Nereo Rocco nasceu no bairro de San Giacomo em Trieste, porto italiano no Adriático, mas que a 20 de maio de 1912, data em que nasceu, pertencia ao Império Austro-Húngaro. Trieste era então o principal porto da marinha imperial austríaca e foi lá que o vienense Ludwig Rock se apaixonou por uma artista acrobata espanhola, desse amor escandaloso nasceria um filho, Giusto, que seria o pai de Nereo.
Em 1925, para continuar a trabalhar no porto, debaixo das novas leis do fascismo, o nome Rock tem de ser italianizado. Por um erro de registo, Rock não se transformou em Rocchi, mas sim em Rocco, e assim ficou.
Ainda pequeno, mudou-se com a família de San Giacomo para Rion del Re, um novo bairro que nascia por esses anos nas colinas a sudeste do centro histórico da cidade. Rion del Re seria o lar de Rocco para a vida inteira. Aí cresceu, aí casou e viveu com a mulher e os filhos.
A família Rock, dona de um açougue, vivia do fornecimento de carne e derivados aos navios que aportavam a Trieste. Nereo cresceu entre o negócio da família e a paixão pela bola. Bem perto da Strada di Rozzol nascia a Unione Sportiva Triestina, que fez do Campo de Montebello a sua casa, vizinhos de Nereo.
Sempre que a Triestina jogava em casa, Nereo assistia à partida, apaixonando-se pelo jogo e pelo clube da terra, onde começaria a sua carreira como centrocampista.
Jogador
Depois de três anos nas camadas jovens estreou-se na equipa principal da Triestina, clube onde atuaria durante sete épocas, tendo em 1934 sido chamado por Vittorio Pozzo para defrontar a Grécia no jogo de qualificação para o mundial de 1934 em que a Squadra Azzurra venceu por 4x0.
Após sete épocas, trocou a Triestina pelo Napoli, passando para o Padova já depois de ter começado a Segunda Guerra Mundial.
Em 1942 trocou Pádua pela sua Trieste natal, onde jogou no humilde 94º Reparto Trieste. A derrota da Itália na guerra com os aliados levou a que a metade norte do país ficasse debaixo da ocupação alemã. Durante esse período os campeonatos ficaram suspensos e só seriam retomados, uma vez terminado o conflito.
«Pendurou as botas» após uma última época (1946) no Libertas Trieste, iniciando a carreira de treinador na época seguinte, ao serviço da sua amada Triestina.
O reinventor
Não obstante os quase 300 jogos efetuados em onze presenças na Serie A e os 69 golos apontados, seria como treinador que Nereo Rocco se tornou num nome incontornável do calcio. Inspirado no «ferrolho suíço» de Karl Rappan, Rocco introduziu o libero no futebol italiano, reinventando a forma de jogar das equipas transalpinas. Nascia o catenaccio, que rapidamente se tornaria no estilo de jogo preferido italiano e que todo o mundo associa à Itália.
Trieste vivia momentos difíceis, com a cidade muito destruida. O clube descera de divisão, mas dado a pobre situação da cidade, as autoridades desportivas resolveram repescar a equipa à Serie A. Rocco pegou numa equipa, que à imagem da cidade estava destroçada, levando-a a um extraordinário segundo lugar, só sendo superada pelo «Grande Torino», que então dominava o panorama futebolístico italiano. A forma assertiva como lidava com os jogadores, valeu-lhe a alcunha de El Paròn, o que no dialético triestino significa «o chefe», ou «o mestre».
Durante as épocas seguintes manteve a Triestina no meio da tabela, tendo depois passado pelo Treviso, antes de voltar a Trieste. Deu o salto então para o recém promovido Padova, onde já jogara, que ajudou a chegar ao terceiro lugar logo na primeira época.
Seguiram-se épocas em que o Padova se manteve na primeira metade da tabela, tendo depois aceite o convite para orientar a seleção olímpica italiana nos Jogos de Roma (1960). A nazionale olimpica terminou no quarto lugar e Rocco era chamado para orientar o Milan
Conquistar a Itália e a Europa
Em Milão foi «chegar, ver e vencer», conquistando o Scudetto logo no ano de estreia. Mas o melhor estava para vir na época seguinte, com a conquista da Taça dos Campeões Europeus, em Wembley contra o poderoso Benfica de Eusébio, à época, bicampeão europeu.
Campeoníssimo mudou-se para Turim, onde esperava revitalizar o histórico Torino. Durante quatro épocas o Torino voltou a ficar na primeira metade da tabela, de que estava arredado desde o fim do «Grande Torino», conseguindo inclusive o terceiro lugar.
Desafiando a máxima de que não se volta a um lugar onde se foi feliz, Rocco regressou a San Siro em 1967/68, e tal como em 1961/62, chegou, viu e venceu, conquistando o scudetto e a Taça dos Vencedores das Taças. Na sua segunda época voltou a conquistar a Taça dos Campeões Europeus, repetindo o sucesso de 1962/63.
Nas épocas seguintes o clube rossonero não voltou a conseguir conquistar o título, terminando três vezes na segunda posição. Nas outras competições, Rocco guiou o Milan à vitória na Taça ##Intercontinental em 1969, venceu novamente a Taça dos Vencedores das Taças (1972/73) e conquistou ainda a Taça de Itália em três ocasiões.
Em 1973 abandonou o Milan, passou ainda pela Fiorentina e voltou a San Siro para um terceiro consulado que durou pouco mais de meio ano, pondo um ponto final da carreira e regressando a Trieste, onde viria a falecer a 20 de Fevereiro de 1979, contava 66 anos.