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    O meu mundo aos quadrados
    José Pedro Pais
    2018/04/13
    "O meu mundo aos quadrados” é uma coluna de opinião que pretende fugir ao império comunicacional dos três grandes, sob a perspetiva de um adepto do futebol pela positiva, profissional e transparente, que por acaso é boavisteiro.

    Foi publicado, no início do ano, pela UEFA, um relatório que analisa a evolução das competições de clubes em toda a Europa.

    Surpreendentemente, num país onde se fala sobre futebol 24 horas por dia e onde existe espaço para diferentes programas diários futebolísticos nos três canais noticiosos, NINGUÉM se deu ao trabalho de o analisar e de reflectir sobre ele.

    É muito mais importante discutir arbitragens, e-mails, insultos, entre outros, do que discutir os verdadeiros problemas estruturais do futebol português.

    A lógica é simples: não se discutem os verdadeiros problemas do futebol português porque essa discussão não interessa aos “três grandes” e, em especial, aos seus dirigentes.

    O dirigismo do futebol português é, regra geral, fraco e tem uma estranha dependência política. Só tal facto justifica que os principais presidentes falem tanto, para justificarem os seus insucessos atacando os seus rivais. Este tipo de comunicação não tem paralelo em toda a Europa.

    Porque não interessa então a discussão aos “três grandes”?!

    Ao longo do extenso relatório vêm evidenciados diversos indicadores que apontam para um assombroso atraso no crescimento económico do futebol português quando comparado com o resto da Europa.

    Desde os contratos de patrocínio, passando pelas assistências, redes sociais, investidores até às receitas ordinárias, estamos a perder a toda a escala para as restantes ligas europeias. E desengane-se o leitor se pensa que apenas me refiro aos 5 principais campeonatos europeus, porque países como a Holanda, a Bélgica, a Suíça, a Rússia e a Turquia já estão claramente à nossa frente em todos estes indicadores, e a tendência é que outros países (completamente desprovidos de uma cultura futebolística) também acabem por nos ultrapassar num breve período.

    O que tem então feito com que Portugal ainda ocupe o 7º lugar, apesar de até há pouco tempo ter ocupado o 5º lugar do ranking europeu de clubes?

    Também é observável no relatório:

    Portugal é, de longe, o país com melhor saldo de transferências do mercado de verão (+231M€), resultado de uma extraordinária capacidade de formação, aproveitada - e de que maneira - pelo maior agente do Mundo, Jorge Mendes.

    A Gestifute é responsável por 6% de todo o valor transaccionado no mercado mundial de futebol e boa parte desse valor são exportações do futebol português.

    Tem sido este o factor determinante que tem feito com que Benfica, Porto e Sporting tenham conseguido, ao longos dos últimos anos, ter prestações europeias superiores à sua capacidade económica comparativa (excepção feita ao Benfica na presente temporada).

    É então que chegamos ao tema mais indecoroso, e que permanece um tabu em Portugal:

    A centralização e distribuição dos direitos televisivos

    Portugal é o ÚNICO país das principais ligas europeias que não tem os seus direitos centralizados e é o país com maior assimetria na distribuição dos direitos televisivos.

    Há 19 (!) países na Europa onde a diferença de direitos televisivos entre o primeiro e o último classificado é menor do que em Portugal e, mesmo assim, nós temos três vezes mais (!!) do que o “penúltimo classificado”.

    A diferença de direitos televisivos entre o primeiro e o último classificados da Áustria e da Inglaterra, a título de exemplo, é de 1,2xs e 1,3xs, respectivamente, enquanto o Chipre (19º lugar imediatamente antes de Portugal) tem uma diferença de 4,7xs.

    Portugal tem uma diferença de 14,9xs.

    Palavras para quê?

    Mais grave ainda fica quando comparamos com os dados de 2010 e percebemos que já na altura tínhamos uma diferença de 5,7xs e que quase que a triplicamos em apenas 6 anos.

    É este o verdadeiro cancro do futebol português: a cegueira do dirigismo dos três grandes, movida pela necessidade de enriquecer um palmarés à base de títulos internos, para sustentabilidade dos seus próprios cargos.

    Álvaro Cunhal uma vez disse:
    “A construção de um Portugal democrático será gravemente limitada ou mesmo impedida se os monopólios estrangeiros continuarem a ser reis e senhores de Portugal.
    A construção de um regime democrático deve significar a libertação do imperialismo estrangeiro e a conquista da real independência nacional.”

    Deve ser esta a cola que une o G15 e, a sua principal bandeira, a centralização dos direitos televisivos.

    Está na hora.



