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    Corinthian, o pai do «Fair Play»

    Texto por João Pedro Silveira
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    «O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
    Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
    O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
    »

    - Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, c. 13, v. 4-6.

    Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.»- Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, c. 13, v. 4-6.

    A fundação

    Nasceu, em Londres em 1882, o clube que ficaria na história por ter colocado o Fair Play acima dos resultados desportivos. O fundador, N. Lane 'Pa' Jackson, secretário assistente da Football Association, queria criar uma equipa capaz de desafiar a supremacia da seleção escocesa, que era então superior à inglesa.

    Os escritórios de Jackson, na Paternoster Row em Londres, foram o berço do clube. O nome, uma evocação da famosa Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios foi uma sugestão de H.A. Swepstowe, um internacional inglês, sendo aceite por unanimidade pelos restantes fundadores. 

    Os corinthians sentiam-se assim obrigados desde a fundação a tentar seguir o espírito de respeito e fraternidade da carta do convertido de Damasco. 

    N. Lane 'Pa' Jackson, o fundador do Corinthian Football Club.
    Recentemente, em «Play Up Corinth» a história do clube da autoria de Rob Cavallini, o autor defende que a explicação mai provável para o nome reside no sentido mais antigo - esquecido - da palavra, que significava algo como «um homem bem vestido e hedonista», o que captava num só a imagem a elegância do sportsman e a estética e o culto do prazer do dandy, duas figuras tão em voga na era vitoriana. 

    Fazendo justiça à ideia fundadora de Jackson, quatro anos depois da fundação, jogariam nove corinthians na equipa inglesa que empatou a uma bola com a Escócia. Da fundação até 1890, 52 dos 88 internacionais que entraram em campo com a camisola inglesa, provinham do Corinthian. E por duas vezes, em 1894 e 1895, o onze completo era formado só por jogadores do clube. 

    O culto do Fair Play

    Desde o primeiro dia que os corinthians se recusavam a participar em competições oficiais, em honra da boa tradição do sportsmanship, tão em voga na época vitoriana, no lema que defendia que o mais importante no desporto era competir. 
     
    Em norma dos princípios do desportivismo, o Corinthian retirava sempre um dos seus jogadores de campo, quando o adversário perdia um jogador por lesão (1) ou porque o árbitro tinha dado ordem de expulsão a um dos jogadores (2). 
     
    Mais curioso era decisão dos corinthians se recusarem a apontar grandes penalidades, pois consideravam que o penálti era uma tremenda injustiça. Assim, sempre que um penálti era concedido ao Corinthian, o jogador encarregado de marcar a grande penalidade, falhava deliberadamente. 
     
    'Pa' Jackson escreveria mais tarde nas suas memórias: « (um jogador) devia ser alguém que aprendeu a controlar a sua raiva, a ser compreensível para os outros jogadores, colegas ou adversários, a nunca tirar nenhuma vantagem maliciosa, a considerar uma desonra a própria ideia de fazer batota (...)», recordando o espírito reinante no clube que ajudara a fundar. 
     
    Jackson era irredutível não só em relação ao espírito desportivo que esperava dos jogadores do seu clube, mas também na sua cruzada contra o profissionalismo. Uma luta em defesa dos valores do amadorismo, da defesa da honra e da competição desportiva que se movia por princípios sãos. 
     
    A recusa em competir

    O Fair Play era mais importante para os corinthians que o resultado. Como tal, declinaram participar, tanto na Liga como na Taça de Inglaterra, disputando apenas amigáveis, na maioria dos casos contra outros clubes londrinos.

    Uma das primeiras equipas do Corinthian FC, que mesmo recusando o profissionalismo e a competição oficial, bateu o Manchester United por 11x3.
    Os dirigentes, treinadores e atletas do clube defendiam que quando se participa na disputa de um troféu, o gosto pela participação no jogo perde o interesse, porque passa a dar-se mais importância à conquista do troféu, do que à participação no próprio jogo.

    O Corinthian competiu pela primeira vez em 1900, para participar na Sheriff of London Shield, mas fê-lo por motivos nobres, já que a competição servia uma obra de caridade. O Corinthian bateu o Aston Villa - que era então o campeão em título da Liga Inglesa - por 2x1, conquistando assim o seu primeiro troféu. Quatro anos depois, infligiu uma goleada ao Manchester United por 11 a 3, que mais de cem anos passados, continua a ser pior derrota da história mancuniana. 

    Apesar de não competir profissionalmente, a equipa do Corinthian era uma das mais fortes de Inglaterra, que poderia, caso competisse, conquistar a Taça de Inglaterra em diversas ocasiões, como tão bem comprovam a vitória sobre o Blackburn Rovers (8x1) em 1884, pouco tempo depois do Blackburn ter conquistado a Taça. Anos depois, em 1903, o Bury que havia esmagado o Derby County por 6x0 na final, saiu vergado a um pesado 10x3 às mãos dos corinthians....

