Braga e Guimarães, por intermédio do ##Sporting e do Vitória, vivem uma das mais apaixonadas e intensas rivalidades do futebol nacional. Uma rivalidade feroz que amiúde termina com vidros de autocarros partidos e acusações mutuas.
Bracarenses e vimaranenses não gostam uns dos outros. Uns são marroquinos, outros espanhóis, e para lá do outro lado da fronteira é terra inimiga.
Os braguistas mais ferrenhos gostam de exibir o passaporte nas portagens da auto-estrada quando chegam a Guimarães, havendo relatos de quem tenha jocosamente pedido tapas, tortillas e paellas nos restaurante locais aquando da visita à cidade em dia de jogo.
Do outro lado da Falperra vive-se com tanta ou mais intensidade. Os vimaranenses têm fama de amar o seu clube como mais ninguém, um amor profundo que fecha as portas da cidade aos emblemas dos três grandes, situação que não se repete em Braga, onde Benfica, Porto e Sporting sempre tiveram mais facilidade em conquistar corações.
Em Guimarães manda o Vitória e os seus adeptos enchem o Afonso Henriques, fazendo com que o clube seja normalmente o quarto com melhores assistências no país, logo atrás dos três do costume. Mais impressionantes serão os números dos adeptos que o Vitória leva aos diversos campos do país. Os vitorianos defendem que o amor em Guimarães é intenso e 100% branco.
A importância histórica e antiguidade de Braga fizeram da cidade dos Arcebispos o centro natural da região. Importante cidade romana (Bracara Augusta), capital de província, mais tarde capital do reino dos Suevos, Braga ombreava com Compostela e Toledo como os principais centros religiosos da Península. A sua Sé «fazia» lei no noroeste peninsular.
Perto de Braga, Guimarães nasceu no fim da Alta Idade Média, quando a Condessa Mumadona Dias mandou erigir um castelo na sua terra de Vimaranes. Seria em redor desta fortaleza que cresceu a localidade que no século XI recebeu o foral do Conde D. Henrique e se tornou a capital do Condado Portucalense, onde, em 1128, Afonso Henriques, o vencedor da Batalha de São Mamede, chamava a si o poder, abrindo o caminho para o nascimento de Portugal.
Ainda se pode ler na muralha do Castelo de Guimarães a célebre frase que ecoa na mente de todo o vimaranense: «Aqui nasceu Portugal». Cidade orgulhosa da sua história, Guimarães há muito deixou de ser a capital, mas os vimaranenses não esquecem que a sua cidade é o «berço» da nação.
O Arcebispo recorreu para Roma: D. Estêvão Soares queixou-se ao Papa Inocêncio III dos privilégios excessivos dos priores da Colegiada. A Concordata de 1216 dava razão ao Arcebispo e vexava os vimaranenses.
Tudo o que pudesse minar o poder do clero e da nobreza interessava aos reis de Portugal. D. Afonso II e D. Estêvão Soares desentendiam-se e, naturalmente, na questão da Colegiada to monarca, tomava partido por Guimarães.
A tensão cresceu e os burgueses e povo de Guimarães queimaram propriedades, matas e terrenos pertenças do metropolita. A questão entretanto resolveu-se e a tensão amainou... mas ficavam espalhadas as sementes de futuros ressentimentos.
Aos poucos, as janelas e varandas da cidade ficaram enfeitadas com bandeiras que louvavam a união ao Porto. Em Braga, reagia-se com "Morte a Guimarães". As posições extremaram-se tanto que Lisboa teve de intervir. Na «Cidade Berço» surgiam bandeiras azuis e brancas nas varandas com o dizer que fez história: «Antes quebrar que torcer».
Foram enviados pedidos à Rainha e ao Governo. Guimarães desanexou-se do Distrito de Braga perante os protestos dos bracarenses. O governo proclamou a desanexação administrativa a 17 de julho de 1885. Até ao fim da Monarquia (1910), o município de Guimarães ficava debaixo da alçada do Governo em Lisboa.
Outro dos pontos de polémica entre os dois clubes é a igreja de Santa Maria Madalena, uma jóia do Barroco Rococó construída na fronteira entre os dois concelhos, que ainda hoje é reclamada por ambas as cidades, se bem que a porta esteja orientada para a Cidade de Braga. O mesmo se passa com o Hotel da Falperra, em que a maior parte da unidade hoteleira se encontra já nos limites do município vimaranense.
Outra parte fulcral do folclore entre braguistas e vitorianos prende-se com as alcunhas de marroquinos e espanhóis.
Tudo começou quando os adeptos do Vitória se sentiram lesados com as arbitragens no campeonato e, no fim de um jogo, atacaram o carro do juiz da partida. O clube foi castigado e obrigado a jogar em casa emprestada. Na bancada podia ler-se num cartaz: «Para sermos tratados assim, mais vale sermos espanhóis». A palavra de ordem pegou e em Braga os vitorianos passaram a ser espanhóis.
A resposta não demorou e os de Braga passaram a ser marroquinos, se bem que a razão para tal nome não esteja bem explicada e haja um conjunto de versões diferentes para o sucedido.
A rivalidade entre SC Braga e Vitória (de Guimarães) é uma das mais intensas do futebol luso. O Vitória conta com mais presenças na primeira divisão, logo atrás dos três grandes e Belenenses, mas o Braga pode gabar-se de atualmente ser, a seguir aos três habituais, o clube português com mais presenças consecutivas na Primeira Divisão.
No que toca a lugares no pódio, o Vitória volta a levar vantagem (quatro contra dois, contagem em 2019), mas o SC Braga conseguiu um Vice-Campeonato, já o Vitória nunca foi além do terceiro lugar.
Relativamente a troféus nacionais, o Braga conta com duas Taças de Portugal e duas Taças da Liga, ao passo que o Vitória responde com uma Taça de Portugal e uma Supertaça Cândido Oliveira.
Na Liga dos Campeões, coube aos vimaranenses serem os primeiros a competir na prova, caindo na pré-eliminatória. Anos mais tarde, o Braga chegou por duas vezes à fase de grupos, superando o vizinho.