    Comentários (21)
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    motivo:
    @rmrfernandes
    2018-05-28 23h13m por Haubert
    Colunistas. . . Parvo é quem não aprende e não os ignora logo à partida. Aqueles que realmente possuem pedigree do mais alto grau a nível mundial e conseguem ser respeitados no universo jornalístico entre colegas e leitores contam-se pelos dedos. A responsabilidade deve ser apontada aos editores, não ao escritor que apenas faz o que lhe é pedido.
    Manita
    2018-04-28 16h43m por rmrfernandes
    demagogo: o que excita as paixões populares

    O artigo usa 1 gráfico para justificar a "pouca vergonha" dos direitos televisivos, o outro facto utilizado é o saldo de transferências que permite os 3 grandes serem competitivos na Europa (o que não é essencial para discutir os direitos televisivos). No entanto usa mais pontos de exclamação para acentuar a "pouca vergonha" do que observações (factuais ou conjecturais) sobre os fatores que causam a dita.

    Querer discuti...ler comentário completo »
    Pouca vergonha é pouco
    2018-04-22 04h25m por Triper
    Quando a Troika veio uma das regras que impôs foi a dos partidos passarem a ser associações e aquilo caiu tão mal que tentaram ocultar a informação de toda a maneira. Com os clubes é igual, quiseram colocar os direitos na Liga e houve gente que procurou fugir para ocultar que vivia com o lucro pedido adiantado dos mesmos. Um dos presidentes, ao ver isto acontecer, pensou que estava a ser esperto ao adiantar-se ao resto e negociar os direitos com os mesmos do fura-bolos mas no fim acabou por...ler comentário completo »
    Demagogia
    2018-04-21 18h08m por Manita
    é, dito de forma simplista, prometer o que não se pretende ou pode sequer garantir que se vá cumprir; não vejo onde o artigo pretende ser demagogo, apenas apresenta factos e interpreta-os.
    Já acreditar em promessas de presidentes, de que irão levar os seus clubes a serem campeões em futebol e em todas as modalidades onde competem, isso já me soa mais a demagogia. . .

    SA
    Centralizem. . . mas a sério.
    2018-04-21 12h31m por sant
    A discussão fa centralizacao dos direitos televisivos este sempre inquinada desde o início.
    Os clubes não discutiram de forma independente. Foram sempre influenciados por uma empresa que quer ter o monopólio.
    Os clubes tem que decidir entre si, antes de negociarem com quer que seja.
    Quando se admite que a Olivedesportos/PPTV/SportTv influencie a discussão, então não estamos a falar de centralização mas sim de monopolização.
    Artigo demagogo
    2018-04-16 03h14m por rmrfernandes
    No dia em que Portugal fizer uma gestão centralizada dos dinheiros de TV, será o dia em que passamos de 7º para 17º no dito ranking, a manter o modelo competitivo atualmente em vigor, e pressupondo que o rendimento médio não escala para a dimensão de Espanha, Itália ou Alemanha. . .

    O argumento de que se fala muito de futebol neste país é falso. Aliás, digo, e pode-se comprovar, que os portugueses nem sequer gostam de futebol na sua maioria, basta ver quantos vão ao está...ler comentário completo »
    Verdades inconvenientes
    2018-04-15 16h20m por Manita
    não são assunto de interesse aos pseudo dirigentes do futebol português, nem tão pouco aos muitos membros dos muitos programas onde se incendeia o futebol português; os pseudo dirigentes dos três ditos grandes têm receio de que com as mesmas armas os ditos pequenos venham a demonstrar mais facilmente as suas incompetências, pois que já sem as mesmas armas financeiras, conseguiu o Boavista ser campeão o que seria se tivesse armas iguais, apenas as finaceiras, pois que a massa adepta e as out...ler comentário completo »
    E-azia
    2018-04-14 20h21m por amexia
    Caros consórcios do desporto, se acham que o SLB tira dividendos dos seus jogos em casa para, além dos financeiros, então façam um baixo assinado para que o vosso clube passe também a transmitir os jogos.
    os factos e as evidências estão à vista de todos, os relatórios e contas, as vendas, os lucros, os prejuízos, os calotes, as dívidas fantasmas que surgem do nada. . . Mas vocês insistem em emails que ainda não mostraram NADA.
    Conseguem naquilo que se pretende um diálog...ler comentário completo »
    Aleluia
    2018-04-14 18h40m por CostaTripeiro
    Aleluia! Finalmente trazem este assunto à baila! E os dados são sem dúvida elucidativos da pouca vergonha que se passa em Portugal!
    Quando me lembro do discurso do LFV a dizer que a BTV ia passar a transmitir os jogos do Benfica, como se tivesse todo o direito de o fazer e o tivessem andado a roubar toda a vida, ainda hoje fico palerma com aquilo.
    Mas mais palerma fico, pela dificuldade em perceber como é que não houve um único dirigente em Portugal (nem o PdC!, mas esse deve ...ler comentário completo »
    Pois . . .
    2018-04-13 23h20m por bludouro
    Álvaro Cunhal para muitos deve ser um sábio, mas para outros não passa dum sonhador. Mesmo a democracia portuguesa tem um preço: basta perguntar a Troika, Eurogrupo e o FMI. A minha doutrina é de pagar a César o que é de César - isso é uma obrigação. Já o pagamento das mensalidades da SporTV - para sustentar monopólios imperialistas como a Premier League ou La Liga - isso não passa de um opção!
    Caso Tondela
    2018-04-13 19h56m por gattuso_v2
    Quando um clube tem no estádio mais cadeiras que habitantes na localidade fica dificil encher os estádios deste pais, mesmo sabendo que existem localidades com muitos habitantes e com os clubes na lama também
    Um dos problemas aqui, e eu conheço algumas pessoas assim, é que reclamam que os preços dos bilhetes de um Portimonense ou de um Chaves são muito caros mas depois gastam quase 100€ para ir ver um grande o que também não faz muito sentido
    Mas
    2018-04-13 18h24m por gon00
    a questão dos adeptos é fundamental, porque o futebol é um negócio, e se não tens adeptos é uma fonte de receita que se perde, um cliente que não existe, um produto que não se vende.