    A envangelizar o mundo
     
    Mais do que em Inglaterra, seria no estrangeiro que a equipa londrina deixaria a sua marca. Com o sucesso das suas exibições e resultados, pela elevação dos seus jogadores e pelo espírito desportivo, o Corinthian foi convidado para fazer diversas tours pelo mundo. Jogaram na África do Sul, um pouco por toda a Europa, América do Norte e América do sul, ajudando a espalhar o espírito do Fair Play, pelos quatro cantos do mundo. 
     
    O nome e a fama do Corinthian correram o mundo, dando origem a Corinthian Bowl, uma competição disputada na Suécia em sua honra, assim como a fundação de um clube homónimo em Malta. Contudo, as grandes contribuições do Corinthian para história do futebol estariam em Espanha e no Brasil.
     
    Em Madrid, um grupo de jovens, maravilhado com o exemplo do Corinthian FC, resolveu criar um clube com um equipamento igual com camisola branca, escolhendo também o mesmo design para as letras no emblema. Nascia o Madrid Football Club, mais tarde conhecido mundialmente por Real Madrid.
     
    Os diversos jogos de exibição do Corinthian FC pelo mundo fora ajudaram a forma a lenda em volta do clube londrino.
    Já no Brasil, seria um grupo de jovens trabalhadores dos caminhos-de-ferro, que viviam no bairro do Bom Retiro em São Paulo, que depois de assistirem à última partida da tour que o Corinthian efetuou em terras brasileiras, resolveram criar um novo clube e chama-lo de Sport Club Corinthians Paulista.
     
    O fim de uma era e a fusão
     
    Depois da I Guerra Mundial e com o forte desenvolvimento do profissionalismo em Inglaterra, o Corinthian foi perdendo a sua importância, e a sua equipa começou a não ter o mesmo impacto de outras eras. A última tour seria à Alemanha e Dinamarca, onde só venceram dois jogos em seis, sofrendo a mais pesada derrota de sempre fora de portas, perdendo por 6x3 com o Kjøbenhavns Boldklub, o antepessado do atual FC København.
     
    Ao todo, mais de 100 internacionais que vestiram a camisola dos três leões, jogavam na altura, única ou parcialmente (3) pelo Corinthian FC. O último internacional inglês amador foi Bernard Joy, que jogou em 1937.
     
    Dois anos depois, meses antes do começo da II Guerra Mundial, o clube fundou-se com o The Casuals, para dar lugar ao Corinthian-Casuals FC. Efetuaram um jogo, mas com o deflagrar do conflito, só voltariam a jogar em 1945. 
     
    Desde então disputaram apenas jogos em ligas amadoras, disputando hoje em dia a Isthmian League, uma liga destinada a clubes semi-profissionais e amadores de Londres e do sul da Inglaterra. 
     
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    (1) - Na altura não existiam substituições.
    (2) - Ainda não existiam cartões, mas um árbitro podia dar ordem de expulsão a qualquer jogador em campo.
    (3) - A lei permitia que um jogador pudesse jogar ao mesmo tempo num clube profissional e num amador.
    Returning to the principles of ‘fair play’ that Corinthian kept intact, is remarkable that any time the opponent is forced to stay with a player less after a red card, Corinthian used to pull out a player from the pitch, in order to play with equal number of players!
     
    Also, Corinthian refused to score from the penalty spot, since they considered the penalty as one of the greatest injustices! Each time they won a penalty, their players deliberately shoot the ball out.
     
    They might have won the FA Cup many times if they had competed - for instance, shortly after Blackburn Rovers beat Queen's Park in the 1884 final, Corinthian beat Blackburn 8–1. Similarly, Corinthian had a 10–3 win over ten of the Bury side that beat Derby County 6–0 in the 1903 final.

    Comentários

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    motivo:
    Penaltis
    2020-03-31 22h13m por AvesSempre
    "Mais curioso era decisão dos corinthians se recusarem a apontar grandes penalidades, pois consideravam que o penálti era uma tremenda injustiça. Assim, sempre que um penálti era concedido ao Corinthian, o jogador encarregado de marcar a grande penalidade, falhava deliberadamente. "

    Finalmente vejo um excerto acerca disto e ainda para mais antigo (só podia). Defendo isso há imenso tempo, o penalti é uma falta injusta porque provém em grande maior parte de casos que não faze...ler comentário completo »
    PE
    fantastico
    2015-01-04 22h29m por PE17Aubameyang
    nao é preciso mais palavras fantastico
    Uma Lenda. . .
    2014-12-17 20h17m por xMiguelSLB
    Mais parece uma lenda . . .

    Grande clube na altura para alem de serem talentosos e grandes futebolistas gostavam sempre de jogar de forma equilibrada !! Incrivel como falhavam penalidades de propósito e de como retiravam 1 jogador depois de um adversário ser expulso, mesmo sendo a culpa de jogarem com menos um jogador do outro clube.

    Grande Clube . . . e não tenho mais palavras para o descrever !!
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