses fizeram o seu aparecimento no palco das grandes competições entre selecções, depois de na década de oitenta terem «atazanado» a cabeça às autoridades britânicas e marcado a sangue os palcos europeus, culminando essa triste saga nos vergonhosos acontecimentos da final da Taça dos Campeões Europeus de 1985 entre o Liverpool e a Juventus, no Heysel Park em Bruxelas.

      E os Camarões batem os campeões 

      O Mundial teve início no Giuseppe Meazza em Milão com uma enorme surpresa: a campeã Argentina caiu aos pés dos Leões Indomáveis, graças ao golo de Omam Biyik e tal como em 82 a Argentina entrava com o “pé esquerdo” na competição.

      Ao segundo jogo, logo aos 11’ perdia o experiente Pumpido e lançava um estreante na sua baliza que daria muito que falar neste mundial: Goycoechea.

      Apesar do revés, a Argentina a “jogar em casa” no San Paolo em Nápoles, venceu a U.R.S.S por 2-0, que depois de já ter perdido pelo mesmo resultado na 1ª Jornada com os romenos ficava assim pelo caminho.

      No outro jogo do grupo, os Camarões com Roger Milla - na altura com 38 ano - em grande plano (autor dos dois golos) venceram a Roménia por 2-1 e seguiam em frente.

      Na última jornada, argentinos e romenos empatavam enquanto a U.R.S.S limpava a imagem esmagando os Camarões por 4-0, que apesar da goleada terminavam o grupo em primeiro.

      A Itália imparável com Totò 

      A Itália, sempre a jogar no “amuleto” que era o belíssimo Estádio Olímpico em Roma, venceu todos os adversários que surgiam pela frente no grupo A. Bateu primeiro a Áustria - graças ao golo solitário “saído do banco” autoria do desconhecido Totó Schillaci, continuou com uma vitória sobre os E.U.A. (1-0) e terminou vencendo os Checos por 2-0, que apesar da derrota garantiam também a passagem a segunda fase da prova.

      No grupo C o Brasil venceu sem dificuldades a oposição de suecos, escoceses e costa-riquenhos, sem contudo nunca deslumbrar. Neste grupo o destaque vai por inteiro para a Costa Rica que se estreou num mundial com uma vitória sobre os britânicos. Nessa tarde no Estádio Luigi Ferraris em Génova, o golo de Medford valeu-lhe entrada directa para história do futebol costa-riquenho.

      Apesar da derrota no segundo jogo contra os brasileiros, a Costa Rica voltaria a surpreender o mundo ao vencer por 2-1 a Suécia, com uma histórica “remontada” finalizada pelo inevitável Medford a 2’ do final da partida.

      Alemães, belgas e ingleses em frente

      O grupo D apresentava a Alemanha como grande favorita. No Giuseppe Meazza uma vitória de 4-1 sobre a sempre perigosa Jugoslávia - onde despontavam jogadores de craveira como Jozic, Sušic, Prosinecki, Stojkovic, Katanec, Savicevic e Pancev - abria o caminho para um grande mundial, como se viria a confirmar dias depois, com nova goleada, desta feita 5-1 sobre os estreantes Emirados Árabes Unidos.

      No último jogo a Alemanha já qualificada, empatou com a Colômbia, gerindo o plantel e permitindo assim aos sul-americanos qualificarem-se juntamente com alemães e jugoslavos.

      A Bélgica era a cabeça de série do grupo E graças ao 4º lugar conseguido no México 86. Mas pela frente tinha a forte concorrência da Espanha e do Uruguai, enquanto a Coreia do Sul não apresentava futebol para contrapor aos 3 concorrentes, perdendo os 3 jogos e vendo os outros três seguir para os oitavos-de-final.

      Por fim o “grupo das ilhas”, tal como ficou conhecido o grupo F por ter sido disputado em Cagliari (Sardenha) e Palermo (Sicilia), numa tentativa que viria a revelar-se frustrada de conter os adeptos ingleses. O grupo foi muito equilibrado, com 4 empates nos 4 primeiros jogos, deixando tudo em aberto para a última jornada.

      A Inglaterra venceu o Egipto (1-0), enquanto a Holanda – então campeã europeia em título - e a Irlanda - uma estreante em fases finais - empatavam 1-1 no Estádio Della Favorita em Palermo, num jogo vergonhoso em que os guarda-redes Van Breukelen e Pat Bonner passaram a 2ª parte toda a receber atrasos dos defesas das respectivas equipas.