    Qual seria o resultado se os 3 grandes dissessem que davam os direitos televisivos a troco de uma redução de 18 para 10 ou 12 clubes?
    . . . Acabava logo o G15.

    Eu sou a favor de direitos centralizados, que os direitos deveriam ser da liga e que ela distribuisse como bem en...ler comentário completo »
    Os E-mails
    2018-04-13 18h02m por FinalFantasy
    E corrupção estão inerentes, e directamente ligados, ao mau dirigismo ( e não falo apenas de dirigismo de clubes, mas também de Liga e Federação.

    Portanto, sim, é importante falar nisso ( ainda por cima quando se fala pouco e se abafa, dando mais voz a cartilhas, e isso é culpa " vossa ", da Imprensa, da Comunicação Social e. . . . das próprias televiões/canais, que ironia )

    Este sim, o " cancro ".

    O problema é esse mesmo, não se fala d...ler comentário completo »
    DA
    Adeptos
    2018-04-13 16h40m por daniel07
    Sempre alguém a referir a questão do monopólio de adeptos dos 3.
    Referem as fracas assistências, mas se os direitos fossem mais divididos, conseguiam contratar melhor, havia uma melhoria na qualidade de jogo, atraia mais gente aos estádios, as empresas investiam, não saiam jogadores para Chipre e Grécia.
    Depois à aquela gente que não apoia o clube da terra porque não jogam nada, mas se fossem ver, talvez o clube pode-se ter melhores condições para contratar.
    Tanta...ler comentário completo »
    Parabéns
    2018-04-13 16h31m por amexia
    Antes de mais, parabéns pelo artigo.
    Em segundo lugar frisar que todas as equipas são importantes, desportivamente falando mas não o são financeiramente. Há também que atender que, infelizmente, a grande maioria dos adeptos concentram-se em três clubes.
    A minha opinião é a seguinte, logicamente vale o que vale, atendendo que só acompanho a nossa liga, a espanhola e a inglesa:
    Temos 18 clubes, as assistências por jornada rondam os 110000 (se dois dos grandes jog...ler comentário completo »
    ZZ - ZERO ZERO
    2018-04-13 16h16m por toysrus
    Podiam escrever uma notícia com o que vai suceder na próxima época. . .

    Equipas B e Sub-23
    SP
    falta um "pormenor"
    2018-04-13 16h04m por sprting_sempre
    Falta só dizer que este problema, não há muito tempo, levou a um acordo entre os clubes para a sua solução - os grandes não fariam negócio por si, mas em conjunto com toda a liga. Mas um clube furou o acordo, e como é evidente os outros não iam ser ingénuos e ser comidos de cebolada. . . Aliás, este problema e medidas para a sua resolução têm sido REPETIDAMENTE apontados por pelo menos um presidente de clube, desses que acusa o autor generalizando.
    IS
    G15 que mostre a força e dinamize
    2018-04-13 14h56m por Isentoqb
    Está visto que quer da Liga de Clubes e muito menos dos três do costume se vai tocar neste tema, resta por isso que seja o G15. O G15 deverá ser o impulsionador do movimento da centralização dos direitos para bem do crescimento do futebol português. Convidem a juntar-se os três do costume e como se prevê a recusa, avancem com valores que tenham de ser muito superiores à soma dos três de forma a provar que o futebol só existe com os restantes clubes.
    Tudo dito
    2018-04-13 14h07m por DragonKing
    Excelente artigo!!!
    "O dirigismo do futebol português é, regra geral, fraco e tem uma estranha dependência política. "
    Tudo muito bonito
    2018-04-13 13h51m por gon00
    Mas discutir os direitos televisivos sem discutir o resto não vai ao fundo da questão que é:
    Em mais nenhum lado da europa num campeonato a 18 ou num país inteiro, converge 99% dos adeptos a 3 clubes nacionais.
    E o cerne da questão é este mesmo. Onde é que vamos comparar esta particularidade a outro campeonato europeu de renome?
    Qual outro campeonato, os dito pequenos tem tão poucos adeptos, movimentem tão pouco associativismo?
    Isto acaba por ser uma questão cult...ler comentário completo »
    José Pedro Pais
    2018-04-13 13h40m por Somos_Benfica2
    Concordo com o texto, mas não entendo o porquê da citação de Álvaro Cunhal. Estamos a falar das assimetrias orçamentais entre clubes portugueses, não de monopólios estrangeiros.

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