Opiniões

Este artigo tem tudo para ser muito vago e subjetivo. Este artigo é tudo menos intemporal: pode já não fazer sentido em janeiro, em março ou em julho (mas também pode). Este artigo é parcial, porque o seu autor se rendeu, talvez em demasia, a um jogador que transporta consigo uma fibra singular.

Comecemos pelo princípio. No arranque da sua terceira temporada de FC Porto, Danilo não estava bem. A forma de carburar imposta por Conceição rompia com a dos antecessores, a presença nas Confederações atrasou o começo dos trabalhos do médio e, quando a época começou, Danilo era dos jogadores em pior forma, permitindo muitas vezes que o jogo do FC Porto se partisse e pecando com veemência no simples ato do passe curto.

Mas Sérgio nunca abdicou do internacional português. Não tinha muitas soluções, é verdade, se bem que a questão é outra. É alma. Se há pessoa que consegue compreender esse lado emocional, que mistura uma vertente selvagem com uma ação destemida, esse alguém é Sérgio Conceição. Ao invés, deu-lhe um Herrera muito mais cerebral e posicional para equilibrar a equipa e, ao mesmo tempo, para soltar o que de melhor há em Danilo.

Quatro meses passaram. Hoje, Danilo é o grande pulmão da equipa. Um médio defensivo que abarca tudo o que de bom pode ter. E basta ver este jogo da Taça com o Vitória SC para entender isso. Em Danilo vive o grito do treinador, vive o sangue quente do adepto, vive uma sede descontrolada de ganhar, vive uma ambição desmedida, mas perfeitamente ciente. Não é por acaso que Danilo já tem quatro golos - e podia perfeitamente ter o dobro. Não é por acaso que é assistente de vários lances à entrada da área, onde cada vez mais aparece. Não é, também, por acaso que é o único dos candidatos ao título que já preencheu uma série de cinco amarelos no campeonato - faz parte do seu jogo de entrega e risco.

Atualmente, não considero que Danilo seja o jogador mais importante do FC Porto. Danilo é o jogador mais determinante em Portugal. Só Jonas está lá pert(íssim)o. Há mais classe no brasileiro, como há mais virtuosismo em Brahimi ou Ruben Ribeiro, como há mais perícia no cruzamento de Alex Telles, ou no lado fatal de Bas Dost, ou no remate de Bruno Fernandes. Só que não há quem consiga aglomerar a pujança faminta e insaciável do médio portista. Danilo é, no melhor dos sentidos, um verdadeiro animal em campo. E não há quem, pelo exemplo de suor de qualidade, o suplante, naquela postura sucessiva de se dar a cada jogo como se de uma final se tratasse, numa encarnação de adepto que a plateia tanto gosta de apelidar de “jogador à Porto”.

Numa altura em que tanto de fala em polvos, o molusco portista dentro de campo está cada vez mais completo e desconfio que, por esta altura, podem tirar qualquer um a Sérgio Conceição... menos Danilo Pereira.

Ah, mas o engraçado de tudo isto é que Danilo continua a não caber no onze de Fernando Santos. Incompreensível? Nada disso. Continuo a entender perfeitamente que o estilo de William se coaduna um pouco mais com a matriz da seleção nacional, sem tanta verticalidade e com um futebol muito mais rendilhado. Mas olhar com redobrado atenção para as valias de Danilo que aqui se falou é obrigatório.