Derby Della Capitale: Roma x Lazio

Se há derbies e derbies, o dérbi da «Cidade Eterna» tem uma categoria à parte. Todos os anos, pelo menos em duas ocasiões todos os caminhos vão dar ao Foro Italico, zona a norte da cidade, junto às margens do Tibre, casa do famoso Estádio Olímpico, o palco do grande dérbi da capital italiana.

O dérbi romano tem uma característica rara em outros derbies famosos, pois ao contrário de muitas capitais e cidades da Europa com rivalidades intensas como Madrid, Lisboa, Glasgow ou Milão, na cidade de Roma só parece haver lugar para um clube. Os adeptos da Roma são citadinos e vivem no centro da cidade e nos seus bairros mais nobres, enquanto os laziale vivem nos arredores, mas principalmente na região do Lácio (Lazio em italiano), a província onde está localizada a cidade de Roma, daí a pejorativa alcunha de "borini" (camponeses) que recebem dos romanistas. 

Sendo assim, sempre que há dérbi os adeptos da Lazio têm de rumar à grande capital, e os adeptos da Roma não esquecem isso, brincando sempre com a proveniência dos tiffosi laziale, que são recebidos com mimos de "suburbanos", "provincianos" ou "campestres"...

Berço

A Lazio nasceu antes da Roma em 1900. O rival só surgiu em 1927 quando um destacado líder fascista, Italo Foschi, resolveu seguir o exemplo que se assistira em outras cidades de Itália como Nápoles e Florença e tentou fundir os principais clubes da capital para dotar Roma de um clube capaz de desafiar o poder das grandes equipas de Turim e Milão.

Desse processo de unificação ficou de fora a Lazio graças à intervenção de Giorgio Viccaro, outro destacado membro do Partido Fascista que seria presidente da Federação Italiana quando a Squadra Azzurra conquistou o bicampeonato mundial em 1934 e 1938.

Enquanto todos os clubes de Roma se uniam na nova equipa a Lazio parecia ficar fora da cidade onde nascera... Aos poucos a cidade apaixonava-se pelo novo clube e os adeptos da Lazio refugiavam-se fora da cidade. Desde então, um dos desígnios da Lazio é voltar a conquistar o coração da cidade em que nasceu. 

Simbologia

Mais antiga, e inspirada nas Olimpíadas de Atenas de 1896 a Lazio escolheu o azul da Grécia como a sua cor e optou pela águia, animal sagrado de Júpiter, o principal deus do panteão romano. A águia imperial romana seria mais tarde recuperada pelo movimento fascista italiano.

Por outro lado, a Roma escolheu o vermelho e o amarelo, respetivamente as cores da Roma Imperial e da Santa Sé, unindo no seu escudo o império terreno e o império celeste. Como símbolo os romanistas optaram pela Loba, o animal associado a Marte, o deus da guerra dos romanos, a amamentar os gémeos Rómulo e Remo.

A loba está associada ao mito fundador da cidade em 753 a.C., quando reza a lenda que Rómulo traçou com uma charrua de bois um sulco em volta do Palatino que marca a fundação da cidade. 

Ao apoderar-se dos símbolos e cores da cidade a Roma assenhoreou-se da mesma, deixando a Lazio como que órfã de berço. 

Política e racismo

Politicamente os dois clubes também se encontram em lados distantes da barricada. A Lazio há muito que é um clube com adeptos de direita. A sua claque há muito que está ligada a movimentos de extrema-direita. Paolo di Canio, um dos ídolos do clube e da sua massa associativa publicamente defendeu Benito Mussolini e o fascismo em diversas ocasiões.

Num famoso dérbi festejou o golo sobre a Roma fazendo a saudação fascista em direção aos adeptos giallorossi. Noutro dérbi que ficou na memória horrorizada dos adeptos de futebol numa gigantesca faixa levantada pelos adeptos da Lazio podia ler-se: «Auschwitz é a vossa terra, os fornos são as vossas casas».

O antissemitismo dos adeptos da Lazio sempre preocupou as autoridades, especialmente depois dos adeptos da Lazio terem utilizado cânticos anti-semitas em partidas com os ingleses do Tottenham nas competições europeias, clube famoso pelas suas ligações à comunidade judaica.

Para os adeptos mais radicais da Lazio a cor da pele também tem lugar na rivalidade entre os dois clubes. A Roma sempre teve mais jogadores de cor que a Lazio e os adeptos da Lazio lembram isso com cartazes e gritos de guerra como " Roma clube de pretos, apoiado por judeus".

"Roma black juden club" é outra tarja que recorrentemente apareceu entre a claque biancoceleste. O clube sempre se distanciou destas manifestações racistas, mas a verdade é que com o tempo os exemplos de racismo vão se sucedendo com assustadora regularidade. 

Por sua vez os tradicionais adeptos romanistas há muito que estão identificados com o centro-esquerda, separando-se assim não só da rival Lazio mas também do norte do país, normalmente mais associado à direita berlusconiana. Contudo, as principais claques da Roma não estão tão politicamente afastadas da Lazio como se podia julgar e muitos dos seus adeptos mais radicais também estão associados a movimentos de extrema-direita. Há quem diga que os radicais dos dois clubes odeiam ainda mais o governo (seja ele de centro-direita ou centro-esquerda) que os próprios adversários. Berlusconi e Prodi não teriam mais sorte que Totti ou Di Canio, se estes tivessem o azar de cair nas mãos da claque adversária. 

No campo

Os dois principais clubes da cidade não têm muitos adeptos fora de Roma e do Lácio, não podendo rivalizar com as massas associativas da Juventus, clube com adeptos por todo o país, o Milan e o Inter a norte e o Napoli a sul. 

Além de deterem menos adeptos que os rivais de outras cidades, também não contam com tantos títulos. Juntos, Roma e Lazio só contavam cinco títulos de campeão nacional em 2014, números verdadeiramente insignificantes quando comparados com Milan, Inter e Juventus. 

Portanto a rivalidade é uma questão interna que se decide normalmente nos dois encontros anuais e nesse departamento a Roma leva claramente a melhor, vencendo mais jogos que o adversário, conseguindo mais golos e goleadas, o que permite aos seus adeptos cantarem vitória sobre os rivais.