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    Na Minha Secreta Área
    Luís Rocha Rodrigues
    2017/10/02
    E2
    O Na Minha Secreta Área é um espaço de opinião do jornalista Luís Rocha Rodrigues. Nas gavetas, há sempre um bloco de notas e uma caneta para se anotar o futebol.

    Hoje seria dia para se falar do clássico. Ou para mais uma análise ao momento do Benfica. Mas prefiro deixá-lo para outros. Não que não seja pertinente. São os temas mais mediáticos e de certeza que teriam muito mais procura do que este. Só que este mexeu um pouco mais comigo nos tempos mais recentes, exercendo a profissão de jornalista. É, aviso desde já, um assunto relativo à comunicação, posturas e formas de estar.

    Falo de Nuno Manta Santos. E não o faço por acaso. Este é o período mais negro da sua passagem pelo Feirense como treinador da equipa principal, com quatro derrotas seguidas. Longe (?) vão os tempos de sucesso da época passada, embora não assim tão distantes (basta lembrar que, à quarta jornada, a equipa tinha oito pontos). O que mudou? Visto de fora, muito pouco. Porque a procura de jogar bem continua lá, embora a execução não esteja a ser a mesma.

    Recentemente, pude estar no Feirense x Belenenses e, agora, no Boavista x Feirense.

    Em ambos, o Feirense perdeu. Em ambos, pude estar mais próximo do assunto que aqui trago. Não conhecia Nuno Manta Santos (e agora também não o conheço), mas pude apreciar a sua personalidade. Em ambas as derrotas, visivelmente abatido, não deixou de correr a sala de imprensa no fim da conferência, cumprimentar os profissionais da comunicação um a um e, pasme-se!... trocar impressões. "Anda a faltar-nos isto", "Achava que aquele jogador ia fazer aquilo", "Fizemos o mesmo que da outra vez". Não interessam nomes, interessa postura e proximidade. Momentos que eram hábito nas décadas anteriores e que agora são um oásis no deserto comunicacional direto em que o futebol vive.

    Que vantagem têm os jornalistas em trocar impressões com os treinadores? Estará a perguntar o caro leitor. A resposta é clara: TODA, sendo aplicada depois na mensagem ao leitor. O jornalista é o mensageiro (por mais que às vezes se experimentem outros campos) e quanto mais próximo for o contacto com os verdadeiros agentes do jogo, maior o benefício na mensagem para o público, no fundo, quem consome o produto. Pois quem interessa (ou deve interessar) ao público são os intervenientes do jogo, os que estão no relvado e no banco.

    Em ambos os casos, Nuno Manta Santos explicou o seu ponto de vista, com muito mais proximidade em off do que em on (o que é normal). E as suas opções/visões foram apreendidas com uma eficácia totalmente diferente. Livra-se da crítica? Claro que não. Mas cria um canal explicativo muito mais frontal e honesto. Quem dera a muitos poder ter este canal nesta altura para que fossem explicadas algumas decisões...

    Dou um exemplo prático, para que se possa entender um pouco mais. Há uns anos, um treinador assumiu um dos candidatos ao título. No final do seu primeiro jogo oficial, que ganhou, falou aos jornalistas e depois correu a sala na tal postura de cumprimentar um a um. Foi a primeira e última vez que o fez na passagem pelo clube. Porquê? Podemos todos calcular. E não foi esse fechar em copas que lhe terão sugerido que o fez ganhar alguma coisa...

    Neste caso, com Nuno, a derrota não lhe mudou a postura, nem qualquer ideia da nova peregrina assessoria que se instalou no país. Nuno é livre de se manter fiel à sua postura. Tal como o faz com a sua equipa, constantemente imbuída num espírito de futebol bonito e envolvente. Não têm sido tempos fáceis, mas não me parece que isso mude as ideias de alguém tão vincado nos princípios.

    Que assim seja. Nuno Manta Santos tem a minha admiração pela forma de estar. Sim, os jornalistas têm preferências, como qualquer pessoa. E têm também de manter a capacidade de análise fria e sóbria. Por isso, se for preciso, estarei na linha da frente para rasgar Nuno Manta Santos no futuro. Depois posso eventualmente explicar-lhe as razões, numa boa conversa pós-conferência.



    Comentários

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    motivo:
    Luís Rocha Rodrigues
    2017-10-02 17h06m por St4yW1th_BMaia
    Grande grande grande artigo!

    E grande Nuno Manta também!

    Parabéns aos dois.

    Um abraço!
    LRR
    2017-10-02 16h36m por antoniocarvalho
    Parabéns pelo seu artigo. Mas por favor, quando for para "rasgar" Nuno Manta Santos, tente não o magoar muito, porque ele é bom homem.

    Cumprimentos!

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