      Foi por causa deste jogo – segundo rezam as crónicas - que a FIFA viria a recorrer ao International Football Association Board para alterar a regra do atraso ao guarda-redes.

      Oitavos de grandes emoções

      Chegados os oitavos de final a competição entrou na fase do “mata-mata”. Os favoritos não deixaram os seus méritos em mãos alheias. A Itália despachou o Uruguai e a Checoslováquia terminou o lindo sonho da Costa Rica com um estrondoso 4-1.

      Espanhóis e belgas caíram aos pés de jugoslavos e ingleses respectivamente, enquanto os irlandeses, chegavam aos quartos de final após vencerem os romenos nos penalties.

      Os Camarões continuaram a sua bonita festa vencendo os colombianos por 2-1, após prolongamento, tendo Roger Milla inaugurado o placard após um lamentável erro do guarda-redes Higuita, que ao tentar fintar o avançado camaronês perdeu a bola, e viu Milla caminhar para as redes desertas e ir festejar o golo junto à bandeirola de canto.

      Brasil e Holanda fora do mundial

      Para o dia 24 de Junho ficavam marcados os dois embates de titãs dos oitavos de final: Brasil vs Argentina, e Alemanha vs Holanda. A Argentina, campeã do mundo em título, aguentou o futebol atacante brasileiro e num passe de génio de Maradona viu Cannigia concretizar com mestria o único golo da partida.

      Mais tarde nessa noite, a Alemanha venceu a Holanda num jogo táctico. Os comandados de Beckenbauer souberam fazer valer o seu futebol e força, e deixaram para trás uma Holanda que esteve a anos-luz do futebol praticado dois anos antes no Euro-88.

      Maradona falha, mas a Argentina não pára

      Os quartos de final começaram em Florença, onde os Argentinos venceram os jugoslavos após grandes penalidades. Decisivo Goycoechea, o guarda-redes argentino, num jogo onde Ivckovic que então jogava no Sporting defendeu um penalty a Diego Armando Maradona – repetindo o feito que já conseguira numa eliminatória da Taça UEFA onde os leões tinham sido eliminados pelo Nápoles - que mesmo assim não impediu os argentinos de seguir em frente.

      A Alemanha e a Itália venceram com dificuldade respectivamente Irlanda e Checoslováquia pelo mesmo resultado (1-0). O grande jogo dos quartos de final e de todo o mundial seria o Camarões-Inglaterra. Um hino ao futebol de ataque que acabou com vitória inglesa por 3-2 após prolongamento.

      A Argentina a jogar em casa 

      As “meias” tinham chegado com dois grandes clássicos em perspectiva. Em Nápoles sendo verdade que a Itália jogava perante o seu público, não era menos verdade que Maradona jogava em casa.

      Foi um jogo de nervos, onde os italianos se adiantaram com o golo da praxe de Schillaci, para Cannigia igualar já na segunda parte – naquele que foi o primeiro golo sofrido por Zenga no mundial. O jogo seguiu para prolongamento onde não existiram mais golos. No desempate por grandes penalidades foi Goycoechea a resolver novamente e Itália falhava a sonhada final.

      A maldição inglesa e a consagração alemã

      Na outra meia o mesmo destino: alemães e ingleses não conseguiram abrir a porta do caminho para a final nos 120’ que jogaram (1-1). Na lotaria a Alemanha foi mais forte e chegava a sua 3ª final consecutiva; olhando para trás, uns anos mais tarde o avançado inglês Gary Lineker afirmaria que após este jogo chegara a conclusão que “o futebol é um jogo jogado por 22 pessoas, (…) e que no final ganha sempre a Alemanha.

      A final em si não teve grande história, venceu a melhor equipa, num jogo pobre onde o golo de Brehme aos 85’ através da marcação de uma grande penalidade valeu o terceiro Campeonato mundial aos alemães.

      Para a memória ficaram as imagens das lágrimas de Diego Armando Maradona de medalha de prata ao peito, enquanto observava Augenthaler com a taça de Campeão do Mundo na mão.

      Comentários

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      motivo:
      SH
      pior mundial de sempre
      2013-05-02 17h49m por sheriffboss
      O pior mundial de sempre foi o mundial da Coreia/Japão em 2002. Aliás para mim o ultimo mundial em que se viu bom espetáculo e grandes jogos foi o França 98, a partir daí o jogo tático passou a sobrepor-se ao futebol espetáculo, e a maior dos jogos dos mundiais a partir daí são extremamente monótonos. Os europeus têm sido melhores e mais emocionantes que os mundiais ultimamente.