Na carreira de Artur Antunes Coimbra, Zico, fica a faltar uma conquista com a camisola da canarinha. Com Zico e companhia, o Brasil reviveu o futebol espetáculo de 1958 ou 1970, encantando o mundo e seduzindo todos com a magia do seu toque. Mas o escrete nunca foi sequer a uma final enquanto Zico lá jogava, como tal, muitos o consideraram um «pé frio», que é como no Brasil são conhecidos os jogadores e treinadores que dão azar à sua equipa.
Mas se nos cingirmos apenas ao Flamengo, seu clube de sempre, Zico tem de ser considerado um «pé quente», graças ao maravilhoso pé direito com que liderou o Fla ao topo do futebol mundial.
Costela leonina
Artur Antunes Coimbra, conhecido por Zico, nasceu na «Cidade Maravilhosa» a 3 de março de 1953, filho de José Antunes Coimbra, um emigrante português, natural de Tondela e de Matilde Ferreira da Costa Silva. Desde pequeno que se apaixonou pelo futebol, essa paixão nacional brasileira, que só tem par no Rio de Janeiro, com o amor que os cariocas devotam à praia, ao Cristo Rei e ao samba.
Desde tenra idade que
Zico torcia pelo Flamengo, não perdendo nenhum jogo do
Fla na rádio. Objeto que fez parte da educação futebolística do pequeno rapaz. Anos mais tarde,
Zico recordou as manhãs de domingo, quando se sentava com o pai na mesa da cozinha a escutar os jogos do Campeonato Português, vibrando por simpatia com as vitórias do
Sporting, o clube do seu pai.
Durante a vida teria sempre essa costela leonina, mas não haja dúvidas, o seu coração só tem um amor, o Clube de Regatas do Flamengo, o seu amado «Mengão».
O menino da Gávea
Ainda garoto, foi tentar a sua sorte ao Flamengo. Modesto Bria, o responsável pelas escolas do Fla, não ficou impressionado com um rapaz magro, que aos catorze anos aparentava nem doze ter.
Baixinho, tímido, foi colocado de lado e só entrou no fim do treino. Para surpresa de todos, fintou todos os rapazes bem maiores que ele que lhe apareciam pela frente e deixou o treinador boquiaberto. Nascia o jogador, a futura estrela, o melhor jogador brasileiro dos anos oitenta, para muitos, o grande herdeiro do «Rei» Pelé.
Na Gávea, no centro de formação do Flamengo, foi sendo burilado o grande artista, enquanto o preparador físico José Roberto Francalacci foi recuperando o pequeno menino que se foi tornando num adolescente igual aos outros. Por ser franzino, era conhecido como o «Galinho de Quintino», sendo Quintino o bairro onde vivia.
Aos 17 anos, ainda com idade de júnior, mas já com 1,72 cm e cerca de 60 quilos, estreou-se finalmente na primeira equipa do Flamengo, num particular contra o Vasco da Gama, curiosamente o clube associado à comunidade portuguesa do Rio.
Primeiras conquistas e a «canarinha»
Seria ainda intercalando jogos nos juniores e na equipa A que colaborou para a conquista do Campeonato Carioca de 1972, o primeiro troféu da sua carreira, que voltaria a conquistar já como sénior em 1974.
Dois anos depois chegou a primeira convocatória para o «escrete», marcando o golo da vitória por 1x2 sobre o Uruguai em Montevideu. Com o Brasil efetuou 72 jogos, apontando um número impressionante de 52 golos, tendo em conta que não era um avançado centro.
Com a canarinha jogou três mundiais, conseguindo um terceiro lugar em 1978, na competição que se disputou na vizinha Argentina. No ano seguinte, voltou a conquistar a medalha de bronze, desta vez na Copa América. Curiosamente, estes foram os melhores resultados que conseguiu com a seleção brasileira.
Em 1982, com uma seleção de sonho, comandada por Telé Santana, numa equipa onde
Zico brilhava juntamente com Sócrates, Falcão e companhia, o Brasil era o grande favorito a conquistar a prova, mas após quatro vitórias e outras tantas exibições de sonho, o Brasil caiu às mãos da Itália de
Paolo Rossi, com o histórico 2x3, numa tarde de emoções no Sarrià em
Barcelona.
Quatro anos depois, no México, o Brasil perdeu a possibilidade de emendar o falhanço de 1982, perdendo nos quartos-de-final no desempate por grandes penalidades com a França de
Platini, após um dos mais disputados jogos da competição.
A passagem por Itália e o regresso ao Fla
Depois das suas exibições em
Espanha e no auge das suas capacidades, despertara o interesse do futebol europeu. Em 1983, mudou-se de armas e bagagens para Itália, onde jogou pela modesta Udinese. Longe dos títulos e com saudades de casa, abandonou Udine e regressou ao Rio e ao seu Flamengo, duas épocas depois.
No Flamengo, nunca mais repetiu o sucesso da «Era
Zico» que entre 1978 e 1983, valera ao «Mengão» a conquista de três edições do Brasileirão, quatro Campeonatos cariocas, cinco Taças de Guanabara, uma Copa Libertadores e uma Taça
Intercontinental.
Durante mais quatro anos, continuou a luzir com a camisola rubro-negra, abandonando durante dois anos o futebol, para regressar e ainda jogar um par de épocas no Japão ao serviço do Kashima Antlers, clube onde começaria a sua carreira de treinador em 1999.
Seria no «País do Sol Nascente» que o treinador ganharia nome, comandando a seleção local no mundial de 2002 em casa e no mundial seguinte na Alemanha, onde os nipónicos exibiram bom futebol. Seguiram-se apostas não tão bem sucedidas no Fenerbahçe, Bunyodkor, CSKA de Moscovo,
Olympiakos, a Seleção Nacional do Iraque, o Al-Gharafa e o FC Goa. Desde 2018 que é coordenador técnico dos japonenses do Kashima Antlers, último clube que representou enquanto jogador.
Bunyodkor
CSKA Moscou
Olympiakos
Iraque