Foi publicado, no início do ano, pela UEFA, um relatório que analisa a evolução das competições de clubes em toda a Europa.
Surpreendentemente, num país onde se fala sobre futebol 24 horas por dia e onde existe espaço para diferentes programas diários futebolísticos nos três canais noticiosos, NINGUÉM se deu ao trabalho de o analisar e de reflectir sobre ele.
É muito mais importante discutir arbitragens, e-mails, insultos, entre outros, do que discutir os verdadeiros problemas estruturais do futebol português.
A lógica é simples: não se discutem os verdadeiros problemas do futebol português porque essa discussão não interessa aos “três grandes” e, em especial, aos seus dirigentes.
O dirigismo do futebol português é, regra geral, fraco e tem uma estranha dependência política. Só tal facto justifica que os principais presidentes falem tanto, para justificarem os seus insucessos atacando os seus rivais. Este tipo de comunicação não tem paralelo em toda a Europa.
Porque não interessa então a discussão aos “três grandes”?!
Ao longo do extenso relatório vêm evidenciados diversos indicadores que apontam para um assombroso atraso no crescimento económico do futebol português quando comparado com o resto da Europa.
Desde os contratos de patrocínio, passando pelas assistências, redes sociais, investidores até às receitas ordinárias, estamos a perder a toda a escala para as restantes ligas europeias. E desengane-se o leitor se pensa que apenas me refiro aos 5 principais campeonatos europeus, porque países como a Holanda, a Bélgica, a Suíça, a Rússia e a Turquia já estão claramente à nossa frente em todos estes indicadores, e a tendência é que outros países (completamente desprovidos de uma cultura futebolística) também acabem por nos ultrapassar num breve período.
O que tem então feito com que Portugal ainda ocupe o 7º lugar, apesar de até há pouco tempo ter ocupado o 5º lugar do ranking europeu de clubes?
Também é observável no relatório:
Portugal é, de longe, o país com melhor saldo de transferências do mercado de verão (+231M€), resultado de uma extraordinária capacidade de formação, aproveitada - e de que maneira - pelo maior agente do Mundo, Jorge Mendes.
A Gestifute é responsável por 6% de todo o valor transaccionado no mercado mundial de futebol e boa parte desse valor são exportações do futebol português.
Tem sido este o factor determinante que tem feito com que Benfica, Porto e Sporting tenham conseguido, ao longos dos últimos anos, ter prestações europeias superiores à sua capacidade económica comparativa (excepção feita ao Benfica na presente temporada).
É então que chegamos ao tema mais indecoroso, e que permanece um tabu em Portugal:
A centralização e distribuição dos direitos televisivos
Portugal é o ÚNICO país das principais ligas europeias que não tem os seus direitos centralizados e é o país com maior assimetria na distribuição dos direitos televisivos.
Há 19 (!) países na Europa onde a diferença de direitos televisivos entre o primeiro e o último classificado é menor do que em Portugal e, mesmo assim, nós temos três vezes mais (!!) do que o “penúltimo classificado”.
A diferença de direitos televisivos entre o primeiro e o último classificados da Áustria e da Inglaterra, a título de exemplo, é de 1,2xs e 1,3xs, respectivamente, enquanto o Chipre (19º lugar imediatamente antes de Portugal) tem uma diferença de 4,7xs.
Portugal tem uma diferença de 14,9xs.
Palavras para quê?
Mais grave ainda fica quando comparamos com os dados de 2010 e percebemos que já na altura tínhamos uma diferença de 5,7xs e que quase que a triplicamos em apenas 6 anos.
É este o verdadeiro cancro do futebol português: a cegueira do dirigismo dos três grandes, movida pela necessidade de enriquecer um palmarés à base de títulos internos, para sustentabilidade dos seus próprios cargos.
Álvaro Cunhal uma vez disse:
“A construção de um Portugal democrático será gravemente limitada ou mesmo impedida se os monopólios estrangeiros continuarem a ser reis e senhores de Portugal.
A construção de um regime democrático deve significar a libertação do imperialismo estrangeiro e a conquista da real independência nacional.”
Deve ser esta a cola que une o G15 e, a sua principal bandeira, a centralização dos direitos televisivos.
Está na hora.