No maior derby do futebol português foi possível constatar um facto pouco refutável (na minha opinião).
Por vezes, tendemos a confundir possibilidades com probabilidades. No Futebol, como em tantas outras modalidades desportivas, tudo é possível. Mas e provável? Tudo é tão provável como possível? Na minha opinião, o derby tentou responder a esta eterna questão.
Desde há muito tempo que tenho vindo a ouvir uma afirmação que me inquieta. Dizem que:
«Para se realizar um bom ataque posicional (que permita determinada equipa ir progredindo no terreno de jogo, com bola, procurando conquistar espaços, atraindo adversários para libertar colegas, superando linhas de pressão do adversário, atraindo adversários a um corredor e causar dano pelo outro, conseguindo estabilizar a equipa com bola no meio campo adversário que, estando tão juntos, poderão mais facilmente conquistar a posse de bola, procurando constantemente o 3º homem, o homem livre e um sem fim de dinâmicas, é preciso ter um conjunto de jogadores de elevadíssima capacidade técnica».
Como tal, a opção por esse tipo de jogo é preterida pela maior parte dos técnicos, pois dizem que «é um jogo de difícil execução e que envolve muitos riscos».
Na minha opinião, andamos há muito tempo a confundir possibilidades com probabilidades. E o prezado técnico do Atlético Nacional da Colômbia, Juan Manuel Lillo, esclarece este assunto de forma espetacular:
«Mas então optar por uma organização defensiva bastante compacta, procurando manter as linhas tão próximas quanto possíveis, na tentativa de recuperar a posse da bola, para rapidamente através de 2/3 jogadores sair em contra-ataque, onde o critério tem que ser bastante apurado e onde os movimentos desses 2/3 homens têm que ser precisos, caso pretendam ter sucesso no contra-ataque, já não é necessário ter jogadores de elevadíssima capacidade técnica? O central, que tem que enviar uma bola precisa para a cabeça do avançado que, por sua vez, joga de frente com o médio ofensivo - de frente para o jogo - para este último tentar passes de rutura para os extremos em velocidade, já não necessitam de grande capacidade técnica? Já qualquer um faz isso? Optar pelo contra-ataque e/ou pela construção recorrendo constantemente à bola longa, cujo objetivo é criar desequilíbrios através de 2/3 homens lá na frente, não é tão difícil quanto construir um bom ataque posicional?».
De facto, tenho ouvido dizer que é bem mais possível realizar a segunda opção do que a primeira. E eu, ainda hoje, não consigo entender. Então não são precisos bons centrais para enviar boas bolas longas para o avançado? Não é preciso ter um bom avançado que saiba jogar de costas para o jogo e fazer uso das suas qualidades físicas e técnicas para poder deixar a bola jogável? O médio ofensivo (ou outro qualquer) não precisa de ter uma excelente capacidade técnica para colocar a bola no único espaço possível para continuar o desequilíbrio ofensivo?
Daí a minha grande convicção: tenho a certeza que ambos os estilos são possíveis (um não é mais do que o outro). Mas a diferença está aqui: e qual é mais provável? Qual é aquele que me permite estar mais próximo de procurar vencer o jogo? Na minha opinião é o ataque posicional. A não ser que no segundo estilo abordado tenhamos, como refere Juan Manuel Lillo, o Maradona de central, o Maradona de Avançado, o Maradona de Médio Ofensivo e o Maradona de Extremo. Aí tenho a plena certeza que para além de ser tão possível como o primeiro, é muito mais provável que me dê a vitória do que o ataque posicional. Mas como não existe esse cenário ideal, continuarei a achar que ambos os estilos são perfeitamente possíveis e cada um é livre de escolher o que bem entender. Porém, considero que aquele que permite aumentar a probabilidade de vencer o jogo é o ataque posicional. E o derby da passada quarta-feira vem, na minha opinião, dar ainda mais força a tudo aquilo que acabei de escrever.
No vídeo 1, o Sporting Clube de Portugal, com menos bola, mais na procura do contra-ataque (estilo possível) e, na minha opinião, sempre cada vez menos próximo vencer o jogo (menor probabilidade).
Sporting no Derby from Nelson Duarte on Vimeo.
No vídeo 2, o Sport Lisboa e Benfica com mais bola, na tal procura do ataque posicional (estilo possível) e, na minha opinião, sempre mais próximo de marcar e de vencer o jogo (o ataque posicional procura aumentar, através do treino, a probabilidade de vencer o jogo). Analisar o minuto 87’ - Benfica a perder 1-0. Ao minuto 87’ o Benfica sai a jogar curto, em ataque posicional, superando linhas do adversário, através de homens livres, e rapidamente chega a zonas de finalização, o que deu origem ao penálti do empate.
Benfica no Derby from Nelson Duarte on Vimeo.
Existirão muitas equipas que, a perder ao minuto 87’, procurariam sair a jogar através de ataque posicional? Não sei a resposta à pergunta, mas sei que, certamente, aumentariam as suas probabilidades de vencer o jogo/marcar um golo.